O professor de sociologia do Instituto Federal de Educação da Bahia
Leonardo Rangel processou a Livraria Vozes, no Rio de Janeiro, e uma
cliente do estabelecimento por intolerância religiosa que sofreu dentro
da livraria, na Rua Gonçalves Dias, no centro, na sexta-feira, 2/12.
Em viagem a trabalho na capital fluminense, o professor
baiano lamentou ter sido vítima desse tipo de crime em uma cidade que
considera a "mais linda do mundo, com pessoas hospitaleiras e
acolhedoras". Rangel contou que estava na livraria quando uma senhora
começou a agredi-lo ao descobrir que era candomblecista.
"Quando viu minha conta de Ogum no pescoço, ela disse cruz-credo e saiu
de perto de mim. Mas continuou falando por uns dez minutos que esta
religião não prestava, que era coisa do diabo", contou ele.
Nunca tinha sofrido esse tipo de preconceito. Mas fiquei quieto
esperando para pagar o meu livro. Finalmente, ela disse que gente como
eu deveria ser proibida de entrar na loja. Vá no lugar onde eles ficam
para ver como será tratada", narrou a vítima.
O professor
informou à senhora que intolerância religiosa é crime. "Ela debochou
dizendo que estava morrendo de medo e até tremendo".
Na
ocasião, Leonardo Rangel ressaltou que os funcionários pareciam
conhecer a cliente, que os tratava com intimidade, e que em nenhum
momento ela foi interpelada por alguém da livraria para que cessasse com
as agressões.
A decisão de denunciar o crime às autoridades
não foi fácil, contou. "No dia fiquei sem reação. Só fiz o boletim de
ocorrência no dia seguinte. Sou tímido, resguardado, mas não poderia me
calar", disse.
No sábado (3/12) ele procurou o advogado Hélio
Silva, especialista neste tipo de crime. Hélio Silva solicitou
judicialmente que a agressora seja responsabilizada na área penal, e que
a Livraria Vozes seja cobrada administrativamente, com pedido de
cassação do alvará de funcionamento, com base na Lei Estadual 6.483/13, e
na área cível, com pedido de indenização por danos morais. A Polícia
vai tentar identificar a cliente acusada de agressão pelas câmeras de
segurança da livraria.
Leonardo espera que seu ato sirva de
exemplo para outras vítimas e que as denúncias ajudem a inibir este tipo
de crime. "A intolerância tem crescido muito, inclusive, contra as
religiões de matriz afro-brasileira. Se me calasse, estaria compactuando
com isso. Estou fazendo minha função social enquanto educador, enquanto
adepto do candomblé, e espero que a justiça seja feita para que os
culpados arquem com as consequências do crime que cometeram", completou.
A assessoria de imprensa da Editora Vozes lamentou que o caso tenha
ocorrido em loja da empresa, e informou que tomará as devidas
providências. "Reforçamos que o nosso trabalho vem sendo pautado pelos
propósitos e valores expressos em nossa missão e todos os nossos
produtos e serviços estão coerentes com a mesma", diz a nota de
posicionamento da Vozes.
Fonte: Agência Brasil, em 7/12/2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário