quinta-feira, 25 de junho de 2015

Ajustes nas políticas de ensino têm pouco impacto na aprendizagem do aluno

O renomado especialista em educação John Hattie diz que a escolha da escola, a remuneração dos professores de acordo com o desempenho e a diminuição do tamanho das turmas fazem parte de uma “política de distração”
 

A Pearson, líder mundial no desenvolvimento de soluções para a educação publicou, no dia 16/6, dois novos relatórios encomendados de autoria do Professor John Hattie, um dos maiores especialistas em educação do mundo, relatórios estes que  questionam  algumas  das  principais  políticas  de  reforma  seguidas  pelos  governos  nos últimos vinte anos.
 
Hattie questiona o predominante foco governamental em políticas que incluem dias letivos mais longos, pagamento dos professores de acordo com o desempenho e redução do tamanho das turmas, todas as quais, segundo ele, são menos importantes do que a variabilidade dos resultados do ensino e a eficácia do professor dentro de qualquer escola.


No primeiro relatório, intitulado “O Que Não Funciona Na Educação: a Política da Distração”, Hattie apresenta uma série de políticas de “distração” difundidas, mas de baixo impacto, entre as quais:


●     Dias letivos mais  longos:  o  aumento  do  dia  letivo  ou  do  ano  letivo,  um  ajuste muito dispendioso, tem comprovadamente pouco efeito, já que não há correlação positiva entre o tempo de instrução e o rendimento do aluno.
●     Pagamento de acordo com o desempenho: provou-se que remunerar os professores com base unicamente no desempenho apenas aumenta os níveis de estresse, ao mesmo tempo em que diminui o entusiasmo. Uma solução melhor é aumentar o pagamento conforme o professor aumente sua qualificação ou ajude colegas professores a aprimorar suas habilidades.
●     Turmas menores: os dados mostram que, em geral, os professores não mudam sua maneira de ensinar,  independentemente  do  tamanho  da  turma; portanto, turmas menores não têm tanto impacto quanto se imaginava.
●     Tecnologia como solução mágica: hoje em dia, a tecnologia é predominantemente usada na sala de aula como mais uma maneira de os alunos consumirem fatos e conhecimento. Para ter um impacto transformador no ensino e na aprendizagem, a tecnologia precisa ser vista como uma ferramenta de ensino para a produção de conhecimento.
●     Escolha da escola: dá-se muita atenção às diferenças entre as escolas, quando os dados mostram que o maior problema são as diferenças dentro das escolas, em particular a variabilidade entre os professores. Hattie conclui que a  turma  em que o aluno cai dentro de uma escola importa mais do que a escola em si.
●     Educação inicial do professor: estudos mostram que os programas de educação do professor estão entre os fatores que têm o menor impacto geral entre todos os que influenciam o rendimento do aluno. Em seu lugar, deveria dar-se mais ênfase ao primeiro ano de ensino em sala de aula em tempo integral, que é o período em que os professores obtêm o maior aprendizado.
 

O Professor Hattie, especialista em ensino da Universidade de Melbourne que dedicou sua carreira a abrir a “caixa preta” da educação, desafia os formuladores de políticas do mundo inteiro a reavaliarem suas estratégias para melhorar a educação usando os  dados  disponíveis  sobre o que funciona e o que não funciona no ensino.
 
Ele afirma que é nossa obrigação proporcionar a cada aluno pelo menos um ano de progresso na educação para cada ano dedicado, independentemente do rendimento escolar inicial do aluno. E ele identifica a variabilidade dentro da escola – mais essencialmente, a variabilidade da eficácia dos professores dentro de uma dada escola – como um problema fundamental a ser abordado.


A partir de seu mundialmente famoso trabalho Visible Learning, que examina o impacto relativo de diversas intervenções na educação sobre a aprendizagem dos alunos, Hattie mostra que muitos dos nossos ajustes estruturais mais consagrados politicamente, como a escolha da escola ou a diminuição do tamanho das turmas, são simplesmente “fatores de distração”:  eles  vêm tendo pouco impacto na aprendizagem dos alunos, apesar de custarem bilhões de dólares. Os dados nos mostram que uma estratégia de impacto muito maior é desenvolver uma cultura de “qualificação colaborativa” em nossas escolas e nossos sistemas


Isso corresponde a incentivar e estimular os professores a trabalharem juntos para desenvolverem um entendimento comum do que significa um ano de progresso, para aprofundarem sua qualificação profissional e para maximizarem os efeitos positivos de seu ensino sobre todos os alunos.
 
No segundo relatório, “O Que Funciona Melhor na Educação: a Política da Qualificação Colaborativa”, Hattie expõe uma série de tarefas destinadas a reduzir o problema da variabilidade dentro das escolas por meio da busca e ampliação da qualificação do professor.  Essas  tarefas incluem os professores trabalharem juntos para desenvolver uma linguagem comum com relação aos critérios de sucesso do aluno; os professores tornarem o ensino mais personalizado para o aluno em níveis variados por meio do uso dos devidos diagnósticos, intervenções e ferramentas de avaliação; e os líderes trabalharem com seu pessoal para avaliar continuamente o impacto sobre a aprendizagem dos alunos.


Os artigos são publicados pela Pearson dentro de sua série “Open Ideas”, na qual especialistas independentes de todas as partes do mundo apresentam suas opiniões sobre as grandes questões não respondidas da educação.


Para o professor John Hattie, “apesar de as intenções serem as melhores, a educação ficou carregada de política de  distração, a maior parte da qual nos desvia do trabalho essencial em pauta, ou seja, assegurar que cada aluno tenha pelo menos um ano de progresso para cada ano de empenho. Se quisermos realmente melhorar a aprendizagem dos alunos, é vital afastarmos nossa narrativa sobre o ensino e a aprendizagem dessas distrações e iniciarmos o trabalho fundamental de desenvolver a qualificação colaborativa em nossas escolas e nossos sistemas de ensino.”

Fonte: Grupo CDI, em 16/6/2015.

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