quinta-feira, 11 de setembro de 2025

MEC lança curso de 180 horas para professores do ensino médio público


O Ministério da Educação (MEC) lançou o curso Mais Ensino Médio para formação de professores desta etapa do ensino básico

O curso virtual tem duração de 180 horas e já está disponível na plataforma de aprendizagem Avamec. Para acessá-la, o interessado deve digitar o login pelo portal Gov.br, se cadastrar e informar dados pessoais, vínculos profissionais e a formação acadêmica.

O objetivo principal é melhorar a qualidade da educação como um todo, por meio da transformação das práticas docentes e da valorização da juventude brasileira.

Ao mesmo tempo, a formação pretende promover uma reflexão crítica sobre o currículo e as políticas educacionais, entre elas, a Política Nacional do Ensino Médio (Pnaem), e como adequá-las às realidades das escolas públicas.

O curso

A capacitação de docentes busca alinhar a teoria com a prática, abordando temas relevantes e contemporâneos que impactam diretamente a vida dos estudantes e o trabalho docente.

O curso usa um currículo em espiral, o que significa que ele revisita e aprofunda os temas gradualmente, evitando repetições desnecessárias.

A metodologia do curso tem como estratégia a formação continuada e em serviço e é baseada em metodologias de reconhecimento, intervenção produtiva e estudos de casos.

Cultura digital

Entre os módulos, há um voltado para a cultura digital, que capacita os educadores a aplicar a digitalização na educação.

Essa parte da formação está alinhada à Estratégia Nacional de Escolas Conectadas (Enec), preparando os docentes para usar a tecnologia para fins pedagógicos, em sala de aula, de forma eficaz e intencional. O objetivo do uso efetivo das tecnologias digitais no cotidiano escolar é aprimorar o aprendizado dos estudantes.

Na segunda etapa, o curso se aprofunda em práticas interdisciplinares e no estudo de temas relevantes para as quatro áreas do conhecimento da formação geral básica, como crise climática. Também são abordadas pautas contemporâneas, como as apostas esportivas (bets) e seus impactos econômicos e sociais, entre outras.

O curso pode ser concluído em, no mínimo, 45 dias, e no máximo a conclusão é de 200 dias.

Certificação

A conclusão dos módulos do Mais Ensino Médio é feita automaticamente, mediante a realização das atividades de fixação que os compõem. A nota mínima para aprovação é de 6 pontos.

Com o aproveitamento do participante no curso, o certificado de conclusão estará disponível para download, na opção “Certificado”, no menu do curso.

Há possibilidade de obtenção de certificado de especialização, mediante aproveitamento de estudos, pelo Centro de Educação Aberta e a Distância da Universidade Federal do Piauí.

Mais cursos

O Ministério da Educação (MEC) também anunciou o lançamento para o Dia do Professor, em 15 de outubro, de quatro novos cursos complementares, um para cada área do conhecimento (ciências humanas, ciências da natureza, matemática e linguagens).

São eles:

Mais Ciências da Natureza e suas Tecnologias (Mais CNT)

Mais matemática e suas tecnologias

Mais linguagens e suas tecnologias.

Gestão da escola

Em nota, a coordenadora-geral de Ensino Médio do MEC, Valdirene Alves de Oliveira, afirmou que o curso Mais Ensino Médio e os cursos complementares, por área de conhecimento, se somam ao curso de especialização Gestão da Escola Pública de Ensino Médio (Gepem).

Este último é voltado para diretores e coordenadores pedagógicos que possuam formação em nível de graduação e estejam em efetiva atuação em escolas públicas de ensino médio, vinculadas às redes estaduais, distrital e municipais.

“Este apoio do MEC visa a formação dos profissionais das redes públicas de ensino para a implementação da Política Nacional de Ensino Médio [PNAEM]”, afirmou em nota a coordenadora do MEC, Valdirene Oliveira.

Leia mais em https://www.cartacapital.com.br/educacao/mec-lanca-curso-de-180-horas-para-professores-do-ensino-medio-publico/

Fonte: Carta Capital Educação em 22/08/2025.

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Por que o Ceará lidera o índice de alfabetização no Brasil?


Mudança na política educacional começou em 2004, em Sobral, que irradiou estratégia para outras cidades, e depois, para o estado. Governo federal tenta replicar experiência

O Ceará é o estado brasileiro com a maior proporção de crianças alfabetizadas na idade certa: 85,3% dos alunos matriculados no 2º ano do ensino fundamental sabem ler e escrever com autonomia em 2025, segundo o Indicador Criança Alfabetizada (ICA) do Ministério da Educação, divulgado em julho. A taxa supera a média nacional, que foi de 59,2%. A meta geral era de 60%. 

Para 2030, o objetivo do MEC é chegar aos 80%, taxa que só foi alcançada, desde já, pelas escolas cearenses. Por isso, as estratégias adotadas pelo Ceará inspiraram a política de alfabetização em regime de colaboração em 25 estados. Ainda que o ensino fundamental seja de responsabilidade dos municípios, os governos estaduais fornecem apoio técnico e financeiro às prefeituras para que melhorem os indicadores. 

"No Ceará, a secretaria estadual e os municípios aprenderam a alfabetizar. O Brasil ainda está em um estágio anterior", avalia o gerente de políticas educacionais da organização Todos Pela Educação, Ivan Gontijo. "Essa política já vem sendo implementada desde 2007, são quase 20 anos de expertise acumulada. Isso explica o sucesso em relação aos outros estados, e, ainda que já tenha alcançado patamares altos, consegue evoluir". 

Avanço gradual

Os bons resultados da alfabetização do Ceará em 2025 contrastam com a realidade dos municípios cearense de 20 anos atrás. Diante do baixo desempenho, a cidade de Sobral foi pioneira na transformação da política educacional.

Durante o mandato do então prefeito, Cid Gomes, hoje senador, a secretaria de Educação definiu metas para o letramento na idade certa (até 7 anos), além do aumento dos investimentos no setor, que levaram o município ao topo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) entre as cidades com mais de 70 mil habitantes nos anos 2000. 

Em 2004, todo o estado acompanhou esse processo. Dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) daquele ano apontavam que 55% das crianças cearenses apresentavam desempenho ruim em leitura e escrita ao final da 4ª série.

Por conta dessa conjuntura, deputados da Assembleia Legislativa instituíram o Comitê Cearense para a Eliminação do Analfabetismo Escolar. Em seguida, a atuação dos parlamentares resultou na criação do Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC) pelo governo estadual. 

A partir de 2015, outros estados passaram a reproduzir essa estratégia, como Pernambuco, Espírito Santo e Piauí. Em 2022, com a nomeação do ex-governador do Ceará Camilo Santana para o Ministério da Educação, parte da equipe da secretaria de Educação do estado foi para o governo federal, entre eles a ex-secretária-executiva da pasta, Izolda Cela, que implementou o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada. 

Estratégia e incentivo 

Dessa forma, a experiência de Sobral foi ampliada e adotada nas demais cidades. O pilar da estratégia que fortaleceu o ensino fundamental foi a cooperação entre o estado e os municípios. As avaliações para monitorar a evolução da aprendizagem e a preparação do material didático são centralizadas pelo estado e distribuídas às prefeituras.

Inspirada no exemplo do Ceará, uma emenda constitucional de 2020 criou o ICMS Educacional. Essa medida estabelece que uma parcela do imposto estadual deve ser destinada aos municípios conforme indicadores de melhoria nos resultados de aprendizagem.

A ação serve como incentivo aos prefeitos, já que o dinheiro recebido por esse mecanismo não é vinculado, ou seja, os gestores podem definir livremente como o recurso será usado.

Alunos, pais e professores 

Mais uma medida foi o foco na capacitação de professores em práticas de alfabetização baseadas em evidências. Deusiran Nascimento é diretora da escola de ensino fundamental Joaquim José Monteiro, no município de Cruz (CE), que obteve a maior nota do país no Ideb em 2021 (9,1). Ela explica que, a cada bimestre, os professores passam por uma formação continuada. "Alguns professores são fragilizados na prática de sala de aula, e temos que atualizá-los".

Quanto aos alunos, Nascimento diz que o acompanhamento da aprendizagem é feito por etapas, desde o primeiro ano, quando os alunos já são leitores de frases curtas. "Nas turmas de alfabetização criamos projetos de leitura", afirma. Além disso, todos os meses, os alunos são avaliados para que os professores identifiquem falhas no processo de letramento. "Com isso, desenvolvemos atividades personalizadas dependendo do nível de escrita e leitura."

Além disso, os professores e coordenadores mantem contato direto com a família dos alunos. "Tem grupos das famílias no WhatsApp. Como aqui é um vilarejo, vamos às casas, todo mundo se conhece. Montamos cantinhos da leitura em casa com os pais, para que acompanhem a evolução das crianças", explica a educadora.

Para verificar a eficácia desse trabalho, o governo estadual faz uma avaliação periódica do PAIC, por meio do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (SpAece). Os testes traçam um diagnóstico da educação no estado e permite que sejam planejadas intervenções onde há defasagem de ensino. 

Quanto falta material, é a própria equipe da escola que tem de se virar para arrecadar material. "Fizemos campanhas para arrecadar livros, às vezes imprimimos, compramos material. Este ano entrou um recurso para a educação infantil que antes não tinha. Até então, a última vez que veio livro do governo federal foi em 2019. Agora que voltou a vir".

Resultados positivos 

Nascimento diz que antes do fim do ano letivo já vê resultado do esforço. "Hoje aqui na nossa escola, estamos em agosto, a maioria da turma já é de leitores de texto. "Já tivemos casos de alunos do segundo ano vindos de São Paulo que não sabia o alfabeto, nem conhecia as letras nem fazer o nome, mas aqui foi alfabetizado".

O desempenho na alfabetização do Ceará foi reconhecido pelo governo federal nesta segunda-feira (11/08), durante a entrega do Premio MEC da Educação Brasileira, na categoria de melhores resultados para essa prática. O prêmio de R$ 500 mil tem de ser aplicado na infraestrutura das escolas e valoriza.

Limitações 

Mesmo com a mobilização de toda essa política, ainda há limitações. Isso porque a estratégia das escolas no Ceará foca na alfabetização no âmbito institucional, ou seja, promove a aprendizagem para quem está matriculado em escolas. Quem está fora das instituições de ensino fica à margem da política, como é o caso dos analfabetos funcionais. 

De acordo com dados do Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 93% dos brasileiros com 15 anos ou mais são alfabetizados no Brasil e 7% são analfabetos. No entanto, apesar da alfabetização se aproximar da universalização, cerca de 29% desses adultos são analfabetos funcionais.

O nível de leitura e escrita desse grupo é considerado rudimentar, segundo a ONG Analfabetismo Funcional, o que significa que são capazes de compreender informações explícitas e números com os quais estão familiarizados, mas não conseguem decodificar textos mais longos ou operações matemáticas mais complexas.

"O que a gente precisa é fechar essa torneira, que é garantir que as pessoas sejam alfabetizadas na idade certa. E ser alfabetizado na idade certa, no Brasil, é no início do fundamental", argumenta Gontijo. "Se a pessoa não se alfabetizar na idade certa, ela vai tendo muita dificuldade ao longo da sua trajetória escolar e não só na disciplina de língua portuguesa, não consegue resolver uma questão de geografia, ou resolver um problema de matemática. Se a gente consegue garantir uma base muito bem feita, a trajetória dessas crianças vai ser muito mais fácil". 

Fonte: DW em Destaque, Educação Brasil, 15/08/2025.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

A proletarização dos professores universitários da rede privada. Por Valter Mattos da Costa*


Pressão, adoecimento e desvalorização marcam o cotidiano de quem sustenta o lucro educacional

A sala de aula é o palco. Mas o espetáculo do Ensino Superior privado não se sustenta pelo brilho da educação. Mantém-se pelo suor de quem o sustenta com diplomas, notas, avaliações e promessas.

Atrás do quadro branco, há trabalhadoras e trabalhadores da docência universitária vendendo sua força de trabalho intelectual a preços cada vez mais rebaixados. Quem lucra com isso são os donos das universidades — empresários do setor educacional que transformaram o saber em mercadoria, e os professores em operários precarizados.

O estudante é convencido de que compra um futuro. Na realidade, adquire um produto simbólico — o diploma — que promete valorização social e econômica. Um capital simbólico, como diria Pierre Bourdieu. Mas o verdadeiro produtor dessa mercadoria é o professor, cujo trabalho gera valor que não lhe é retribuído.

A diferença entre o que o professor transfere e o que recebe — essa mais-valia educacional — vai parar no caixa da instituição.

Submetido à lógica da acumulação, o docente da rede privada é forçado a transformar o saber em serviço, o ensino em resultado, e a autonomia em planilha. A liberdade de cátedra cede lugar à pressão comercial.

A criatividade didática se curva às demandas do marketing. A crítica desaparece sob a vigilância dos coordenadores, pressionados por metas de retenção e aprovação. O conhecimento deixa de ser um fim e torna-se um meio de sobrevivência.

Sobrevivência, aliás, é palavra-chave. Os salários não acompanham a inflação. A sobrecarga é constante. A instabilidade do vínculo contratual impede qualquer planejamento de médio ou longo prazo.

Muitos professores atuam em mais de uma instituição, percorrem longas distâncias e ainda preparam aulas, corrigem trabalhos e alimentam sistemas burocráticos fora do horário. Não raro, a saúde física e mental colapsa: burnout, ansiedade, distúrbios vocais e musculares se tornam parte da rotina.

Os donos das universidades pressionam. Os coordenadores pressionam. Os alunos pressionam. Uns por lucro, outros por metas e cargos, outros por aprovação automática — confundindo consumidor com patrão.

Em todos os casos, a sobrecarga recai no professor. Uma engrenagem produtiva que precisa estar disponível, adaptável e em constante aperfeiçoamento, sem qualquer garantia de estabilidade. Quando adoece, atrasa ou reclama, é descartado sem cerimônia.

A pandemia escancarou e aprofundou esse quadro. Muitas instituições cortaram salários, aumentaram cargas horárias no ensino remoto (o famoso EAD) e demitiram centenas de professores.

Outras simplesmente faliram, deixando dívidas trabalhistas e um rastro de desesperança. A conta da crise foi repassada a quem menos podia pagá-la: o corpo docente e os demais profissionais da Educação. Enquanto isso, os sócios retiravam o capital, vendiam patrimônios e se protegiam juridicamente do passivo.

A retórica empresarial sobre “educação de qualidade” serve apenas como embalagem. A realidade cotidiana é a de um trabalhador expropriado de sua produção intelectual, submetido à lógica de mercado e tratado como peça substituível.

A docência, nesse modelo, é menos profissão e mais bico. O professor deixa de ser sujeito do saber para virar executor de demandas alheias. A universidade privada torna-se uma fábrica de certificações.

A lógica empresarial que transforma o ensino em produto mina também os fundamentos democráticos. A filósofa estadunidense Martha Nussbaum alerta que, ao subordinar a formação ao lucro, esvazia-se o papel da educação como promotora de cidadania crítica e de empatia.

“A educação não é útil apenas para a cidadania. Ela prepara as pessoas para o trabalho e, o que é fundamental, para uma vida que tenha sentido. Seria possível escrever outro livro inteiro sobre o papel das artes e das humanidades na promoção desses objetivos.” (NUSSBAUM, 2017).

Mesmo assim, a maioria resiste. Busca qualificação, participa de projetos de extensão, investe em pesquisa, muitas vezes sem remuneração. Luta para manter a dignidade diante do descaso. Apoia-se em redes de solidariedade e afeto para continuar. Há resistência, ainda que fragmentada. Mas não há política pública à altura. A precariedade estrutural é ignorada pelas autoridades. A legislação trabalhista, cada vez mais fragilizada, oferece pouca proteção.

Comparações com os docentes das universidades públicas são frequentes. E, em muitos casos, injustas. Não se trata de oposição entre categorias, mas de compreensão das diferenças estruturais.

Os professores do setor privado, ainda que igualmente qualificados, enfrentam condições mais instáveis, menores salários e menos prestígio. Isso não os torna menos professores. Torna mais urgente a defesa de sua dignidade.

