Uma
quantidade enorme de pais está às voltas, a esta altura do semestre,
com o desempenho escolar do filho. Professores particulares, tutores,
psicopedagogos e outros
profissionais cuja atuação pode colaborar para que crianças e jovens
melhorem nos estudos têm sido convocados pelos pais para trabalhar com
seus filhos.
Isso
significa, para quem paga a mensalidade escolar, que em geral já é
cara, um senhor acréscimo nos gastos que envolvem a vida escolar dos
filhos. Muitas vezes,
é quase uma segunda mensalidade! Mas outros pais, que não querem ou não
podem recorrer a esse tipo de ajuda, decidem, eles mesmos, acompanhar
de perto os estudos do filho em casa.
Há
uns 20 anos, no mínimo, que os pais que têm filhos que estudam têm
precisado se envolver com trabalhos escolares, explicações de conceitos
ou de tópicos das mais
diversas disciplinas, pesquisas de conteúdos, redações e leituras de
livros e lição de casa, por exemplo.
Esses
pais, chamados por muitos educadores de "pais presentes" na vida
escolar dos filhos, têm agora de rever muito do que estudaram quando
eram crianças ou jovens
e frequentaram a sua escola, ou seja, quando eram alunos. E, nessa
época, é bom lembrar, eles não tiveram a ajuda dos pais para resolver
suas questões escolares, ou tiveram, de vez em quando, uma ajuda
irrisória. Não fazia parte de nossa cultura essa história
de participar da vida escolar dos filhos.
Antes
da década de 1960, os pais não eram convidados ou convocados para nada
que tivesse relação com a escola dos filhos. Nem mesmo essas reuniões
escolares, hoje
consideradas tão importantes, eram realizadas.
Mas
o mundo mudou... E a escola, apesar de pouco ter mudado, mudou sua
ideologia e sua prática em relação aos pais de seus alunos: passou a
creditar a eles o fracasso
escolar dos filhos, passou a cobrar dos pais muito do que seria tarefa
dela e a chamar isso de "parceria". Um bom exemplo é a lição de casa,
que podemos muito bem chamar de "lixão de casa", expressão utilizada por
Gabriel Perissé, de quem a tomo emprestada,
por considerá-la bastante apropriada. Como essas lições são chatas!
O
primeiro passo para a escola responsabilizar os pais por essa tarefa
foi a prática de enviar --malditos-- bilhetes quando o aluno não fazia
sua lição. O texto
"Senhor pai, seu filho não fez a lição de casa. Favor tomar
providências" foi escrito e enviado milhares de vezes e devolvido à
escola devidamente assinado pelos pais, como era solicitado.
Depois,
a escola passou a afirmar, devidamente amparada em pesquisas --e todas
as mídias repercutiram isso-- que os alunos que tinham o acompanhamento
dos pais na
vida escolar aprendiam mais e melhor. Chegamos a ter notícias de que
até 70% do desempenho escolar era devido ao "background" familiar.
Você
não tem ideia, caro leitor, da quantidade de pais que foi aprender a
chamada matemática moderna, a fazer síntese de livro, a tentar entender o
que são gêneros
e o que é letramento, por exemplo. Tudo em nome do sucesso escolar do
filho.
Agora,
cá entre nós: se a escola só colabora com 30% do desempenho de seus
alunos, por que mandamos nossos filhos a essa instituição, aceitamos
pagar mensalidades
tão caras e valorizamos tanto esse tipo de escola? Alguém sabe
responder a tais questões?
Fonte: Rosely Sayão*, Folha de São Paulo, em 13/5/2014.
* Articulando esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do coletivo de educadores.
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