quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Brasil leva 52 ouros em jogos escolares no Bahrein


Estudantes brasileiros conquistaram o primeiro lugar na ISF Gymnasiade, que ocorreu até a última quinta-feira (31) em Manama. O País ficou com 163 medalhas no total

Estudantes brasileiros subiram 163 vezes ao pódio na última edição dos Jogos Mundiais Escolares, chamados oficialmente de ISF Gymnasiade, que se encerraram no Bahrein na quinta-feira, 30/10/24. Nota do Ministério dos Esportes do Brasil informa que a delegação nacional conquistou 52 ouros, 61 pratas e 50 bronzes, ficando em primeiro lugar no quadro de medalhas pela segunda vez seguida.

Participaram da maior competição estudantil do mundo estudantes de 71 países. Eles disputaram 26 modalidades. “Tenho muito orgulho dos resultados alcançados pelos nossos atletas estudantis. O desporto escolar é a base, fundamento importante para a formação de um alicerce futuro para a carreira esportiva. Parabéns para toda a delegação brasileira”, disse o ministro do Esporte, André Fufuca.

O Ministério do Esporte aportou aproximadamente R$ 2 milhões, via Confederação Brasileira do Desporto Escolar (CBDE), responsável pela delegação brasileira, para a participação dos atletas na competição. A próxima Gymnasiade será em 2025, no mês de abril, em Belgrado, na Sérvia, e terá atletas da categoria sub-15. A competição no Bahrein foi sub-18 e a anterior, no Rio de Janeiro, sub-15.

Fonte: Agência de Notícias Brasil-Árabe em 01/11/2024.


quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Ministério das Comunicações prevê banda larga em mais 4 mil escolas em 2024


Empresas de telecomunicações vencedoras do edital terão recursos de fundo do governo para execução do projeto

O Ministério das Comunicações autorizou que as empresas de telecomunicações vencedoras do edital para levar banda larga a escolas públicas do país comecem a implantação do projeto.

A medida foi publicada na quinta-feira (31/10) no Diário Oficial da União. Empresas ganhadoras têm 10 dias para assinarem o Termo de Adesão e iniciarem os trabalhos.

A disputa entre as empresas de telecomunicações em um edital do Conselho Gestor do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) resultará na antecipação da instalação para mais de 4 mil unidades escolares ainda neste ano.

Em agosto deste ano, o Ministério das Comunicações lançou o edital de seleção da renúncia fiscal do Fust para a missão de conectar escolas públicas até 2026. A ação faz parte da Estratégia Nacional de Escolas Conectadas (Enec).

O ministro das Comunicações Juscelino Filho ressaltou que o governo quer agilizar ao máximo a inclusão digital dos brasileiros. “Esse foi o primeiro edital de uma nova modalidade de investimento do Fust, chamada de renúncia fiscal, que criamos para acelerar as nossas ações para conectar escolas ainda este ano”, disse.

Conexão para 5.427 escolas em 2025

O cronograma de atendimento do edital, com recursos do Fust, previa o atendimento de 8 mil escolas até o final de 2025 e de 8 mil até junho de 2026, para um total de 16 mil unidades escolares. As propostas finais apresentadas preveem o atendimento de 4.003 escolas já em 2024, 5.427 em 2025 e 6.014 em 2026.

A disputa entre as companhias levou a uma economia de 24% no investimento previsto inicialmente. O governo federal vai utilizar mais de R$ 512 milhões para conectar 16 mil unidades escolares — pelo valor de referência do edital, seriam necessários R$ 671 milhões.

O Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações tem por finalidades estimular a expansão e o desenvolvimento de novas tecnologias de conectividade para promoção do desenvolvimento econômico e social.

O fundo é administrado por um Conselho Gestor, o CG Fust, que aprova as políticas, as normas, as diretrizes e as prioridades de aplicação de recursos em programas, projetos, planos, atividades, iniciativas e ações e estabelece os critérios de seleção de propostas de aplicação do Fust.

Como funciona a modalidade de renúncia fiscal

Nesta modalidade do Fust, as operadoras poderão utilizar neste ano até 40% do que contribuiriam para o Fust para conectar escolas. Tanto em 2025 quanto em 2026, esse percentual será de até 50%.

A iniciativa faz parte do programa Escolas Conectadas, que tem o objetivo de garantir internet de banda larga e wi-fi para uso pedagógico em escolas públicas. Nela, o Ministério da Educação indica as unidades escolares que necessitam de conectividade e o Ministério das Comunicações providencia a infraestrutura. No total, o investimento previsto é de R$ 8,8 bilhões.

A Estratégia Nacional de Escolas Conectadas é um esforço do governo federal que pretende universalizar o acesso à internet de qualidade nas escolas de educação básica no Brasil até 2026, garantindo que todas tenham energia elétrica e conexão de alta velocidade, bem como distribuição de sinal para os ambientes pedagógicos com rede sem fio, a fim de que sejam usados recursos de ensino e aprendizagem on-line.

Fonte: ICL Notícias em 02/11/2024

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Agronegócio financia lobby para patrulhar livros didáticos


'De Olho No Material Escolar' tem entre seus líderes um ex-executivo da indústria de agrotóxicos

“O que as crianças e os adolescentes estão aprendendo que vai ser bom para o mundo do trabalho?”, perguntou Christian Lohbauer, vice-presidente da associação De Olho No Material Escolar, a uma plateia de políticos e empresários reunidos na capital paulista, no início de outubro. Ele discursava durante evento do Lide, grupo criado pelo ex-governador de São Paulo, João Dória.

“Ela não pode aprender, todos os dias, em todos os materiais, há 30 anos, que tem trabalho escravo na cana-de-açúcar. Ela não pode aprender que o alimento brasileiro está envenenado com agrotóxicos. Ela não pode aprender que a pecuária é responsável pela destruição da Amazônia, porque não é verdade”, o próprio Lohbauer respondeu.

Cientista político e um dos fundadores do Partido Novo, ele lidera uma organização que se apresenta como um grupo de pais e mães apartidários preocupados com o ensino dos filhos. Na prática, porém, trata-se de um movimento financiado por empresas do agronegócio com um objetivo: alterar materiais didáticos para retratar o setor de forma mais positiva.

Com apenas três anos, a De Olho No Material Escolar, conhecida como Donme, cresceu e vem ganhando espaço em instituições públicas. Já fechou parceria com a Universidade de São Paulo (USP), tem portas abertas nas secretarias de Educação e de Agricultura do estado e mantém diálogos com a cúpula do Congresso, em Brasília, na tentativa de influenciar o novo Plano Nacional de Educação (PNE) — que vai estabelecer as diretrizes da educação na próxima década.