A crise da educação superior no setor privado é, em grande parte, a crise da própria lógica que transforma o saber em mercadoria. A escola-empresa reproduz desigualdades, aliena sujeitos e esvazia o sentido da formação.

Enquanto isso, os professores universitários vivem a contradição de ensinar criticamente um mundo que os oprime, ao mesmo tempo em que são forçados a reproduzir esse mundo dentro das instituições.

Não se trata de nostalgia por um tempo que nunca foi ideal. Trata-se de denunciar a proletarização de um trabalho que deveria ser intelectual, emancipador e respeitado.

Enquanto a docência for tratada como mera prestação de serviço, a universidade será apenas um balcão. E o professor, um vendedor fatigado de esperanças. É preciso romper essa lógica. A educação não é mercadoria. E o saber, muito menos.

* Professor de História, especialista em História Moderna e Contemporânea e mestre em História Social, todos pela UFF, doutor em História Econômica pela USP e editor da Dissemelhanças Editora.

Fonte ICL Notícias em 08/08/2025

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Professor na era da IA: ameaça ou oportunidade


A inteligência artificial chegou às salas de aula e desafia educadores a repensarem práticas, avaliações e seu papel na formação dos estudantes

Não é novidade que o acesso à tecnologia está cada vez mais presente na educação.

Imagine um aluno do ensino médio que precisa fazer um trabalho de história. Em vez de ir à biblioteca ou buscar informações em livros didáticos, ele abre o celular, digita sua pergunta em uma ferramenta de IA e, em poucos segundos, recebe um texto pronto.

Em um mundo cada vez mais mediado por algoritmos, o papel do educador precisa ser repensado. Aqui vamos falar sobre como a IA está transformando a sala de aula, quais os impactos no cotidiano escolar e como pode (e deve)se posicionar o professor na Era da IA.

Uso da inteligência artificial na educação

A inteligência artificial já está entre nós, mediando relações, automatizando tarefas e interferindo em nossas rotinas. No campo educacional, essas tecnologias vão desde sistemas de correção automatizada até plataformas adaptativas de aprendizagem.

É assim que o Professor na Era da IA é confrontado com uma realidade em que o conhecimento se atualiza de forma acelerada, exigindo constante formação e adaptação.

Exemplo disso é que o governo federal, através do MEC, já reconhece a importância da temática e em 2023 criou uma câmara técnica para discutir a regulamentação do uso de IA em ambientes escolares.

A diretriz é clara: a inteligência artificial não deve substituir o professor, mas sim ser uma ferramenta que amplifique e facilite seu trabalho.

IA: ameaça ou oportunidade na educação?

Se entendemos que o uso da IA está cada vez mais intrínseco no nosso cotidiano, no debate público há quem veja a IA como uma ameaça capaz de extinguir profissões.

Por exemplo, muitos educadores se preocupam com a possibilidade de a IA reduzir o papel do professor, substituindo sua atuação por soluções tecnológicas. Há também o risco de alunos usarem essas ferramentas para “pular etapas” do aprendizado e comprometer seu desenvolvimento como cidadão.

Além disso, a falta de preparo de escolas e docentes para lidar com essas tecnologias pode aprofundar desigualdades educacionais, já que nem todos os alunos têm o mesmo acesso e orientação.

Como alunos usam a IA nas escolas

O uso de ferramentas como ChatGPT, Gemini, Grammarly e Quillbot está se tornando cada vez mais comum entre os estudantes, seja para pesquisas rápidas ou até mesmo para a produção completa de trabalhos escolares.

Esse novo comportamento levanta questões éticas importantes: quem é, de fato, o autor do conteúdo? O aluno está aprendendo ou apenas terceirizando o processo? E como garantir a honestidade acadêmica nesse cenário?

Diante desse desafio, o Professor na Era da IA precisa repensar as formas de avaliação.

Em vez de focar apenas no resultado final, como uma redação pronta ou uma resposta correta, é necessário valorizar o caminho percorrido pelo aluno — sua capacidade de refletir, argumentar e construir conhecimento de forma autêntica.

É aqui que a avaliação precisa evoluir para acompanhar esse novo contexto, estimulando o pensamento crítico, a criatividade e a autoria genuína.

Professor na era da IA

Mas e os professores? Como eles estão sendo impactados por essa transformação? Será que a inteligência artificial pode substituir o papel do docente?

A resposta mais aceita entre especialistas hoje é: não.

A IA, apesar de poderosa em processar dados e gerar respostas, ainda é limitada em aspectos fundamentais da prática docente.

O cuidado emocional, a leitura de contextos sociais e culturais, a empatia e a mediação de conflitos. Esses são elementos que exigem sensibilidade humana, algo que nenhuma máquina é capaz de replicar com profundidade.

O papel do professor vai muito além de apenas transmitir conteúdo.

Ele escuta, orienta, cria um ambiente acolhedor e incentiva os alunos a pensarem de forma crítica e independente. Por isso, em vez de representar uma ameaça, a IA pode ser vista como uma aliada, liberando o professor de tarefas repetitivas e fortalecendo o que há de mais essencial em sua atuação: o vínculo humano e a formação integral dos estudantes.

Como mediar o uso da IA nas escolas

Nesse contexto, “mediação” é a palavra-chave.

O Professor na Era da IA precisa estar preparado para orientar os estudantes no uso crítico dessas ferramentas. Isso implica formação continuada, discussões éticas e também atualização curricular. Não é mais possível ignorar a presença da IA no cotidiano escolar, mas é possível se adaptar a esse uso no dia a dia.

Além disso, políticas públicas são fundamentais nesse processo. O Plano Nacional de Educação (PNE) deve incorporar metas relacionadas à formação digital de docentes, e os estados e municípios precisam garantir condições estruturais para o uso pedagógico da tecnologia.

A alfabetização infantil deve chegar até o digital e transformar nossos pequenos cidadãos em mentes pensantes e críticas. É preciso ensinar a verificar fontes e questionar resultados gerados por IA. Além disso, compreender como funcionam os algoritmos também deve fazer parte do currículo escolar.

Formação docente e capacitação em IA

Um dos maiores desafios enfrentados pelo Professor na Era da IA é a falta de formação específica. Muitos docentes não tiveram contato com ferramentas de IA durante sua formação inicial e, por isso, não possuem conhecimentos básicos para explorá-las pedagogicamente.

Investir em capacitação é estratégico.

O Programa de Inovação Educação Conectada, por exemplo, é uma iniciativa do governo federal que visa promover a integração da tecnologia nas escolas. No entanto, ainda há um longo caminho para garantir que todos os professores estejam aptos a atuar de forma crítica, criativa e segura com IA.

Experiências em escolas públicas brasileiras

Algumas redes de ensino já começaram a experimentar o uso pedagógico da inteligência artificial. Em São Paulo, por exemplo, escolas estaduais utilizaram plataformas adaptativas para apoio em matemática e língua portuguesa.

No Ceará, professores desenvolveram projetos integrando IA com análise de dados e formação cidadã. Essas experiências mostram que, quando bem orientada, a IA pode se tornar uma aliada poderosa no enfrentamento das desigualdades educacionais.

É assim que o Professor na Era da IA deixa de ser apenas um operador de tecnologia, mas um mediador que contextualiza, adapta e potencializa o uso pedagógico dessas ferramentas.

No âmbito internacional, a UNESCO publicou, em 2021, o documento Recomendação sobre a Ética da Inteligência Artificial, que reforça a necessidade de garantir que o uso de IA respeite os direitos humanos, a equidade e a inclusão.

O Professor na Era da IA também é protagonista desse debate global, pois é ele quem está na linha de frente para implementar essas diretrizes com senso crítico.

Experiências em países como Finlândia e Canadá mostram que o investimento em formação docente e o foco na mediação são caminhos eficazes para integrar a tecnologia sem perder o foco humano da educação. A lição é clara: a tecnologia não substitui o vínculo pedagógico.

A presença da inteligência artificial no ambiente educacional não é mais uma hipótese futura. É um fato concreto.

Ferramentas baseadas em IA já estão sendo utilizadas por alunos, professores e gestores escolares em diversas etapas do processo de ensino e aprendizagem. Diante dessa transformação, é fundamental entender que o papel do professor não se torna obsoleto, mas ainda mais relevante.

