O renomado especialista em educação John Hattie diz que a escolha da
escola, a remuneração dos professores de acordo com o desempenho e a
diminuição do tamanho das turmas fazem parte de uma “política de
distração”
A Pearson, líder mundial no
desenvolvimento de soluções para a educação publicou, no dia 16/6, dois novos
relatórios encomendados de autoria do Professor John Hattie, um dos
maiores especialistas em educação do mundo, relatórios estes que
questionam algumas das principais políticas de reforma seguidas
pelos governos nos últimos vinte anos.
Hattie questiona o predominante foco governamental em políticas que
incluem dias letivos mais longos, pagamento dos professores de acordo
com o desempenho e redução do tamanho das turmas, todas as quais,
segundo ele, são menos importantes do que a variabilidade dos resultados
do ensino e a eficácia do professor dentro de qualquer escola.
No primeiro relatório, intitulado “O Que Não Funciona Na Educação: a
Política da Distração”, Hattie apresenta uma série de políticas de
“distração” difundidas, mas de baixo impacto, entre as quais:
● Dias letivos mais longos: o aumento do dia letivo ou do
ano letivo, um ajuste muito dispendioso, tem comprovadamente pouco
efeito, já que não há correlação positiva entre o tempo de instrução e o
rendimento do aluno.
● Pagamento de acordo com o desempenho: provou-se que remunerar os
professores com base unicamente no desempenho apenas aumenta os níveis
de estresse, ao mesmo tempo em que diminui o entusiasmo. Uma solução
melhor é aumentar o pagamento conforme o professor aumente sua
qualificação ou ajude colegas professores a aprimorar suas habilidades.
● Turmas menores: os dados mostram que, em geral, os professores não
mudam sua maneira de ensinar, independentemente do tamanho da
turma; portanto, turmas menores não têm tanto impacto quanto se
imaginava.
● Tecnologia como solução mágica: hoje em dia, a tecnologia é
predominantemente usada na sala de aula como mais uma maneira de os
alunos consumirem fatos e conhecimento. Para ter um impacto
transformador no ensino e na aprendizagem, a tecnologia precisa ser
vista como uma ferramenta de ensino para a produção de conhecimento.
● Escolha da escola: dá-se muita atenção às diferenças entre as
escolas, quando os dados mostram que o maior problema são as diferenças
dentro das escolas, em particular a variabilidade entre os professores.
Hattie conclui que a turma em que o aluno cai dentro de uma escola
importa mais do que a escola em si.
● Educação inicial do professor: estudos mostram que os programas de
educação do professor estão entre os fatores que têm o menor impacto
geral entre todos os que influenciam o rendimento do aluno. Em seu
lugar, deveria dar-se mais ênfase ao primeiro ano de ensino em sala de
aula em tempo integral, que é o período em que os professores obtêm o
maior aprendizado.
O Professor Hattie, especialista em ensino da Universidade de Melbourne
que dedicou sua carreira a abrir a “caixa preta” da educação, desafia os
formuladores de políticas do mundo inteiro a reavaliarem suas
estratégias para melhorar a educação usando os dados disponíveis
sobre o que funciona e o que não funciona no ensino.
Ele afirma que é nossa obrigação proporcionar a cada aluno pelo menos um
ano de progresso na educação para cada ano dedicado, independentemente
do rendimento escolar inicial do aluno. E ele identifica a variabilidade
dentro da escola – mais essencialmente, a variabilidade da eficácia dos
professores dentro de uma dada escola – como um problema fundamental a
ser abordado.
A partir de seu mundialmente famoso trabalho Visible Learning, que
examina o impacto relativo de diversas intervenções na educação sobre a
aprendizagem dos alunos, Hattie mostra que muitos dos nossos ajustes
estruturais mais consagrados politicamente, como a escolha da escola ou a
diminuição do tamanho das turmas, são simplesmente “fatores de
distração”: eles vêm tendo pouco impacto na aprendizagem dos alunos,
apesar de custarem bilhões de dólares. Os dados nos mostram que uma
estratégia de impacto muito maior é desenvolver uma cultura de
“qualificação colaborativa” em nossas escolas e nossos sistemas
Isso
corresponde a incentivar e estimular os professores a trabalharem juntos
para desenvolverem um entendimento comum do que significa um ano de
progresso, para aprofundarem sua qualificação profissional e para
maximizarem os efeitos positivos de seu ensino sobre todos os alunos.
No segundo relatório, “O Que Funciona Melhor na Educação: a Política da
Qualificação Colaborativa”, Hattie expõe uma série de tarefas destinadas
a reduzir o problema da variabilidade dentro das escolas por meio da
busca e ampliação da qualificação do professor. Essas tarefas incluem
os professores trabalharem juntos para desenvolver uma linguagem comum
com relação aos critérios de sucesso do aluno; os professores tornarem o
ensino mais personalizado para o aluno em níveis variados por meio do
uso dos devidos diagnósticos, intervenções e ferramentas de avaliação; e
os líderes trabalharem com seu pessoal para avaliar continuamente o
impacto sobre a aprendizagem dos alunos.
Os artigos são publicados pela Pearson dentro de sua série “Open Ideas”,
na qual especialistas independentes de todas as partes do mundo
apresentam suas opiniões sobre as grandes questões não respondidas da
educação.
Para o professor John Hattie, “apesar de as intenções serem as melhores, a educação ficou carregada de
política de distração, a maior parte da qual nos desvia do trabalho
essencial em pauta, ou seja, assegurar que cada aluno tenha pelo menos
um ano de progresso para cada ano de empenho. Se quisermos realmente
melhorar a aprendizagem dos alunos, é vital afastarmos nossa narrativa
sobre o ensino e a aprendizagem dessas distrações e iniciarmos o
trabalho fundamental de desenvolver a qualificação colaborativa em
nossas escolas e nossos sistemas de ensino.”
Fonte: Grupo CDI, em 16/6/2015.
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