Por trás desta atuação, porém, está o financiamento de dezenas de empresários e corporações do agronegócio. A organização declara 70 empresas entre os membros, mas não diz quem são. Um estudo ainda inédito, de pesquisadoras da Faculdade de Educação da USP e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), mostra que na lista estão grandes associações, como a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), que representa companhias como a JBS, a Cargill, o Itaú BBA e a Cosan.

A associação também é financiada pela Croplife Brasil, representante das maiores fabricantes multinacionais de agrotóxicos e que era presidida por Christian Lohbauer até 2023, quando ele deixou o cargo para assumir como vice-presidente da Donme.

“Somos uma entidade que busca a atualização do material escolar com base em conteúdo científico, equilibrado e que gere perspectivas positivas para os estudantes”, afirma a Donme em seu site.

Em conjunto com a USP, por exemplo, a organização criou a “Agroteca”, uma biblioteca virtual com publicações sobre o agronegócio. Nela, é possível encontrar conteúdos que negam que o Brasil seja o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, tema frequente nas falas da Donme.

No entanto, segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), o Brasil lidera com folga o ranking de consumo de pesticidas, quando considerados os dez países com as maiores áreas de lavoura no mundo. A média aqui é de mais de 12 kg aplicados por hectare. Na sequência estão Indonésia (6,5 kg/ha), Argentina (5,9 kg/ha) e Estados Unidos (3 kg/ha).

Negar a responsabilidade da pecuária pelo desmatamento na Amazônia e a existência de trabalho escravo na cana-de-açúcar também fazem parte desta estratégia — ainda que diversos estudos apontem a criação de gado como o principal vetor da destruição na Amazônia, e mesmo que a cana seja um dos setores que mais empregam mão-de-obra escrava, com 1.105 trabalhadores resgatados nos últimos quatro anos.

Especialistas em educação pública ouvidos pela Repórter Brasil classificam a organização como uma versão atualizada do “Escola Sem Partido”, que há uma década passou a fiscalizar o material didático e promover perseguições a professores para impedir uma suposta “doutrinação ideológica” nas escolas.

Para o professor da pós-graduação em Educação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Rodrigo Lamosa, que pesquisa políticas públicas de educação, o posicionamento da organização é, muitas vezes, “absolutamente ideológico e nada científico”.

“Os livros didáticos são produzidos por autores diversos, são avaliados no interior das editoras e depois no Programa Nacional do Livro Didático, que é um dos maiores programas de distribuição de livros públicos e gratuitos do mundo”, afirma Lamosa. “Então, por mais que a gente possa ter divergências e críticas a alguns livros, isso é parte do processo que constitui a diversidade do campo educacional”, complementa

Um dos objetivos do movimento é ir contra essa diversidade para impor uma visão única, opina o professor da Faculdade de Educação da USP, Daniel Cara. “O agronegócio considera que a educação é uma esfera importante para disputa da hegemonia das ideias na sociedade, para disputa da formação de opinião pública”, afirma ele, que é membro da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE).

Lobby da associação mira plano nacional de educação

Inicialmente batizada de “Mães do Agro”, a Donme foi fundada em 2021 pela pecuarista Letícia Jacintho, atual presidente da associação.

Ela faz parte de uma família influente no agronegócio, com empresas e fazendas em São Paulo e Goiás, nos ramos de pecuária, cana-de-açúcar e soja. Letícia é considerada uma das mulheres mais poderosas do agro pela revista Forbes, juntamente com a sua sogra, Helen Jacintho. Também fundadora da Donme, Helen é membro do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Em três anos, a organização conquistou associados em 17 estados e 129 cidades. Entre suas ações, a entidade realiza palestras, treinamentos e análise de materiais escolares. Organiza reuniões com editoras de livros didáticos, além de excursões a feiras do agronegócio para alunos, professores e profissionais das editoras. Atua também no lobby em Brasília.

Apenas neste ano, a organização já se reuniu pelo menos duas vezes com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para debater o Plano Nacional de Educação (PNE). O documento deve ser votado em 2025, com validade para os próximos dez anos.

O documento de referência do plano, divulgado em dezembro, foi alvo de críticas da De Olho No Material. A associação diz que a proposta é pouco plural, carece de “base técnico-científica na abordagem do conteúdo” e apresenta “postura refratária à iniciativa privada”.

As críticas foram apresentadas em uma nota assinada conjuntamente por outras associações do agro, como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Sociedade Rural Brasileira (SRB).

Desde então, a Donme realizou diversas investidas em Brasília. Além dos encontros com Pacheco e Lira, reuniu-se com o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), presidente da Comissão de Educação da Câmara. Em março, o deputado apresentou os resultados de um estudo da Donme, que avaliou as menções ao agro no material escolar, durante uma reunião da Frente Parlamentar Agropecuária.

O deputado corroborou a visão da associação de que os livros didáticos supostamente trazem uma visão distorcida do agro, e prometeu pautar a Comissão de Educação. “Afinal de contas, o agro é que sustenta, e é locomotiva deste país”, justificou.

Já em abril, quando o Senado realizou uma sessão temática para debater o PNE, a Donme indicou vários nomes para discursar. A sessão foi solicitada pela senadora Damares Alvares (Republicanos-DF) a pedido da associação, segundo apurou a Repórter Brasil.

O PNE, porém, só deve avançar quando for analisado o requerimento do deputado federal Rafael Brito (MDB-AL) e de outros 13 parlamentares, para que seja criada uma comissão mista de análise do plano, composta por deputados e senadores. Desde julho o pedido está parado na Câmara.

Para a coordenadora da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda, a Donme está atuando junto com a bancada ruralista em torno do novo PNE, e pode impedir avanços em temas como as mudanças climáticas.

Procurada, a De Olho No Material Escolar disse em nota que trabalha para a melhoria da qualidade do conteúdo didático sobre o agronegócio oferecido às escolas, independentemente do tema. “Nosso principal ponto é que a ciência esteja presente nos livros didáticos com dados e informações técnicas e reais, por isso a parceria com institutos de pesquisas e instituições de ensino especializadas no setor”.

Movimento influencia escolas particulares

Embora já tenha alcançado a cúpula do Congresso, o movimento teve início com uma simples carta enviada a uma escola particular de Barretos, interior de São Paulo.