O professor é quem pode garantir que o uso dessas tecnologias não seja apenas técnico, mas também ético e formativo.

É ele quem pode orientar os alunos a usar a IA de forma crítica, responsável e produtiva — como apoio à aprendizagem, e não como atalho para evitar o esforço intelectual. Além disso, é o professor que tem a sensibilidade necessária para interpretar contextos, acolher estudantes em suas singularidades e promover o pensamento reflexivo.

Para isso, é urgente investir na formação continuada dos educadores.

Iniciativas que incentivem o domínio das ferramentas tecnológicas, mas também o debate sobre seus impactos, devem ser priorizadas por escolas, redes públicas e privadas. Afinal, o avanço da IA na educação é inevitável. O que podemos (e devemos) decidir é se ela será usada como ferramenta de exclusão ou como instrumento de transformação.

Essa escolha está, sobretudo, nas mãos de quem ensina.

Então, se você é educador e quer se preparar de forma prática e acessível para esse novo cenário, o Instituto Conhecimento Liberta oferece o curso Inteligência Artificial na Prática. Nele, você vai aprender a usar ferramentas de IA com consciência, ética e criatividade, fortalecendo ainda mais o seu papel na sala de aula.

Fonte: ICL Notícias em 25/07/2025.


quinta-feira, 31 de julho de 2025

Faculdade paraguaia sob investigação: Polícia Federal investiga FICS por oferecer diplomas de mestrado e doutorado sem autorização


Delegado apura como instituição teve títulos de pós-graduação validados no país, mesmo sem autorização oficial

A atuação da Facultad Interamericana de Ciências Sociales (FICS), sediada no Paraguai, está na mira das autoridades brasileiras. Um ofício da Polícia Federal, datado de 17 de junho de 2025, revela que a Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários (DELEFAZ/DRPJ/SR/PF/DF) está apurando como a instituição conseguiu ter diplomas de mestrado e doutorado reconhecidos no Brasil, mesmo operando em aparente irregularidade no país de origem.

De acordo com o documento oficial, a FICS não possui registro ativo junto ao Ministério da Educação e Ciências do Paraguai (MEC-PY) nem no Conselho Nacional de Educação Superior (CONES) — o que inviabilizaria, segundo a legislação brasileira, o reconhecimento de seus títulos por universidades e órgãos públicos no Brasil. O caso foi registrado sob o número 2025.0053314-SR/PF/DF.

No site oficial da FICS (https://fics.edu.py/), a instituição divulga uma série de programas de mestrado e doutorado em áreas como Saúde, Psicologia, Educação, Direito e Administração. No entanto, a Lei 2972/2006 do Paraguai, que criou o Instituto Superior Interamericano de Ciências Sociais, autoriza a atuação da instituição apenas no campo das Relações Internacionais. Qualquer expansão para outras áreas dependeria de nova legislação ou credenciamento específico, o que não foi identificado nos registros públicos paraguaios.

Em 2018, o CONES suspendeu o registro de diplomas emitidos pela FICS, colocando em xeque a legalidade de novos títulos expedidos após essa data. Isso fere diretamente a Resolução CNE/CES nº 01/2022, do Ministério da Educação brasileiro, que exige, em seu artigo 18, §4º, inciso II, que o curso estrangeiro tenha regularidade no país de origem para ser reconhecido no Brasil.

A ausência de clareza quanto à validade dos cursos da FICS levanta suspeitas de que centenas de estudantes brasileiros possam ter sido enganados. Muitos buscavam uma titulação rápida e de menor custo, mas agora se deparam com a possibilidade de seus diplomas não terem qualquer valor legal.

Tentativas de contato com a FICS e com instituições brasileiras que reconheceram seus diplomas não tiveram sucesso — acredita-se que o recesso acadêmico de meio de ano esteja dificultando as respostas. Ainda assim, o espaço segue aberto para manifestação das partes envolvidas.

Reconhecimento de diplomas estrangeiros: cuidados antes de investir em cursos fora do Brasil

O caso da FICS escancara um problema recorrente enfrentado por brasileiros que buscam cursos superiores ou de pós-graduação no exterior: a falta de regularidade e o risco de invalidade no Brasil. Apesar de parecer atraente cursar mestrado ou doutorado fora do país por valores mais acessíveis ou pela facilidade burocrática, é essencial estar atento aos requisitos legais.

A legislação brasileira exige que qualquer diploma obtido fora do Brasil passe por um processo de reconhecimento em universidades públicas credenciadas para isso. Esse reconhecimento depende de dois critérios principais: equivalência do conteúdo programático e regularidade da instituição no país de origem.

Segundo a Resolução CNE/CES nº 01/2022, o diploma só pode ser aceito se o curso for considerado legal onde foi ministrado. Ou seja, mesmo que o curso seja real, se a instituição estiver irregular — como parece ser o caso da FICS — o reconhecimento no Brasil torna-se impossível.

Cursos oferecidos à distância, especialmente em instituições privadas do exterior com operações duvidosas, devem ser observados com ainda mais rigor. A promessa de titulação rápida, com poucos meses de aula e valores baixos, costuma ser o primeiro sinal de alerta.

No caso da FICS, o desenrolar da investigação da Polícia Federal poderá levar à anulação de títulos já reconhecidos e até a responsabilização criminal de intermediários e instituições que facilitaram esse processo. Para os estudantes, a situação é dramática: perder tempo, dinheiro e enfrentar insegurança jurídica quanto à validade de sua formação.

Servidores públicos que usaram diplomas ilegais para obtenção de benefícios financeiros podem ser até condenados a restituir os cofres públicos os valores recebidos – mesmo que sejam inocentes e não tenham conhecimento sobre a ilegalidade do curso, pois a omissão quanto à verificação da legalidade do curso constitui um ato ilícito indenizável.

A recomendação final é clara: antes de buscar um título internacional, informe-se bem. O barato pode sair caro — e o diploma, sem valor.

Fonte: Carol do Jornalismo imprensa@marcoadv.com em julho de 2025.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

UNESCO: Acesso digital cresce, mas uso pedagógico segue limitado nas escolas


Relatórios de 2023 e 2025 destacam lacunas no uso de tecnologia na educação e apontam a necessidade de abordagens equilibradas com mediação humana

Em meio ao aumento do uso de ferramentas digitais em sala de aula, o relatório global de monitoramento da educação da UNESCO de 2023 revela lacunas estruturais que dificultam a adoção eficaz dessas tecnologias. Segundo o documento, apenas cerca de 10% dos estudantes de 15 anos, mesmo em países ricos, utilizam dispositivos digitais por mais de uma hora por semana em matérias como matemática e ciências. Além disso, apenas metade dos países avaliados possui padrões para o desenvolvimento de habilidades em TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) entre professores.

Outro destaque do documento é a concentração de produção de conteúdo: cerca de 90% dos recursos educacionais abertos em repositórios universitários são provenientes da Europa e da América do Norte, sendo 92% em inglês. Isso limita o alcance e a diversidade cultural do material disponível, especialmente em países de renda média e baixa.

O relatório mais recente da UNESCO, publicado em 2025, identifica um retrocesso : segundo os dados do TIMSS, a pandemia de COVID-19 afetou de forma desproporcional o desempenho das meninas em matemática, especialmente em países de renda média e baixa. O resultado reforça a importância de abordagens educacionais que combinem tecnologia com acompanhamento humano para evitar o aprofundamento das desigualdades.

Para ilustrar essa abordagem equilibrada, entre as plataformas que combinam tecnologia e mediação humana está o TutorMundi, que oferece monitoria escolar, aulas particulares e orientação de estudos com tutores humanos, utilizando recursos de IA apenas como apoio. Em 2024, a plataforma registrou 47.846 horas de monitoria, cobrindo majoritariamente matemática, física, química e biologia. Todos os atendimentos são realizados por tutores de universidades brasileiras como USP, ITA, Unicamp, UFRJ e UFPE.

Segundo o CEO do TutorMundi, Rapha Coe, o foco da plataforma busca preencher lacunas que o uso isolado de tecnologia não resolve. “A tecnologia pode ser útil, mas sem presença humana no processo pedagógico, ela frequentemente falha em engajar o estudante ou responder às suas dúvidas em tempo real”, afirma.

