Nas últimas três semanas, o País se deparou com a crise intervencionista no Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), que organiza e realiza o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Entretanto, isso não nos deve causar surpresas, pois afinal o governo Bolsonaro é a crise, é a permanente destruição das políticas públicas de Estado. Mas deve nos indignar.
Assédio moral sobre servidores que pediram exoneração do Inep; ministro da Educação que não veio a público para esclarecer os problemas; interferência no conteúdo das provas, na tentativa de reescrever a história, são fatos que revelam o quanto o governo Bolsonaro é perigoso e disruptivo. Na educação, busca cotidianamente destruir os avanços conquistados pela sociedade desde a Constituição de 1988.
O governo, sob a batuta de Bolsonaro, tendo o ministro da Educação, o pastor Milton Ribeiro, como ‘mandalete’, revela que o presidente da República e o titular da pasta querem se apropriar do Enem para transformá-lo num “braço” do pensamento falso, retrógrado e reacionário da extrema direita brasileira.
Os bolsonaristas, que antes advogavam a derrotada “Escola sem Partido”, mostram que queriam substituir o suposto doutrinarismo de esquerda na educação, que nunca existiu, por doutrinarismo extremista de direita, que, de fato, sob a liderança do presidente da República, quer se impor na educação brasileira.
A revelação de que Bolsonaro pediu para trocar o termo ‘Golpe de 1964’ por ‘revolução’ para se referir à ditadura militar no Enem 2021 é a expressão objetiva de que a extrema direita inventa problema onde não existe para criar falsas soluções. Um verdadeiro universo paralelo. Todavia não serão Bolsonaro e o preposto dele no Ministério da Educação que irão reescrever a histórica recente do País. Não dá para tentar apagar fatos robustos e consagrados da historiografia política nacional tentando modificar o conteúdo das provas do Exame Nacional.
Nós professores, de nossa parte, vamos continuar combatendo e esclarecendo o que aconteceu no Brasil em 1º de abril de 1964, pois aqui naquele fatídico abril não houve uma revolução. O que houve foi golpe militar, que suprimiu as liberdades democráticas e prendeu, cassou, demitiu, exilou e assassinou patriotas.
Ao tentar reescrever a história, falseando-a, por meio de prova do Enem, Bolsonaro e o governo que ele representa apenas demonstram o desapreço pela democracia e o aprofundamento das franquias democráticas para que nunca mais o País seja chafurdado em regime político autoritário.
A democracia é o melhor dos regimes políticos. Os jovens brasileiros devem ser orientados nessa perspectiva para que os horrores da Ditadura Militar de 1964 a 1985 sejam soterrados. Entretanto, sempre devem ser lembrados, tematizados e criticados para que nunca mais o Brasil seja submetido a regime político que subtraia as liberdades democráticas do povo brasileiro.
Talvez isso esteja acontecendo com o Brasil porque saímos do regime militar sem profunda e permanente discussão do que foi a ditadura civil- militar. O Brasil foi o único país da América Latina que não julgou e condenou os militares pelas atrocidades cometidas contra a sociedade e o País.
Para sepultar definitivamente as ameaças à democracia brasileira, as escolas públicas e privadas deviam dedicar, todo ano, uma semana no mês de abril a debater sobre a relevância da democracia como melhor regime político e contar a história do Golpe Militar de 1964.
Não vai faltar história, que ainda não foi contada por completo, depois de 33 anos de democracia.
* Gilson Reis é coordenador-geral da Contee (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino)
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