Letícia Jacintho e outros pais escreveram para um colégio na cidade que utilizava o material didático do sistema Anglo, para criticar como temas como desmatamento e povos indígenas eram abordados. Segundo a carta, “as crianças são incentivadas a manifestar piedade aos índios e repudiar a cultura da cana-de-açúcar [por retirar as terras dos indígenas]”.


O protesto viralizou quando o agrônomo e político Xico Graziano, ex-secretário de Meio Ambiente no governo de José Serra e voz influente no agro, divulgou a história. “Tem coisa errada [nos livros], tem coisa doutrinária, esquerda, esquerdismo”, disse Graziano.

Na carta ao Anglo, os pais afirmavam que a realidade do campo é “totalmente” diversa da retratada nos livros. “A cana-de-açúcar é responsável por uma parcela importantíssima de nossos empregos e renda”, escreveram.

Após o episódio, Letícia decidiu realizar um estudo sobre materiais didáticos, mas faltava o financiamento. Foi quando entrou em cena a Croplife Brasil, associação das fabricantes de agrotóxicos, que era então presidida por Christian Lohbauer.

“A gente [Croplife] foi um dos principais financiadores do estudo, junto com todo um pessoal que eu ajudei a angariar das associações do agro. A pecuária, os exportadores de carne, os exportadores de frango e suínos, açúcar e etanol, que são setores muito afetados [pelos livros escolares]”, lembrou Lohbauer em uma entrevista recente.

Em janeiro de 2023, Lohbauer deixou a presidência da Croplife para embarcar na Donme. Chamado de “professor”, o executivo passou boa parte da carreira em empresas, como a Bayer, e associações ligadas ao agronegócio, como a Abag. Ainda foi candidato a vice-presidente do Brasil pelo partido Novo em 2018.

Ele também é comentarista da Brasil Paralelo, produtora conhecida pela veiculação de conteúdo audiovisual de extrema direita, em um programa ao lado do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP).

O estudo financiado pela Croplife — o mesmo apresentado pelo deputado Nikolas Ferreira à FPA — identificou que a maior parte das menções ao agro em 94 livros didáticos tinham tom negativo. Um dos exemplos apresentados é um poema de 1991 de Ferreira Gullar, que trata das condições precárias dos trabalhadores de cana-de-açúcar. Os resultados da pesquisa são utilizados pela associação em palestras, entrevistas e no lobby.

O discurso da Donme sensibilizou ao menos um representante do sistema Anglo, Mario Ghio, ex-presidente e atual conselheiro da Somos Educação, dona das marcas Anglo, Mackenzie, Ática e Saraiva. Ele se lembrou da carta de Letícia durante o evento do Lide neste mês.

“A gente se conheceu num momento duro, a Letícia veio me dar uma ‘paulada na cabeça’. Ela veio me criticar, e eu falei: ‘você tem razão’. Nós temos autores metropolitanos que viveram uma vida urbana e que acham que o mundo agropecuário é o Jeca Tatu do Monteiro Lobato ou é o destruidor da Amazônia, que eles leem em alguns meios de comunicação. A gente precisou reconhecer o problema, andar pra trás, educar todo mundo”, declarou.

Atualmente, a Somos Educação mantém parcerias com a Donme para a elaboração de vídeoaulas e treinamento para autores e editores. A reportagem não conseguiu confirmar se o material do sistema Anglo é alterado sob orientação da Donme.

Questionada, a Somos Educação declarou que “todo o material didático é atualizado anualmente, seguindo as orientações curriculares do Ministério da Educação (Base Nacional Comum Curricular e Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental), com todo o rigor técnico-pedagógico”. “A Somos Educação se pauta pela pluralidade de ideias e busca manter seus materiais em constante atualização”, finalizou.

Parceria com a USP e aproximação do governo de SP

Não foi apenas o Anglo que abriu as portas para a De Olho No Material. Em Piracicaba (SP), a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, decidiu colocar sua produção acadêmica à disposição da associação em um projeto de divulgação científica.

Assim nasceu em 2022 a “Agroteca”, uma biblioteca virtual com conteúdo do agronegócio. No repositório, porém, não há menções a fatos como  a responsabilidade do agronegócio por queimadas ou desmatamento.

Procurada, a Esalq não respondeu aos questionamentos enviados pela reportagem.

O governo paulista também abriu as portas para a Donme. “O primeiro estado que passou a adaptar os seus materiais próprios, os escritos, até por orientação do [ex-governador João] Dória, foi o estado de São Paulo junto com o movimento De Olho No Material, justamente porque a gente concorda que não dá para demonizar aquilo que nos sustenta”, declarou no evento do Lide o ex-secretário de Educação do estado, Rossieli Soares. Ele já foi secretário de Educação do Amazonas, ministro da Educação do governo Michel Temer e é o atual chefe da pasta no Pará.

A Repórter Brasil questionou a Ssecretaria de Educação paulista sobre mudanças no material didático e parcerias envolvendo a Donme, mas não houve retorno. Já a Donme declarou que não tem qualquer acordo com o governo de São Paulo, apesar de a sua presidente já ter dito em entrevista recente que está negociando com a pasta um treinamento para professores, que se chamará “Mestres do Agro”.

A Secretaria de Agricultura do estado também recebeu a Donme este ano, em reunião em fevereiro sobre materiais escolares. “Precisamos promover conteúdos com embasamento científico e vivência real para os jovens brasileiros”, afirmou após o encontro o secretário da agricultura Guilherme Piai, que também vem de uma família de produtores rurais.

Em setembro, a secretaria anunciou a criação do programa Agro Jovem, “que prevê políticas públicas para integrar as novas gerações ao campo”, iniciativa celebrada pela De Olho No Material.

Para Lamosa,  a Donme utiliza-se de uma estratégia ideológica de disputa de espaço ao criar campanhas afirmando que os livros didáticos e a escola estão de costas para o agronegócio. “É uma falácia dizer que o agro não está dentro da escola. Todas as pesquisas sobre ações que eles vêm produzindo [dentro e fora da escola] mostram que eles estão lá. A questão é que eles querem o monopólio da escola”, finaliza.

Fonte: ICL Notícias com Repórter Brasil em 01/11/2024.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

MEC fará prova única de seleção para professores de escolas públicas


Estados e municípios poderão participar do concurso unificado

O Ministério da Educação (MEC) fará uma prova única para ajudar estados e municípios a selecionar professores para escolas públicas de todo o país. O concurso unificado ficará disponível para estados e municípios que quiserem aderir a avaliação. Atualmente cada ente federado é responsável pelas seleções.

