Percentual do PIB brasileiro que é destinado a despesas com educação particular é maior que média da OCDE
Pesquisa do Insper mostra que 1,3% das riquezas produzidas em 2009 foram gastas com educação privada
A gerente de treinamento Ana Paula de Figueiredo Fernandes, 40, estima gastar R$ 10 mil ao mês com a educação de seus quatro filhos, todos em colégio privado. Só de mensalidade, na Escola Santi, zona sul paulistana, são R$ 5.000. Também há gastos com material, transporte e cursos extras. "Vivemos para sustentar isso", diz.
"Não conseguimos viajar regularmente. Mas nem temos dúvida sobre a nossa opção. Trabalho com recursos humanos e vejo a diferença que faz ter cursado escola privada. O currículo de um candidato de colégio público, na maioria das vezes, nem chega a ser avaliado."
No Brasil, famílias como as de Ana Paula fazem mais esforço para educar os seus filhos do que as famílias de países desenvolvidos, aponta pesquisa do instituto Insper (ex-Ibmec São Paulo).
Com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o estudo apontou que, no Brasil, 1,3% das riquezas (PIB) produzidas em 2009 foram gastas com educação privada.
Para comparar, a média da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que reúne nações ricas, foi de 0,9%.
Austrália
O investimento privado brasileiro com educação é equivalente ao da Austrália, cujos alunos conseguiram o 9º melhor posto em ranking de leitura. O Brasil ficou em 53º. A Alemanha gastou 0,7% e está na 20ª posição.
Os dados abrangem mensalidades, do ensino básico à pós-graduação, cursos extras e material -no país, são raros levantamentos sobre gastos privados com ensino.
"Nosso gasto reflete a má qualidade da rede pública. As poucas famílias que podem gastar não veem outra opção", diz Naercio Menezes Filho, autor do estudo. "Nos países da OCDE, em geral, gasta quem quer pôr o filho em tipo específico de escola."
De acordo com a pesquisa, 30% das famílias brasileiras gastaram com educação privada em 2009. "Há dupla tributação no país, porque as famílias pagam impostos, que bancam o ensino público."
Mais gasto público?
Para o pesquisador do Insper, a forma de melhorar o ensino público -o que aliviaria os gastos das famílias com educação- é melhorar a gestão dos recursos. Ele acredita que isso é até mais importante que aumentar a verba destinada ao ensino.
Tal posição tem como base o fato de o país ter elevado o percentual do PIB com educação pública, já chegando a 5,1%, montante superior à média da OCDE, de 4,8%. "Hoje, gastamos mais para uma qualidade pior", afirmou Menezes Filho.
Essa linha de pensamento é polêmica. O próprio Ministério da Educação entende que o país precisa elevar os gastos com ensino público, considerando o atraso em que se encontra na área.
"Estamos em processo de reconstrução da escola pública", diz o pesquisador de financiamento educacional Luiz de Sousa Junior, da Universidade Federal da Paraíba. "A valorização do magistério ainda engatinha. Enquanto não for uma profissão competitiva salarialmente, não atrairá bons alunos."
O estudo do Insper aponta que as famílias brasileiras têm dado mais atenção, e recursos, à pós-graduação. Entre 2003 e 2009, o volume de dinheiro destinado a especializações, mestrados ou doutorados privados foi de R$ 1,4 bilhão para R$ 2,4 bilhões (valores atualizados). O total destinado ao ensino superior permaneceu estável, e ao ensino básico, sofreu uma leve queda.
Uma das explicações para o aumento de recursos na pós-graduação está no mercado de trabalho. O levantamento do pesquisador Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE, apontou que, em 2002, ter uma pós significava uma renda 80% maior do que os que só tinham graduação. Em 2009, a diferença havia aumentado para 100%. No mesmo período, caiu o peso do curso superior. Em 2002, um graduado ganhava 273% mais que a média. Em 2009, o percentual caiu para 193%. Fonte: Folha de São Paulo, Cotidiano, em 11/04/2011.
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