Ainda de acordo com a UNESCO, quase um quarto dos países já proibiu o uso de smartphones em escolas, enquanto menos de 15% possuem leis que garantem a privacidade de dados educacionais. A organização reforça que, antes de ampliar o uso de tecnologia, os países precisam discutir seus impactos sociais, ambientais e econômicos no longo prazo.

Fonte: Rapha Coe - TutorMundi - rapha.coe@tutormundi.com

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Prova Nacional dos Professores reúne concursos de 1500 cidades e 22 estados


A Prova Nacional Docente (PND), um concurso nacional para professores, irá juntar concursos de mais de 1,5 mil municípios de 22 estados. Os professores que fizerem a prova poderão usar o teste como etapa única ou como uma fase de seleção em seus concursos públicos ou processos simplificados de contratação de professores.

O teste irá avaliar professores recém-formados, mas também servirá como um concurso unificado para estados e cidades que aderirem a ele. As redes de ensino que usarem PND para ingresso de professores já em 2026 irão regulamentar seu uso por meio de edital ou ato normativo.

Já os alunos de Licenciaturas e Pedagogia que estão se formando são obrigados a fazer a prova mesmo em cidades que não aderiram ao teste. Os formandos serão inscritos pelos seus coordenadores de curso, e poderão usar suas notas  nos concursos disponíveis.

Adesão a prova

As redes estaduais que fazem parte da iniciativa são Acre, Amapá, Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe, São Paulo e Tocantins.

Algumas prefeituras na lista são de estados que não aderiram a prova, pois elas têm autonomia para contratar seus próprios professores, como é o caso do Rio de Janeiro.

Veja a lista completa aqui

Professores formados podem se inscrever no concurso a qualquer momento da carreira, e a prova servirá de forma semelhante ao Concurso Público Unificado.

De acordo com o edital,  a prova terá cinco horas e meia de duração, e será composta por 30 questões de múltipla escolha com conteúdos transversais pedagógicos comuns a todas as áreas e mais uma discursiva para para avaliar clareza, coerência, estratégias argumentativas, vocabulário e gramática.

Além disso, haverá mais 50 questões de múltipla escolha envolvendo situações-problema e estudos de caso de cada área específica. Nessa lista, estão Pedagogia e as licenciaturas de Artes Visuais, Biologia, Ciências Sociais, Computação, Educação Física, Filosofia, Física, Geografia, História, Letras Português, Letras Português e Espanhol, Letras Português e Inglês, Letras Inglês, Matemática, Música e Química.

Calendário do PND

Solicitação da isenção da taxa de inscrição: 30 de junho a 4 de julho.

Resultado da solicitação de isenção: 7 de julho.

Inscrição: 14 a 25 de julho.

Pagamento da taxa de inscrição: 14 a 31 de julho.

Solicitação de tratamento pelo nome social e de atendimento especializado: 14 a 25 de julho.

Aplicação das provas: 26 de outubro.

Divulgação das versões preliminares do gabarito das questões objetivas e do padrão de resposta da questão discursiva: 28 e 29 de outubro.

Recurso da versão preliminar do gabarito e do padrão de resposta da questão discursiva: 28 a 29 de outubro.

Divulgação final do gabarito e do padrão de resposta da questão discursiva: 11 de novembro.

Divulgação da correção preliminar da resposta da questão discursiva: 25 de novembro.

Recurso da correção da resposta da questão discursiva: 25 e 26 de novembro.

Divulgação do resultado final da Prova Nacional Docente (PND): 10 de dezembro.

Fonte: ICL Notícias em 08/07/2025.

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Indicadores educacionais avançam em 2024, mas atraso escolar aumenta


Em 2024, o Brasil tinha 9,1 milhões de pessoas com 15 anos ou mais de idade analfabetas, correspondendo a uma taxa de analfabetismo de 5,3%, a menor da série histórica iniciada em 2016. Essa taxa caiu de 6,7%, em 2016, para 5,3%, em 2024. Houve redução de 0,1 p.p. frente à taxa de 2023 (5,4%), o equivalente a menos 197 mil pessoas analfabetas no país, no período. São informações do módulo anual da PNAD Contínua sobre Educação, divulgado hoje pelo IBGE.

O Nordeste concentrava 55,6% (ou 5,1 milhões) das pessoas analfabetas do país e o Sudeste vinha a seguir, com 22,5% (ou 2,1 milhões de pessoas).

Em 2024, havia 5,1 milhões de analfabetos com 60 anos ou mais no país, o que corresponde a uma taxa de 14,9% para esse grupo etário. Entre os grupos mais jovens, os percentuais diminuem progressivamente: 9,1% entre as pessoas com 40 anos ou mais, 6,3% entre aquelas com 25 anos ou mais e 5,3% na população com 15 anos ou mais.

Para William Kratochwill, analista do IBGE, “esses dados indicam que o analfabetismo segue fortemente associado à idade. As novas gerações estão tendo maior acesso à escolarização e sendo alfabetizadas na infância. A diferença de quase 10 p.p. entre as taxas de analfabetismo dos mais jovens e dos idosos evidencia esse caráter etário e reforça a importância de políticas específicas para alfabetização de adultos”.

Em 2024, a taxa de analfabetismo entre mulheres de 15 anos ou mais de idade foi 5,0%, enquanto a dos homens foi 5,6%. A redução em relação a 2023 foi de 0,2 p.p. para as mulheres. Para William, “a convergência das taxas por sexo, especialmente entre os mais velhos, sugere avanços na escolarização feminina nas gerações mais recentes, embora o legado de desigualdade educacional do passado ainda esteja permaneça”.

Em 2024, 3,1% das pessoas de cor branca com 15 anos ou mais de idade eram analfabetas, enquanto entre pessoas pretas ou pardas do mesmo grupo de idade, a taxa foi de 6,9%. A diferença se acentua entre os idosos: na faixa de 60 anos ou mais, 8,1% das pessoas brancas eram analfabetas, contra 21,8% entre as pretas ou pardas. O analista do IBGE observa que, “em relação a 2023, houve uma queda de 0,9 p.p. entre as pessoas pretas ou pardas com 60 anos ou mais de idade, um avanço que não reduziu significativamente o hiato histórico entre os grupos”.

Educação básica obrigatória já chega a 56,0% das pessoas com 25 anos ou mais

No Brasil, a proporção de pessoas de 25 anos ou mais de idade que terminaram a educação básica obrigatória – ou seja, concluíram o ensino médio ou níveis mais altos – alcançou 56,0% em 2024, o maior percentual da série histórica, iniciada em 2016 (46,2%).

Em 2024, 57,8% das mulheres com 25 anos ou mais de idade haviam completado, ao menos, a educação básica obrigatória, contra 54,0% dos homens. Em relação a 2023, houve crescimento em ambos os sexos, indicando uma tendência positiva no acesso à escolarização.

Entre as pessoas de cor branca, 63,4% haviam concluído o ciclo básico educacional, contra 50,0% das pessoas de cor preta ou parda, resultando em uma diferença de 13,4 p.p. entre esses grupos em 2024. William lembra que “essa diferença praticamente não se alterou desde 2023, quando era de 13,5 p.p., refletindo as persistentes desigualdades no acesso à educação”.

20,5% das pessoas com 25 anos ou mais do país têm nível superior completo

O percentual de pessoas com o ensino médio completo passou de 30,6%, em 2023, para 31,3%, em 2024. E a proporção de pessoas com nível superior completo passou de 19,7% para 20,5%, no mesmo período. Esses dois indicadores também estão no nível mais alto da série, iniciada em 2016.

No outro extremo, 5,5% das pessoas com 25 anos ou mais eram sem instrução, 26,2% possuíam o ensino fundamental incompleto, 7,4%, o ensino fundamental completo e 4,9%, o ensino médio incompleto. Esses quatro grupos com nível de escolaridade até fundamental completo vêm diminuindo desde 2016, atingindo os menores percentuais da série histórica em 2024.

Média de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais chega aos 10,2 anos

Em 2024, a média de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade no Brasil foi de 10,1 anos, acima dos 9,9 anos observados em 2023. Em 2016 essa média era de 9,1 anos.

As mulheres continuam com maior escolaridade média (10,3 anos) em comparação aos homens (9,9 anos). Quanto à cor ou raça, a diferença segue expressiva: pessoas brancas alcançaram 11,0 anos de estudo, enquanto pessoas pretas ou pardas atingiram 9,4 anos.

93,4% dos jovens de 15 a 17 anos estão na escola, taxa inferior à preconizada pela LDB

Em 2024, 10,4 milhões de crianças de 0 a 5 anos de idade cursavam escola ou creche, em todo o país. A taxa de escolarização entre as crianças de 0 a 3 anos alcançou 39,8%, (ou 4,4 milhões de crianças), mantendo tendência de crescimento: 1,1 p.p. em relação a 2023 e de 9,5 p.p. em relação a 2016. Entre as crianças de 4 a 5 anos, a taxa de escolarização foi de 93,4%, com ligeira alta ante 2023 (92,9%), consolidando a ampla cobertura nessa etapa da educação infantil.

Na faixa etária de 6 a 14 anos de idade, a escolarização atingiu 99,5% (ou 26,2 milhões de crianças), mantendo-se praticamente estável desde 2016 (99,2%) e evidenciando a virtual universalização do acesso à escola nessa faixa. Entre os jovens de 15 a 17 anos, a taxa foi de 93,4%, ainda abaixo do previsto pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Nos grupos de 18 a 24 anos e 25 anos ou mais, os percentuais de escolarização foram de 31,2% e 5,1%, respectivamente.

Para William, “a estabilidade da escolarização nas faixas etárias mais jovens e o seu aumento entre crianças de 0 a 3 anos indicam avanços consistentes no acesso à educação infantil. Mas o fato de a taxa entre jovens de 15 a 17 anos ainda não alcançar a universalização reforça a necessidade de políticas de combate à evasão no ensino médio”.

Norte e Nordeste têm maior carência de creches

Em 2024, no Brasil, 63,6% das crianças de 0 a 1 ano e 53,3% das crianças de 2 a 3 anos que não frequentavam creche estavam fora da escola por opção dos pais ou responsáveis.

O segundo motivo mais citado foi a falta de escola/creche na localidade, a falta de vagas ou a não aceitação da matrícula por causa da idade da criança. Entre as crianças de 0 a 1 ano, 30,1% dos responsáveis apontaram esse fator; entre as de 2 a 3 anos, o percentual foi de 39,0%.

Norte e Nordeste se destacaram como as regiões mais afetadas por esse tipo de barreira: no Norte, 35,6% dos bebês e 46,8% das crianças de 2 a 3 anos estavam fora da creche por esse motivo; no Nordeste, os percentuais foram 38,5% e 42,2%, respectivamente. Para o analista do IBGE, “isso demonstra o maior desequilíbrio entre oferta e demanda por escola/creche ou disponibilidade de vagas na educação infantil nessas regiões”.

País segue abaixo das metas do PNE para redução do atraso escolar

Em 2024, 94,5% das crianças de 6 a 14 anos frequentavam o ensino fundamental, que é a etapa escolar idealmente estabelecida para essa faixa etária. Esse leve retrocesso em relação a 2023 (94,6%) é o menor valor da série iniciada em 2016 e permanece abaixo da meta de 95,0% estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE).

Já no grupo de 15 a 17 anos de idade, 76,7% frequentavam ou concluíram o ensino médio (etapa adequada para esse grupo etário) em 2024, uma alta de 1,7 p.p. ante 2023. Apesar do avanço, o indicador permanece 8,3 p.p. abaixo da meta de 85% prevista no PNE até 2024.

Em 2024, a taxa de escolarização das pessoas de 18 a 24 anos foi de 31,2%, uma leve alta ante 2023 (30,5%). No entanto, apenas 27,1% desses jovens estavam cursando a etapa adequada para a idade (ensino superior). Os demais 4,1% apresentavam atraso escolar. A proporção de jovens que não frequentavam a escola e não haviam concluído a etapa esperada atingiu 64,6%, enquanto apenas 4,2% não frequentavam por já terem concluído o ensino superior.

Atraso escolar é maior entre pretos e pardos

No grupo dos 18 a 24 anos de idade, 37,6% das pessoas brancas estavam estudando e 37,4% estavam na etapa ideal. Entre as pessoas pretas ou pardas nessa faixa etária, a taxa de escolarização foi de 27,1%, com 20,6% na etapa ideal.

A proporção de jovens pretos ou pardos que não frequentavam e não haviam concluído a etapa ideal foi de 70,0%, enquanto entre os brancos foi de 56,2%, diferença de quase 14 p.p., o que evidencia desequilíbrio nessa categoria. Além disso, 6,2% dos brancos já haviam concluído a graduação, contra apenas 2,9% dos pretos ou pardos.


A meta 12 do PNE prevê elevar a taxa de frequência escolar líquida no ensino superior para 33% até 2024, mas o percentual alcançado pelo país foi 27,1%. O analista do IBGE observa que “a meta 12 foi superada apenas pelas pessoas brancas. Entre pretos ou pardos, os números permanecem muito abaixo do esperado. Os desafios do país envolvem reduzir as desigualdades de acesso ao ensino superior, enfrentar o atraso escolar e garantir a permanência dos jovens na escola”.

8,7 milhões de jovens abandonaram ou nunca frequentaram a escola

Entre os jovens de 14 a 29 anos do país, 8,7 milhões não haviam completado o ensino médio em 2024, por terem abandonado a escola sem concluir essa etapa ou por nunca a terem frequentado. Desses jovens, 59,1% eram homens e 40,9% eram mulheres, 26,5% eram brancos e 72,5% eram pretos ou pardos. Em 2023, esse contingente era de 9,3 milhões e em 2019, chegava a 11,4 milhões.

Ainda nesse grupo etário, os maiores percentuais de abandono ocorreram a partir dos 16 anos: com 16,5% nessa idade, 19,9% aos 17 anos e 20,7% aos 18 anos. Ainda assim, o abandono escolar precoce continua presente nas idades correspondentes ao ensino fundamental: 6,5% haviam deixado a escola até os 13 anos e 6,8% aos 14 anos.

O abandono precoce até os 13 anos de idade foi mais elevado no Nordeste (7,8%) e no Norte (6,1%), mas o Sul (5,9%) também apresentou percentuais relevantes.

O percentual de abandono antes dos 14 anos (13,3% no total) indica saídas durante o ensino fundamental, etapa que deveria estar universalizada. Mas o grande marco da transição escolar continua sendo a idade de 15 anos, quando o percentual de abandono escolar alcança 12,6%, quase o dobro da taxa aos 14 anos (6,8%). William ressalta que “isso pode estar ligado à percepção de utilidade do ensino médio ou, ainda, à necessidade de entrada precoce no mercado de trabalho”.

Trabalho, falta de interesse e gravidez afastam os jovens da escola

Em 2024, o principal motivo para os jovens de 14 a 29 anos abandonarem a escola ou nunca a terem frequentado foi a necessidade de trabalhar, mencionado por 42,0% dos entrevistados. O segundo motivo mais citado foi não ter interesse em estudar (25,1%).

Entre os homens de 14 a 29 anos de idade que abandonaram ou nunca frequentaram a escola, o principal motivo declarado foi a necessidade de trabalhar (53,6%). Em seguida, aparecem não ter interesse em estudar (26,9%) e problemas de saúde permanente (4,2%).

Entre as mulheres, o motivo mais citado foi a necessidade de trabalhar (25,1%). Em seguida, vinham a gravidez (23,4%) e a falta de interesse (22,5%). Além disso, 9,0% delas indicaram a realização de afazeres domésticos ou cuidados com outras pessoas. Entre os homens, apenas 0,8% apontaram essa justificativa para o abandono escolar. Para o analista do IBGE, “esses resultados evidenciam que, além da condição econômica, as responsabilidades reprodutivas e domésticas ainda estão entre os principais entraves para a permanência das mulheres jovens na escola. Para os homens, a atribuição do trabalho remunerado é o fator marcante para o abandono escolar”.

18,5% dos jovens de 15 a 29 anos do país não trabalham nem estudam ou se qualificam

Em 2024, entre as 48,0 milhões de pessoas de 15 a 29 anos de idade no país, 18,5% não estavam ocupadas, não estudavam e nem se qualificavam. Em 2023, esse percentual era 19,8% e, em 2019, chegava a 22,4%. Já as proporções de jovens nesse grupo etário que estavam ocupados e não estudavam ou se qualificavam seguiram o rumo oposto: foram de 37,3% em 2019 para 39,4% em 2023, chegando a 39,9% em 2024.

Entre as mulheres, 24,7% não estavam ocupadas, nem estudando ou se qualificando e, entre os homens, esse percentual foi de 12,5%. Com relação à cor ou raça, o percentual de pessoas pretas ou pardas que não estudavam, não se qualificavam e não estavam ocupadas (21,1%) foi consideravelmente superior ao de pessoas brancas na mesma condição (14,4%).

A proporção de pessoas que não estavam ocupadas, nem estudando ou se qualificando varia bastante com a idade: era de apenas 4,0% no grupo de 15 a17 anos, subia para 22,4% no grupo dos 18 a 24 anos e recuava para 21,0% no grupo dos 25 a 29 anos.

Entre 2019 e 2024, número de pessoas frequentando o ensino médio técnico cresceu 28,8%

Em 2024, entre os 9,0 milhões de estudantes do ensino médio no país, 9,2% frequentavam curso técnico de nível médio ou curso normal (magistério) contra os 7,0% verificado no ano de 2019. O número de pessoas que frequentavam o ensino médio técnico chegou a 832 mil pessoas, 28,8% a mais que em 2019, quando 646 mil pessoas frequentavam esse tipo de curso.

De 2019 para 2024, o aumento do percentual de pessoas que frequentavam curso técnico de nível médio ou curso normal (magistério) foi maior entre as mulheres (2,4 p.p.), passando de 7,0% para 9,4%. Em valores absolutos, o crescimento foi de 31,9%. Para o sexo masculino, houve aumento de 25,6%, registrando 402 mil homens em 2024. A participação desse tipo de curso entre os homens cresceu 2,0 p.p., indo de 7,0% em 2023 para 9,0% em 2024.

De 2023 a 2024, frequência à qualificação profissional cresce 8,8%

Em 2024, o número de pessoas de 14 anos ou mais de idade que estudaram até o ensino fundamental (regular ou EJA) e aquelas que frequentaram no máximo o ensino médio ou curso equivalente sem o completar foi de 71,5 milhões, 2,3% a menos que em 2023 (73,2 milhões). Apesar dessa redução, o contingente que frequentava um curso de qualificação profissional aumentou 8,8% de 2023 para 2024, chegando 569 mil alunos.

Em 2024, a categoria outra instituição particular que, historicamente, é o principal local da realização dos cursos de qualificação profissional, foi escolhido por 47,4% dos estudantes. Instituição dos Serviços Nacionais de Aprendizagem responderam por 21,4%, enquanto 18,5% dos alunos realizaram o curso em instituição pública, e 12,8%, no empreendimento em que trabalhava.

A PNAD também mostrou que, em 2024, entre todas as pessoas do país que já haviam pelo menos frequentado o nível superior, 72,6% (quase três em cada quatro) tinham cursado o nível médio exclusivamente na rede pública.

Da mesma forma, entre todas as pessoas do país que já haviam pelo menos frequentado um curso de especialização, mestrado ou doutorado, 59,3% haviam cursado o nível médio inteiramente em escolas públicas.

Para o analista do IBGE, “esses resultados indicam a capacidade da rede pública em formar capital humano para avançar a níveis de ensino mais elevados, como a graduação e a pós-graduação. Embora exames internacionais evidenciem a necessidade de melhoras no ensino público, esse resultado é um sinal claro de que os alunos da rede pública têm chances reais de acesso à educação de nível superior”.

Mais sobre a pesquisa

Além das informações conjunturais sobre o mercado de trabalho, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua investiga, anualmente, temas estruturais relevantes para a compreensão da realidade brasileira. No módulo sobre Educação, esta pesquisa analisa o analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, o nível de instrução e número médio de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais, a taxa de escolarização e as taxas ajustadas de frequência escolar líquida, além da condição de estudo e situação na ocupação das pessoas com 15 a 29 anos de idade, entre outros indicadores.

A partir do segundo trimestre de 2020, ano inicial da pandemia de COVID-19, o IBGE alterou a forma de coleta dos dados da PNAD Contínua, passando a realizar as entrevistas, antes presenciais, exclusivamente por telefone, até o final do segundo trimestre de 2021. Essa modalidade de obtenção dos dados gerou impactos na coleta e, consequentemente, uma redução considerável na taxa de aproveitamento da amostra, em 2020 e 2021. Devido à ausência de tais informações, a série histórica da pesquisa abrange o período de 2016 a 2019 e os anos de 2022 a 2024.

Fonte: Agência IBGE Notícias em 13/06/2025.

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Professor da rede privada e a exploração capitalista. Por Valter Mattos da Costa*


Na escola privada que fatura com o ensino, docentes celetistas sofrem exaustão, cobranças abusivas e instabilidade

No ambiente da rede particular, o professor celetista não consegue cultivar sua vocação – sobrevive à lógica do lucro. Salários baixos e contratos instáveis têm precarizado a atuação desses educadores, que enfrentam jornadas exaustivas sem respaldo ou plano de carreira.

As salas superlotadas pressionam o trabalho docente. Com turmas inchadas, o tempo por aluno diminui, e o esforço individual se torna insustentável. Em paralelo, cresce a cobrança por resultados: metas numéricas impostas pela gestão e proprietários corroem o sentido pedagógico e forçam o profissional da educação a virar estrategista de desempenho.

Além da quantidade de alunos, soma-se a arrogância de pais e estudantes. Exigem atenção imediata, se indignam por notas baixas e cobram explicações. Em muitos casos, ignoram o cansaço acumulado do profissional – que é chamado, sem cerimônia, a oferecer reforço extracurricular e a produzir conteúdo para plataformas digitais, sem remuneração extra.

Os relatos de professores são contundentes: muitos acumulam tarefas didáticas, pedagógicas e tecnológicas, sem direito a pausas ou qualquer tipo de compensação. A rotina é exaustiva – e naturalizada como parte do ofício.

Essa realidade espelha relações de produção típicas do capitalismo: docentes tornam‑se proletários da educação privada, vendendo sua força de trabalho por salários que muitas vezes não superam R$ 2.285 mensais. Esse valor está 47 % abaixo da média da OCDE – calamidade nacional que penaliza professores em todas as redes (OECD, Education at a Glance 2023 – Brazil Country Note, 2023).

Relatos de professores apontam que a exploração exacerbada intensifica o adoecimento da categoria. Síndrome de burnout, depressão e ansiedade invadem a sala de aula e inviabilizam a permanência no magistério.

Aqui, no portal ICL Notícias, foi publicado recentemente matéria conectando capitalismo, burnout e falsa sensação de tempo livre (ICL Notícias, Sistema capitalista, burnout e a ilusão do tempo livre).No caso da rede privada de educação básica, este o fenômeno, como exemplo, intensifica-se: tempo de preparo, correção, reuniões e conteúdos online não contam como jornada, mesmo sendo exigido pela escola. É uma lógica de sobre-exploração que drena energia sem registro ou compensação.

O empregador, afinal, é uma empresa. A escola privada busca rentabilidade, trata a educação como produto e trata o professor como custo a ser minimizado. A instabilidade do contrato celetista, sem matrícula pública, reforça essa lógica: o trabalhador vive sob ameaça constante de demissão ou não-renovação.

Para poderem viver com o que ganham, muitos professores da rede privada são obrigados a trabalhar em várias escolas, distribuídos em três turnos: manhã, tarde e noite, numa escala 7 x 0. Fins de semana e feriados são destinados à correção de provas, preparação de aulas e atualização de plataformas. O que manda é a produtividade.

Para agravar a situação, cresce a prática de terceirizar a administração – e, em alguns casos, até o setor pedagógico – “antes comandada por docentes ou gestores escolares. Padrão que cria uma gestão mais burocrática, fria e distante, que empurra diretores e professores para uma condição funcional, como se ensinassem para uma corporação e não para uma comunidade escolar. Essa mudança fragiliza vínculos, desafia a autonomia docente e transforma o espaço escolar em mera máquina administrativa, voltada a metas em vez da educação.

Nesse cenário mercantil, a figura do educador se despersonaliza. Ensinar deixa de ser partilha intelectual para se tornar entrega de pacotes comerciais, alocados em metas. A pressão por resultados não significa qualidade, mas sim cumprimento de indicadores – que geram bônus a gestores, mas esgotam professores.

Diante dessa realidade, há alguma resistência: movimentos de docentes têm denunciado publicamente a precarização. Reivindicam melhores condições, remuneração digna e limite de jornada. Organizações profissionais apontam que não há educação de qualidade sem valorização real dos trabalhadores.

A crise alcança estudantes também. Professores esgotados transferem ao ensino, resultado e atenção deficitária (sem contar que, em geral, alunos neurodivergentes têm mais dificuldades de apoio do que na rede pública, que também não os atende adequadamente). Em circunstâncias extremas, a forma do capital prevalece sobre o conteúdo pedagógico – e isso compromete a formação integral.

A lógica do lucro, entretanto, impõe silêncio. Escolas cobram produtividade: relatórios, atividades online, correções rápidas, reuniões contínuas etc., etc. etc. Sem contrapartida. O docente fica refém de sua própria dedicação, sem respaldo legal ou institucional.

A superlotação não é circunstancial, mas método. A rede privada opta por mais alunos por turma, reduz custos e aumenta receita. A consequência é abandono – já que alguns docentes jogam a toalha ou migram para a rede pública com estabilidade (na verdade, não poucos acumulam duas matrículas públicas e mais um tanto de escolas particulares).

Como resistir a essa produtividade alucinante e infinita? Como disse, a mobilização coletiva tem tentado ser uma saída. Sindicatos denunciando condições, manifestações, pautas de reivindicação trabalhista, apoio mútuo entre profissionais de ensino oferecem saída e denúncias nas redes sociais. Mas esses esforços esbarram em pressões corporativas e falta de apoio legal.

Se a educação é processo social, essa lógica mercantil fere sua essência. Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul – por onde se olhe, vemos a exploração dos docentes privados: celetistas e desprotegidos. Mais uma vez, a saída pode passar por redes, movimentos e reformas: contratos estáveis, piso digno, limitação de lotação, regulação de aplicativos e plataformas. O lucro não pode eclipsar a formação.

É urgente questionar: qual escola queremos, sendo ela pública ou privada? Uma fábrica de métricas frias ou um espaço de construção coletiva? Até lá, permanecerá o professor da rede particular preso à exploração capitalista, celetista e mal pago – Ah! e exausto.

*Professor de História, especialista em História Moderna e Contemporânea e mestre em História social, todos pela UFF, doutor em História Econômica pela USP e editor da Dissemelhanças Editora.

** Articulando esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do coletivo de educadores.

Fonte: ICL Notícias em 20/06/2025

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Sindicato dos professores de SP denuncia ataque à educação após afastamento de 30 diretores


Secretaria de Educação justifica afastamento por desempenho abaixo da média 

SINESP afirma que medida é ilegal, fere a gestão democrática e abre caminho para privatização das escolas.

O afastamento de 30 diretores da rede municipal de São Paulo por suposto baixo desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), ocorrido na quinta-feira (22/5), acendeu o alerta entre educadores.

Para o Sindicato dos Especialistas de Educação do Ensino Público Municipal de São Paulo (SINESP), a medida representa um “ataque sem precedentes à gestão democrática das escolas” e está inserida em um plano mais amplo da Prefeitura para privatizar a gestão educacional.

“A Prefeitura já tem um projeto para tentar terceirizar ou até privatizar as escolas públicas. E o SINESP já vinha denunciando, inclusive em Brasília, para tentar barrar esses ataques”, afirma Douglas Eduardo Rosa, diretor do Sindicato.

Segundo Douglas, a ação foi tomada sem qualquer diálogo prévio com os profissionais afetados ou com a comunidade escolar. Os gestores foram convocados pelas Diretorias Regionais de Educação (DREs) e informados de que seriam afastados para participar de uma “formação”, enquanto novos responsáveis seriam indicados para o cargo.

Críticas aos critérios de afastamento

De acordo com o SINESP, a troca de diretores foi feita sem qualquer critério técnico transparente ou participação da categoria. O sindicato classifica os novos responsáveis como “interventores” e denuncia que o processo tem sido conduzido de forma autoritária.

“Estão desrespeitando os conselhos escolares, que são compostos por representantes da comunidade. Isso é um desmonte da gestão democrática”, critica Douglas. Ele aponta que a justificativa utilizada pela Secretaria de Educação vai além dos índices do IDEB. “Além das notas, das avaliações externas, estão considerando se o diretor ficou muito tempo na escola ou se tirou poucas licenças médicas”, diz.

Para ele, o uso do IDEB como justificativa é inadequado: “Não faz o menor sentido afastar o diretor só porque a escola não teve avanço na média do IDEB. O IDEB não é para fazer ranking, ele foi criado para fortalecer as políticas públicas de educação básica. Dependendo da situação da escola, um décimo ou dois de crescimento já é um avanço significativo”.

O clima nas escolas é de insegurança e indignação. “Está um clima tenso, de tristeza também, claro, porque estão sendo muito desrespeitados”, lamenta o sindicalista. Ele alerta ainda para os riscos pedagógicos: “Corre o risco de voltarmos a uma educação bancária, como dizia Paulo Freire, que tem como objetivo apenas a classificação. Isso a educação não pode ter.”

O SINESP atribui os afastamentos à Lei Municipal nº 18.221, sancionada no fim de 2024, que permite a avaliação de diretores escolares com base em indicadores como o IDEB, sem considerar as desigualdades sociais e regionais. A lei foi aprovada sem debate com a categoria.

“Foi uma lei aprovada na calada da madrugada, sem discussão com os servidores públicos municipais. Essa é a base para essa medida arbitrária”, o diretor. “Coincidentemente ou não, logo após as eleições, o prefeito já falava publicamente sobre escolas com notas baixas no IDEB. A gente já enxergava o caminho que estavam traçando”, completa Douglas.

Histórico de terceirizações

O diretor sindical ressalta que a terceirização já é uma realidade nas escolas municipais em setores como limpeza e alimentação, e, agora, o mesmo modelo estaria sendo direcionado para a gestão pedagógica.

Além disso, o afastamento dos diretores representa, na visão do sindicato, uma ameaça concreta à estabilidade dos servidores concursados. “ Muitos gestores estão com medo de perder seus cargos, suas escolas. Temos vários diretores com mais de 10 ou até 20 anos na mesma escola. Não faz sentido afastar um profissional com tanta história e colocar no lugar alguém que não conhece a realidade daquela comunidade.É uma forma de precarizar a carreira pública. Quando atacam o diretor, atacam toda a escola e, principalmente, o estudante”, critica Douglas.

Resposta do sindicato

Diante do cenário, o SINESP que está oferecendo apoio jurídico e emocional aos diretores afetados. A entidade já havia ingressado com ação na Justiça contra a Lei nº 18.221, e agora também articula uma frente política com outras entidades da educação para barrar o que considera “um projeto de desmonte da escola pública”.

“Já tivemos vitórias na Justiça em outras frentes, como quando tentaram cortar 33% do salário de alguns gestores. Vamos lutar até o fim”, diz.

O que diz a Prefeitura

Leia a íntegra da nota:

A Secretaria Municipal de Educação (SME) informa que 25 diretores de escolas municipais em tempo integral serão convocados para participar, entre maio e dezembro, de uma requalificação intensiva do Programa Juntos pela Aprendizagem.

Esses profissionais atuam há, pelo menos, 4 anos em unidades prioritárias, selecionadas devido ao desempenho obtido no Ideb e Idep de 2023.

A capacitação, inédita, inclui vivência em outras unidades educacionais e tem como objetivo o aprimoramento da gestão pedagógica para melhorar a aprendizagem de todos os estudantes.

Fonte: ICL Notícias em 25/05/2025