Apelidado de Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) dos professores, a seleção fará parte de um pacote de ações para valorizar os professores brasileiros da educação básica. Entre as medidas está também um “Pé-de-Meia” para as licenciaturas, ou seja, bolsas para apoiar estudantes que ingressarem na universidade para seguir a carreira docente.

As medidas deverão ser anunciadas pelo governo em novembro, como afirmou o ministro da Educação, Camilo Santana, à imprensa, durante as reuniões do G20, em Fortaleza.

O secretário executivo do MEC, Leonardo Barchini, detalhou como deverá ser o Enem dos professores.

Segundo o secretário executivo, essa é uma demanda tanto de estados quanto de municípios. “A seleção de professores é um gargalo nesse país hoje, nós temos um movimento crescente de professores temporários em estados e municípios”, disse o secretário.

De acordo com Barchini, esses entes federados poderão escolher a melhor forma de usar a avaliação elaborada pelo MEC e poderão, inclusive, seguir com os próprios concursos.

“Há um incentivo muito grande que é a organização da prova, que não é algo simples. A gente vai economizar muitos recursos de estados e municípios que gastam bastante fazendo concurso. Então, diria que o maior incentivo que o estado e município poderia ter, além de uma boa seleção e a garantia de uma boa prova, realizada pelo Ministério, é essa questão de poder aderir gratuitamente e de poder economizar recursos para utilizar em outras fontes”, ressaltou, Barchini.

Perguntado a respeito do orçamento para o Enem dos professores, ele garantiu que estão assegurados. “É algo que já está equacionado. Nós já temos recursos suficientes no Ministério para conseguir conduzir”, disse. Já em ao relação ao Pé-de-Meia para as licenciaturas, Barchini disse que a quantidade de bolsas dependerá da disponibilidade orçamentária.

Fonte: Agência Brasil em 31/10/2024.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Diretora de escola diz que apostas em sala de aula estão ‘saindo do controle’


Influenciados por colegas e redes sociais, alunos trocam lanche e mesada por jogos

Com as contas acumulando ou a vontade crescente de comprar algum item, a possibilidade de conseguir dinheiro fácil parece um sonho. Essa busca por soluções rápidas, no entanto, tem levado muitas pessoas a cair em armadilhas, principalmente os mais novos. Segundo pesquisa divulgada pelo Datafolha, 30% dos brasileiros com idades entre 16 e 24 anos já se envolveu com apostas online, o dobro da média nacional, 15%. As famosas bets, casas esportivas legalizadas, são especialmente populares entre os homens, onde 21% afirmam já ter apostado. Enquanto isso, no cenário feminino, esse índice cai para 9%.

Mas se engana quem pensa que a idade mínima dos “jogadores” beira os 16 anos. Um estudo da Unicef, Fundo das Nações Unidas (ONU) para a Infância, revelou que 22% dos adolescentes entrevistados disseram ter apostado em “jogos de azar”, proibidos no Brasil, pela primeira vez aos 11 anos ou menos. A maioria, porém, começou aos 12 anos ou mais, representando 78% dos entrevistados.

Enquadrando-se nas estatísticas, Cauã*, 12 anos, estudante do sexto ano do Ensino Fundamental II em Porto Alegre, relata que começou a apostar ano passado, quando tinha 11 anos. Na época, conheceu as plataformas — como o jogo do “Tigrinho”, Fortune Tiger — por meio de colegas, que frequentemente jogavam em sala de aula ou durante os intervalos. Ao ser questionado sobre a origem do dinheiro que utilizava para os lances iniciais, explicou que primeiro “o site te dá um crédito”, mas depois é necessário desembolsar os valores por conta própria. Ele fazia depósitos na plataforma via Pix.

“Daí, comecei a pegar o dinheiro do lanche e juntar. Às vezes, uso a mesada também. É meio viciante, né? Se tu aposta e ganha, fica querendo mais”, conta o aluno. Durante os primeiros dias, de acordo com ele, apostar era algo pontual, para “se distrair no recreio” e se enturmar com os mais velhos. Depois de um mês, não conseguia mais parar. “Na real, agora eu jogo em todo lugar. Na sala de aula, durante o intervalo… Já teve professor que pegou eu jogando e deu bronca”, diz.

Diretora: ‘crianças não param’

Para a diretora Olívia*, que administra uma escola estadual em Sant’Ana do Livramento (RS), a situação está “saindo do controle”. “As crianças não param. A gente tentou fazer a caixinha dos eletrônicos pra colocar no início da aula e só pegar no final do dia, mas eles escondiam os celulares e usavam no banheiro. Inspetores já relataram que viram alunos jogando parados em frente às pias”, expõe.

No contexto mundial, esta não é a primeira vez que passamos por uma febre de aplicativos utilizados em escolas. Em 2016, com o lançamento de Pókemon GO e um bilhão de downloads, foi possível observar a invasão do “game” dentro do ambiente educacional. Entre relatos de professores e coordenadores, que reclamavam de diversas situações envolvendo a prática do jogo — que consistia em utilizar smartphones para capturar Pokémons no “mundo real”, localizados por meio de GPS —, algumas instituições chegaram a proibir a “caçada” em sala.

Em 2024, o problema se repete. Conforme Cauã, a maioria de seus colegas (meninos) apostam diariamente durante o horário escolar. “Muita gente na escola fala sobre isso, mas é escondido. A galera só não comenta muito pra não ser pego, né?”, diz o estudante.

Há cerca de um mês, o Ministério da Educação (MEC) divulgou que está nos estágios finais da elaboração de um projeto de lei (PL) que visa restringir o uso de celulares em instituições de ensino públicas e privadas no Brasil. A medida, prevista para ser apresentada ainda este ano, integra um conjunto de ações do governo federal voltadas a reduzir o uso de dispositivos eletrônicos por estudantes no ambiente escolar.

Olívia, que tomou conhecimento sobre a PL recentemente, diz ter ficado satisfeita com a proposta, embora não seja completamente efetiva. “Conversando com a gestão, concordamos que esta seria uma ótima manobra para facilitar o dia-a-dia dos professores e do pessoal que trabalha na escola, mas isso não acabaria com o problema. Os alunos continuariam jogando em casa ou em outros lugares. A medida precisa ser mais abrangente”, declara.

A diretora também não responsabiliza apenas os familiares dos estudantes, mas pontua que é preciso ter cuidado. “É claro que a culpa não é dos pais ou responsáveis, porque isso (os sites de aposta) está em todo o lugar. Mas não tem como fazer mais do que estamos fazendo. Ou verificam os celulares em casa, ou as crianças vão continuar viciadas”, afirma.

Ainda segundo o estudante Cauã, que teve seu telefone checado pelos pais algumas vezes ao longo do último ano para verificar se havia jogos de aposta instalados, as reações não foram agradáveis. “Eles viram e ficaram bravos. Nessa última, pegaram meu celular por duas semanas e só mandavam lanche pronto (pra escola)”, conta. O pré-adolescente também relata que chegou a ganhar R$ 500 em uma tentativa, mas no mesmo dia perdeu R$ 700.

Monique*, 13 anos recém completos e colega de Cauã, conta que também entrou para o universo das apostas, mas decidiu largar quando começou a ver os colegas ficarem viciados. “Eu conheci pelos meus amigos. A gente viu uns vídeos no TikTok, uns caras jogando e ganhando muito dinheiro. Aí a gente ficou curioso e decidiu tentar também. Todo mundo do nono ano joga, aí nós temos que jogar também. Mas agora eles jogam o dia todo, só sabem fazer isso”, diz.

Muito divulgadas em redes sociais como o TikTok, de fácil acesso para menores de idade, as plataformas crescem exponencialmente. Em 2023, o Brasil foi o terceiro País que mais esteve envolvido em apostas no mundo, gerando uma despesa que superou os R$ 50 bilhões, segundo estimativa do Banco Central. Atualmente, o gasto médio mensal entre aqueles que apostam é de R$ 263 — e três em cada dez envolvidos relatam gastar mais de R$ 100 por mês com os sites e aplicativos.

Dessa forma, a preocupação com a exposição de crianças e adolescentes a esse tipo de prática se tornou alarmante, o que levou o programa Criança e Consumo, do Instituto Alana, a denunciar a empresa Meta ao Ministério Público do Estado de São Paulo, em junho deste ano. A denúncia se baseou na identificação de influenciadores digitais mirins, com idades entre 6 e 17 anos, que promoviam sites de apostas por meio de links acessíveis a seus seguidores menores de idade.

Links estes que, de alguma forma, chegaram à Monique*, aos seus colegas e, eventualmente, ao Cauã*. Prestes a comemorar seu aniversário de 13 anos, o garoto, que alega ter desinstalado todos os jogos de seus eletrônicos, afirma que “não vale a pena” apostar. “Quando ganho é legal, né? Porque posso comprar jogos. Mas quando perco, é mó frustrante. Às vezes, eu fico pensando: ‘por que eu fiz isso?’”.

Fonte: ICL Notícias em 24/10/2024.

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Professora de robótica da rede municipal de Macaé viaja à NASA após receber prêmio por pesquisa com estudantes


Trabalho de Érica Scheffel com alunos do ensino fundamental fica entre os 10 melhores do país

A Escola Estadual Municipalizada Polivalente Anísio Teixeira entrou para a lista de instituições de ensino com histórias inspiradoras sobre alunos das áreas das Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Uma pesquisa desenvolvida em sala de aula pela professora de Robótica Érica Scheffel, com alunos dos 8° e 7° anos do ensino fundamental, está entre as 10 premiadas no Brasil e levou a professora a uma experiência de imersão na Agência Espacial dos Estados Unidos, a Nasa, em julho deste ano.

Érica Scheffel foi premiada pelo Limitless Global Educator Program, do Limitless Space Institute, que tem convênio com a Nasa e financiamento da IHS Towers of Strenght para levar professores especialistas em suas áreas para a imersão. Foram selecionados projetos que impactam e fazem a Educação com integridade, coragem e imaginação. Na pesquisa, a professora verifica se é possível usar jogos para detectar alterações nos níveis de atenção, memória, raciocínio lógico e controle emocional dos astronautas sob efeitos da microgravidade.

Gabriel Rangel, João Rangel, Guilherme Rosalves, Laura Nunes, Laura Nogueira, Luiany Alvarenga, Pedro Henrique Melo e Pedro César Hortz, com idades entre 13 e 15 anos, são os alunos do 8º ano que participaram do projeto. Dentre os participantes, apenas um aluno é do 7° ano e também o mais novo: Ítalo de Senna, de 12 anos. Eles programaram os protótipos dos jogos que foram exibidos aos avaliadores do programa. Alguns deles falaram sobre a sua participação e como a educação tecnológica pode impactar o seu futuro.

Laura Nogueira, Pedro Henrique Melo e Thays de Paula, todos de 13 anos, desenharam o patch da missão.

— As bandeiras simbolizam a união dos países que participam do projeto. A estação espacial, para onde vão mandar os jogos para testes. O cérebro, o quiz das perguntas que também vão para o espaço. E a Terra somos nós —, explica Laura Nogueira.

Mas qual o impacto do projeto na vida dos alunos? Eles ainda não sabem a carreira que pretendem seguir, porém avaliam a importância nas suas vidas a importância da robótica, que despertou o interesse pelos jogos de forma criativa e diferente das aulas convencionais.

Laura Nunes, de 13 anos, diz que, com o projeto, aprendeu a trabalhar em grupo, uma dificuldade sua inicialmente, e a pensar mais rápido em situações de muita pressão.

— Isto ajudou bastante não só a gente, mas a turma toda — diz.

Guilherme Rosalves conta que aprendeu a programar jogos a partir da pesquisa.

— Também gostei de ajudar num projeto com essa importância, de dimensão internacional —, avalia.

Durante este mês, os alunos receberam o certificado de participação no projeto. A diretora executiva do Limitless Space Institute, Kaci Heins, entrou ao vivo em videochamada e parabenizou a pesquisa, a professora e os alunos da Polivalente. O programa atua com pesquisas para o avanço da exploração espacial e também como fomento à educação STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em português), disciplinas consideradas importantes para a exploração espacial.

A pesquisa tem apoio da neurocientista da UFRJ Isabela Lobo e das professoras de inglês Oksana Kitaeva e Liliane Fonseca. A Polivalente recebeu materiais dos Estados Unidos para a realização de projetos locais. Dentre eles, telescópio, sensores e microscópio digital, utilizados em atividades espaciais com os alunos em Macaé.

Missão profissional e de vida

Graduada em Artes e em Engenharia de Software, mestra em Informática e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Informática da UFRJ, Érica Scheffel atua no Projeto de Robótica Inovar e Aprender desde 2016, e também ministra aula de Inovação, Tecnologia e Robótica no Colégio de Aplicação de Macaé (Cap). Ela detalha a experiência de fazer parte do programa, a partir de um projeto apresentado aos avaliadores na Nasa em 11 de julho deste ano.

— Para fomentar essa educação STEM, o Limitless conta com um programa internacional de capacitação de professores, o Limitless Global Educator Program, no qual eu me candidatei a uma vaga e fui selecionada. Somente 10 professores brasileiros foram premiados. Segundo ela, também foram selecionados 10 professores nigerianos e a participação de todos foi financiada por uma empresa de estruturas de telecomunicações, a IHS.

— Na Nasa conheci o astronauta Reid Wiseman, comandante da Missão Artemis 2, que vai para a lua no ano que vem. Muito simpático e gentil, ele manifestou gratidão aos professores da vida dele, fundamentais para que conseguisse alcançar seus sonhos —, completa Érica, acrescentando que os representantes brasileiros tiveram tratamento VIP na Nasa, incluindo o acesso a uma área de treino dos astronautas, que conta com uma piscina de 23 milhões de litros de água e 18 metros de profundidade. —A piscina é importante para eles, pois o traje espacial para as caminhadas espaciais pesa cerca de 150 quilos, então, eles usam esse traje dentro dessa piscina para treinar a movimentação e a interação com os equipamentos.

Fonte: Jornal Extra/Rio/Cidades em 18/10/2024.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Em um país com tanta desigualdade, políticas de inclusão podem trazer uma oportunidade para a sociedade inteira se desenvolver e reduzir barreiras históricas*


A tarefa de construir, manter e aprimorar espaços de convivência ética, diversa e inclusiva tem se tornado um desafio cada vez mais urgente. Quando esses espaços são escolas, o peso das decisões parece triplicar, especialmente diante do compromisso social de formar cidadãos para o mundo em que vivemos. É interessante perceber que, para atingir esse objetivo, dimensões como o caráter antirracista da escola, parecem se tornar prioritárias. Não se trata de ser uma escola de excelência ou inclusiva, inovadora ou antirracista. Precisamos trabalhar no território do “e”, pois a excelência e a inovação passam, no mundo de hoje, inevitavelmente, pela capacidade de um ambiente educacional ser inclusivo e antirracista.

Para isso, inúmeros esforços precisam ser empreendidos. Construção coletiva de conhecimento, publicação e geração de recursos didáticos, compartilhamento de boas práticas e de aprendizagens coletivas são fundamentais. A representatividade precisa fazer parte de toda a escola, dos estudantes à equipe docente, da gestão à curadoria de recursos, para garantir um programa curricular e formativo que contemple e expanda o trabalho proposto na Lei 10.116 e sustentar uma comunidade de famílias engajadas em apoiar nosso projeto, que se percebem representadas e pertencentes a essa construção.

Transformações significativas não vêm fácil. Os sistemas respondem: quando você insere um material ou mesmo uma formação sobre o tema do antirracismo, por exemplo, as aprendizagens sobre relações raciais na escola são exponenciais, mas com elas, também crescem os números de conflitos, conversas e mediações. Para que uma escola antirracista exista, esses desafios precisam ser encarados como oportunidades para aprender, colocando toda a nossa comunidade no lugar de estudantes. Para que isso aconteça, os desafios precisam ser encarados com a magnitude que têm.

Quando falamos de relações raciais na escola estamos convidando a discussão do racismo para nosso dia a dia. O racismo é inaceitável, mas ele ainda está presente nas nossas vidas. Práticas racistas são tão distantes dos valores sociais modernos e da ciência que precisamos criar leis para combatê-lo e promover uma mudança efetiva. A criação de programas em escolas para conscientizar a sociedade de que devem buscar ser antirracistas é um dos passos essenciais para uma mudança de comportamento de longo prazo.

O estudo “Dados Pretos em Branco”, realizado pelo Instituto Guetto , revela disparidades gritantes, como por exemplo, o fato de que em 25 estados brasileiros, as notas de estudantes negros são significativamente menores do que as de estudantes brancos na prova de matemática do 9º ano, ou ainda, de que jovens negros lideram as taxas de evasão escolar. Em escolas particulares não é diferente: preconceito pode estar presente em livros didáticos, práticas docentes, em inferências culturais onde o racismo segue não reportado por estudantes negros que, muitas vezes ingressantes por meio de programa de bolsas, não se sentem confiantes para reportar as ocorrências com medo da repercussão.

Olhar para o racismo dói em todo mundo. Dói em quem sofre o racismo e em quem se vê cometendo racismo, no pai, no aluno, no professor. O racismo estrutural é tão primitivo, insidioso e pernicioso que nos faz questionar a nossa humanidade, nossa criação, nossos hábitos e costumes. Nos faz criar hipóteses, às vezes até contraditórias, para explicar nossos comportamentos e temos dificuldades de lidar com as emoções e sentimentos que emergem de conflitos intencionais e não intencionais. Uma escola antirracista precisa saber que irá lidar com algo maior que apenas os indivíduos e buscar um olhar de construção coletiva, com protocolos claros, livre de pré-julgamento e imbuídos da vontade de mudar algo estrutural do nosso país.

Todos os dias que apostamos na diversidade nós aprendemos. Somos uma organização mais ágil, preparada para lidar com conflitos, corajosa, sem medo de pedir desculpa e seguir adiante quando vivemos algo que ainda não sabemos como lidar. Aprendemos a ser mais humildes, presentes e engajados como escola e educadores – uma homologia com a postura que buscamos em nossos estudantes. Em um país com tanta desigualdade, políticas de inclusão podem trazer uma oportunidade para a sociedade inteira se desenvolver e reduzir barreiras históricas que confrontamos diariamente. Precisamos combater o racismo e precisamos ser antirracistas, pois sem essa ação ativa não conseguiremos fazer essa transformação.

John Dewey dizia que a escola não é a preparação para a vida, e sim a própria vida. É, portanto, uma oportunidade segura de experienciar o que vivemos no mundo, promovendo novas formas de nos relacionarmos e construirmos totalidades mais inclusivas e diversas. As práticas escolares antirracistas não são apenas um dispositivo para iniciar diálogos, mas um convite para caminhar com ciência, respeito e responsabilidade.

*Leticia Lyle é pedagoga e mestre em Currículo e Educação Inclusiva pelo Teachers College da Columbia University (EUA). É cofundadora da Camino Education e da Cloe e diretora da Camino School. É coautora do livro “Convivência ética na educação”. É conselheira do Instituto Ame Sua Mente. Pedagoga e mestre em Currículo e Educação Inclusiva pelo Teachers College da Columbia University. É coautora do livro “Convivência ética na educação”.

*Vítor Del Rey é presidente do Instituto Guetto, professor da Fundação Dom Cabral, consultor no Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais ao lado do ex-ministro da educação José Henrique Paim. Mestre em Administração Pública pela Fundação Getulio Vargas.

** Articulando esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do coletivo de educadores.

Fonte: NEXO JORNAL LTDA em 13/10/2024 - https://www.nexojornal.com.br/

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Divulgação científica na mira da justiça: quando os interesses de poucos superam as necessidades da maioria*


Por Gabrielle Weber*, professora da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP

Setembro de 2024 começou com um sabor muito amargo para a ciência e, sobretudo, para quem divulga ciência de forma séria e socialmente referenciada no Brasil. Afinal, duas cientistas foram condenadas por desmentirem um nutricionista que afirmava que o diabetes seria causado por vermes e, por isso, poderia ser curado com um suposto protocolo de desparasitação. A polêmica decisão da juíza Larissa Boni Valeris, da 1ª Vara do Juizado Especial Cível, punia a dupla de cientistas Ana Bonassa (bióloga com doutorado em Fisiologia Humana e especialista no metabolismo do diabetes) e Laura Marise (farmacêutica-bioquímica e doutora em Biociências e Biotecnologia Aplicada à Farmácia), responsáveis pelo canal Nunca Vi1Cientista com o pagamento de uma multa de R$ 1.000 por danos morais e a remoção do vídeo em que desbancaram as afirmações estapafúrdias do nutricionista.


Em tempo, o diabetes é uma síndrome metabólica decorrente de falhas na produção ou na ação da insulina, que leva a um aumento crônico dos níveis de açúcar no sangue. Apesar de suas causas estarem relacionadas a múltiplos fatores de origem tanto genética quanto ambiental, destacando-se o sobrepeso, o sedentarismo e hábitos alimentares inadequados, não existe nenhuma evidência científica do envolvimento de vermes ou demais parasitas. Estima-se que 537 milhões de pessoas, ou seja, cerca de 10,5% da população adulta, viva com diabetes, que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, é uma das principais causas de cegueira, insuficiência renal, ataques cardíacos, derrame, amputação de membros inferiores e morte. Seu tratamento, que não envolve nenhum protocolo de desparasitação, pode ser feito gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).


Ao longo dos últimos anos e mais intensamente a partir da pandemia de covid-19, o papel e a importância da divulgação científica têm se alargado exponencialmente. Não basta mais apenas recodificar o conhecimento científico em uma linguagem acessível para informar a população leiga sobre o que é produzido pelas instituições de pesquisa científica ao redor do mundo, tornou-se premente trazer a discussão científica para o domínio público, de forma que a sociedade como um todo possa se interessar, compreender e dialogar sobre ciência. Em um mundo interconectado e permeado por uma perversa rede de desinformação, é fundamental que a sociedade cada vez mais se aproprie do conhecimento científico para nortear o seu processo decisório e com isso coibir a ação de “influenciadores” dedicados a vender emplastros Brás Cubas ou outras soluções miraculosamente estapafúrdias.


É nesse contexto de combate à desinformação generalizada que se espalha como erva daninha pelas redes que iniciativas desvinculadas da academia formal, como os canais NuncaVi1Cientista, Escuta a Ciência!, Blablalogia e individuais, como as de Mellanie Fontes Dutra da Silva, Karina Lima e Gabriela Bailas, para citar algumas, têm florescido. Os temas abordados são diversos: abrangendo desde a crise climática até a importância e eficácia das vacinas, passando por questões espinhosas como o uso de práticas pseudocientíficas por órgãos públicos. Essa atuação não se restringe apenas às redes, como exemplificado pela cruzada para erradicar a constelação familiar do SUS e dos tribunais brasileiros, que levou Gabriela Bailas ao Senado Federal em março de 2022. Tal prática, criada pelo nazista Bert Hellinger, não apenas integra, juntamente com a acupuntura e a homeopatia, o conjunto de Práticas (pseudocientíficas) Integrativas e Complementares em Saúde (Pics), institucionalizado pelo SUS, como tem sido usada em processos jurídicos para criminalizar e punir mulheres em disputas familiares.


Apesar do valor monetário da multa imposta às cientistas do NuncaVi1Cientista ser modesto, ainda mais perante os custos envolvidos no processo judicial para recorrer desta sentença, elas reconhecem o perigo que o precedente aberto pela decisão da juíza Larissa Boni Valeris representa. É aterrador conjecturar os desdobramentos dessa jurisprudência. Qualquer pessoa que desbanque afirmações falaciosas, falsas ou pseudocientíficas, expondo seus autores, está passível de receber um processo judicial e perder. Com isso, institucionaliza-se o assédio jurídico, efetivamente, calando a boca de pessoas interessadas em propagar informação de qualidade e, principalmente, de interesse da população. Ainda há a oportunidade de a justiça se redimir, pois Ana e Laura estão recorrendo da sentença que, ao final de setembro, encontrava-se suspensa em virtude da decisão liminar tomada na Reclamação (RCL) 72140. De acordo com o relator, o ministro Dias Toffoli do Supremo Tribunal Federal (STF), o vídeo em questão contém apenas uma “manifestação de pensamento crítico à atuação de perfil público” sendo fundamentada em fatos e dados científicos.


Resta, contudo, a pergunta incômoda: que justiça é essa que pode condenar cientistas por fazerem o seu trabalho e deixar impune quem de fato atenta contra a saúde da população?


Fonte: Jornal da USP em 14/10/2024.


** Articulando esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do coletivo de educadores.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Faculdade é condenada por dispensar uma professora no Início do ano letivo


J
ustiça entendeu que houve a perda de uma chance

Em uma decisão recente, a 3ª turma do Tribunal Regional do Trabalho da 18ª região (Goiás), determinou que uma professora universitária seja indenizada após ter sido dispensada no início do ano letivo por uma instituição de ensino superior de Goiânia. Trata-se de uma sentença relevante para o setor educacional, tendo como fundamento a teoria da perda de uma chance. Advogada que atuou no processo dá mais detalhes sobre o resultado obtido.


A professora foi dispensada logo após o início das aulas, quando já havia disponibilizado seu tempo e recusado outras oportunidades de trabalho. Isso impossibilitou que ela conseguisse se reposicionar em outra instituição durante o semestre. O processo em questão traz à tona a teoria da "perda de uma chance", um conceito jurídico aplicado quando uma pessoa ou empresa causa a perda de uma oportunidade significativa que teria uma alta probabilidade de sucesso, embora o resultado final não seja garantido. Nesse contexto, a indenização não se refere ao resultado perdido, um lucro ou emprego, mas à própria oportunidade prejudicada.


A advogada Juliana Mendonça (foto), sócia do Lara Martins Advogados, mestre em Direito e especialista em Direito e Processo do Trabalho, explicou que a teoria foi central para a defesa, pois a contratação de professores ocorre antes do início do semestre letivo, e ao ser dispensada a professora perdeu a chance de se recolocar. “Ao demitir a professora após o início das aulas, a faculdade impediu sua recolocação profissional no mercado acadêmico, que é mais restrito no início de cada semestre, pois a contratação de professores ocorre antes de o semestre começar, e a demissão tardia fez com que a docente perdesse a oportunidade de buscar outra vaga, prejudicando-a economicamente.


A advogada destacou que o desafio principal foi demonstrar que a dispensa poderia ter sido feita com mais previsibilidade. “A instituição já sabia, antes do início das aulas, quantas turmas e matrículas teria e, portanto, poderia ter evitado a demissão após o início das aulas. Isso mostrou que a faculdade agiu de forma negligente, causando prejuízo irreparável à professora”, enfatiza Mendonça.


Outro ponto fundamental, no processo foi a aplicação de uma multa por litigância de má-fé. A instituição de ensino tentou protelar o andamento do processo, solicitando uma audiência adicional para produção de provas, mas, ao comparecer à audiência, não apresentou nenhuma evidência. Esse ato foi interpretado como uma tentativa de atrasar o julgamento, violando os princípios de boa-fé e economia processual, o que agravou a situação da faculdade.


Para a especialista, que também é professa em uma universidade em Goiânia, a decisão judicial reforça a importância de as instituições de ensino respeitarem o momento adequado para realizar dispensas de professores, de forma a não prejudicar suas chances de recolocação no mercado.


“Esse caso pode servir como precedente para ações trabalhistas futuras, especialmente em um setor tão vulnerável como o da educação. A decisão traz à tona a necessidade de maior atenção às práticas de gestão de pessoal nas instituições de ensino, garantindo que os profissionais não sejam afetados por decisões administrativas tomadas em momentos inoportunos, comprometendo sua subsistência”, finaliza a advogada.


Fonte: Juliana Mendonça: sócia do Lara Martins Advogados, é mestre em Direito e especialista em Direito e Processo do Trabalho.


Informações à imprensa

Aline Moura 

aline.moura@m2comunicacao.com.br – (11) 97041-7447 (WhatsApp)       

Alexandre Mello alexandre.mello@m2comunicacao.com.br - (11) 99503-0555 (WhatsApp)


quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Ao menos um quarto dos países do mundo proíbe uso de celular em sala de aula


Segundo relatório da Unesco, a presença de celulares em sala de aula acarreta prejuízos na aprendizagem

Um em cada quatro países do mundo já adotou leis que proíbem o uso de celular nas escolas, segundo o Relatório Global de Monitoramento da Educação da Unesco.

Segundo o estudo, a simples presença dos celulares em sala de aula provoca distração nos estudantes, o que acarreta prejuízos na aprendizagem. Também destaca que o uso de equipamentos eletrônicos dentro das salas de aula atrapalha a gestão dos professores com as turmas.

“Estudos usando dados do Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, aplicada pela OCDE] indicam uma associação negativa entre o uso das tecnologias e o desempenho dos estudantes”, diz o relatório, que foi feito em 2023.

Entre os países que anunciaram a proibição estão Espanha, Grécia, Finlândia, Holanda, Suíça e México. Na França é um dos pioneiros na proibição ao uso de celulares, com uma lei de restrição de 2018.

Nas escolas francesas, os alunos não podem usar os aparelhos em nenhum momento, inclusive durante os recreios. É prevista exceção à regra para alguns grupos de alunos, como os com deficiência, que demandam o suporte da tecnologia.

Na Grécia, a medida começou a valer no início deste semestre letivo. Os alunos podem levar os celulares para a escola, mas precisam mantê-los dentro da mochila durante todo o período escolar. A mesma medida é adotada na Dinamarca.

Brasil prepara pacote para banir celular das escolas

O governo Lula prepara um pacote de medidas para tentar conter os prejuízos do excesso de telas na infância e na adolescência, dentre elas o banimento do uso de celulares pelos estudantes em todo o ambiente escolar.

Já existem alguns estados brasileiros que adotaram leis para restringir o uso do equipamento. É o caso do Rio de Janeiro, que após uma consulta pública, na qual 83% dos entrevistados se declararam favoráveis à restrição, decidiu por proibir o dispositivo dentro e fora de sala de aula, inclusive no recreio.

Outros estados criaram regras para restringir o uso de celular para atividades pedagógicas, como é o caso de Roraima, Distrito Federal, Maranhão, Tocantins, Paraná e São Paulo. Professores, no entanto, alertam que a medida é difícil de ser cumprida, já que é difícil fiscalizar o que os estudantes fazem com o aparelho em mãos.

Apesar de limitar o uso do celular para atividades pedagógicas, estados como São Paulo e Paraná, passaram a incentivar o uso de tecnologias digitais em suas escolas. Na rede paulista, por exemplo, os professores são cobrados para que os alunos façam redação online, exercícios em aplicativos e usem material digitalizado.

A medida vai na contramão das recomendações feitas pela Unesco no relatório. Segundo a entidade, não existem evidências científicas suficientes para comprovar os benefícios do uso da tecnologia digital na educação. E alerta que os investimentos nessa área podem estar tomando o recurso de ações mais efetivas para a melhoria do ensino.

“A atenção excessiva à tecnologia geralmente tem um alto custo. Recursos despendidos em tecnologia, em vez de em sala de aula, professores e livros didáticos para crianças em países de renda baixa a média baixa, que não têm acesso a esses recursos, provavelmente colocarão o mundo em uma posição ainda mais distante de alcançar o objetivo mundial de educação”, diz o relatório.

Fonte: ICL Notícias em 23/09/2024.