Conhecida
como dona do tradicional jornal Financial Times, a Pearson tem
direcionado cada vez mais seus esforços para um negócio distante da
mídia. É no setor de educação, que movimenta US$ 4,4 trilhões no mundo,
que ela concentra quase 80% do seu faturamento. A centenária empresa
britânica - que no Brasil começou vendendo livros didáticos para
universidades e ensino da língua inglesa - tornou-se um importante nome
na educação privada brasileira. Com a compra do SEB, em 2010, passou a
ser dona dos sistemas de ensino COC, Pueri Domos, Dom Bosco e Name.
Presente
em 70 países com projetos educacionais que variam de softwares de ensino
a consultoria pedagógica, a companhia tem 76% de sua receita
concentrada no ramo da educação. O restante vem da editora Penguim (17%)
e do grupo Financial Times (7%).
John
Fallon, presidente da Pearson desde janeiro, comanda essa nova fase. Ele
anuncia hoje o compromisso do grupo em mensurar e informar os
resultados de aprendizagem em seus negócios que superam US$ 1 milhão - o
que inclui os negócios brasileiros.
A empresa
vê por aqui a possibilidade de ir além do ensino básico. Ao Estado,
John Fallon afirma que, em vez de comprar universidade no Brasil, a
Pearson pode fazer parcerias também no ensino superior.
A educação sempre foi o principal negócio da Pearson?
Em 1997,
educação e publicações eram apenas dois dos muitos negócios em que a
Pearson estava. Naquela época, pensávamos que, em 30 anos, a educação
emergiria como uma das indústrias de maior crescimento. Resolvemos
vender uma gama de negócios (em televisão, jornal, banco de investimento
etc.), arrecadando mais de US$ 5 bilhões. Pegamos esse dinheiro para
investir em educação. Somos hoje a maior empresa de ensino do mundo
envolvida em todos os estágios e idades de aprendizado.
Qual é a importância do Brasil para a Pearson?
O Brasil é
um dos mercados mais importantes para a Pearson. Na verdade, nós
estamos reorganizando a companhia para aproveitar ao máximo as
oportunidades globais no setor de educação. Estamos organizando
geograficamente o que chamamos de "mercados em crescimento". Ao lado de
Índia e China, Brasil é o nosso "mercado em crescimento" mais
importante.
Quando
a Pearson comprou o SEB, em 2010, o número de estudantes usuários dos
sistemas era 400 mil. Naquela época, vocês disseram que a meta era
alcançar 1 milhão de alunos em cinco anos. Hoje, são 533 mil. A meta do
milhão permanece?
Essa é
ainda uma meta. Claramente, progredimos bem em relação ao número de
estudantes alcançados. Ainda há um caminho longo a percorrer para chegar
ao milhão, como você sugere. Mas o fato de a gente estar crescendo mais
de 10% ao ano em número de estudantes, acho bom. O Brasil, assim como
muitos países no mundo, está passando por um período de turbulência
econômica. Nós estamos muito confiantes em relação ao futuro. Achamos
que é um País grande, com forte potencial na área econômica. Acreditamos
que educação de alta qualidade acessível é fundamental para o Brasil
alcançar seu potencial e esperamos ter um papel para ajudar o País nisso
- trabalhando com pais, professores, estudantes e com os legisladores.
A Pearson tem interesse em comprar universidades privadas no Brasil?
Nós nunca
comentamos nenhuma aquisição antes que ela seja concluída. Mas eu acho
que é razoável presumir que nós continuamos a olhar para oportunidades
de compra na China, na Índia, na África... Estamos analisando
oportunidades em tecnologias de aprendizado no mundo todo e vamos olhar
para todas as oportunidades no Brasil também, se acharmos que é a
oportunidade certa. Mas eu não vou comentar nada em específico.
A Pearson tem universidades, certo?
Temos as
nossas na África do Sul; uma em parceria com outra companhia no México;
começamos uma pequena faculdade no Reino Unido; nos EUA trabalhamos
junto com universidades para ajudá-las a desenvolver as disciplinas
online; e a última grande aquisição que fizemos foi a Embanet, parceira
de universidades em negócios online.
Então existe potencial para o setor no Brasil?
Acredito
que o setor de educação superior que existe no Brasil é muito
interessante e dinâmico. Este mercado tem registrado, obviamente, grande
crescimento em ensino à distância. Uma forma de crescermos no ensino
superior no Brasil, em vez de comprar universidades, talvez seria fazer
uma parceria com um dos players mais importantes que existem neste
mercado no País.
O
grande desafio das empresas privadas de educação é aliar lucro e
qualidade. Você acha que as empresas brasileiras conseguem fazer isso?
Não
acredito que lucro e qualidade estão em conflito. O único jeito de
manter um negócio lucrativo no longo prazo é entregando uma experiência
de aprendizagem de qualidade.
Vocês estão investindo agora na 'estratégia da eficácia'. Quais são os exemplos disso?
Temos um
bom exemplo no Brasil dessa estratégia. O Name, o sistema para escolas
públicas, tem progredido bastante ano a ano, como mostra o Ideb (Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica). Outro exemplo seria o Wall
Street (sistema de escolas de idiomas), na China, que a gente também
acabou de expandir para o Brasil. Agora conseguimos usar tecnologia no
momento em que o estudante começa o aprendizado de inglês. Logo de
início conseguimos prever o resultado.
Que impacto essa estratégia pode trazer para a receita da companhia?
No ano
passado, 50% das vendas da Pearson vieram do ensino digital e serviços
relacionados à educação (softwares e consultoria pedagógica, por
exemplo). Esperamos que essa porcentagem seja de 70% em 2015. E
esperamos que 25% das vendas venham dos "mercados em crescimento",
comparado a 15% do ano passado.
Fonte: JC e-mail 4857, de 18 de novembro de 2013, com o Estado de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário