quinta-feira, 2 de outubro de 2025
Organização Hélio Alonso de Educação de Cultura (FACHA) quer dar calote nos professores
O Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região (Sinpro-Rio) participou, no dia 29 de setembro, da Assembleia-Geral de Credores (AGC) da Organização Hélio Alonso de Educação de Cultura (OHAEC), com a finalidade de deliberar sobre a proposta de pagamento contida no plano de recuperação judicial (PRJ).
Nos últimos meses – apesar de entender que a OHAEC não possui legitimidade para interposição de recuperação judicial – o Sinpro-Rio buscou reforçar tratativas com a instituição visando melhorias no Plano; contudo, a instituição se manteve firme no propósito de estabelecer deságio de 80% sobre os créditos trabalhistas que superarem o montante de R$15.000,00, impactando negativa e diretamente diversos professores e professoras, que, juntos, totalizam créditos superiores a R$2,5 milhões, prejuízo que, certamente, não poderia ser admitido pelo Sindicato.
Embora o Sinpro-Rio tenha representado 52 professores/as associados ao Sindicato, a OHAEC deteve a maioria dos votos para aprovação do plano. O referido Plano de Recuperação Judicial proposto pela OHAEC foi aprovado e em breve deverá ser homologado pelo juiz da recuperação judicial. A proposta de pagamento nele contida substituirá todas as dívidas da OHAEC existentes na data do pedido da recuperação judicial, inclusive os débitos com os docentes.
Não obstante, nos manteremos firmes no propósito de que seja reconhecida a ilegitimidade da OHAEC para a propositura da recuperação judicial, o que ainda se encontra em discussão no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em recurso interposto pelo Sinpro-Rio, no qual já tivemos diversos indícios de que teremos uma decisão favorável a nós.
Ademais, também temos forte convicção de que, mesmo sendo desconstituída a Recuperação Judicial, a instituição não terá sua falência decretada e os professores poderão dar continuidade aos seus processos trabalhistas, pelos valores verdadeiramente devidos.
Certos de que juntos somos mais fortes, permanecemos na luta pelos direitos dos professores.
Fonte: Site do Sinpro-Rio em 29/09/2025.
quinta-feira, 25 de setembro de 2025
Brasil tem maior número de aluno por professor em faculdades privadas
O Brasil é o país com a maior quantidade de estudantes por professor no ensino superior privado, de acordo com o relatório Education at a Glance (EaG) 2025, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado nesta terça-feira (9). Segundo o relatório, são 62 estudantes por docente, enquanto a média entre os países da OCDE com dados disponíveis é de 18 alunos por professor.
No ensino público, o cenário é o inverso. O Brasil tem uma média de dez estudantes por professor, número inferior à média da OCDE, de 15 alunos por professor.
De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a superlotação de turmas é um desafio. A autarquia diz que isso ocorre sobretudo por conta das matrículas em educação a distância (EaD), que estão, na maioria, na rede privada de ensino.
O ensino superior no Brasil tem 9,9 milhões de estudantes matriculados, segundo o último Censo da Educação Superior, de 2023. A maior parte deles, 79,3%, está em instituições privadas de ensino. Considerados apenas os novos alunos, a maioria dos ingressantes nas instituições privadas se matriculou em cursos a distância, 73%. Na rede pública, ocorreu o contrário, 85% se matricularam em cursos presenciais.
O Brasil é o país com a maior quantidade de estudantes por professor no ensino superior privado, de acordo com o relatório Education at a Glance (EaG) 2025, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado nesta terça-feira (9). Segundo o relatório, são 62 estudantes por docente, enquanto a média entre os países da OCDE com dados disponíveis é de 18 alunos por professor.
No ensino público, o cenário é o inverso. O Brasil tem uma média de dez estudantes por professor, número inferior à média da OCDE, de 15 alunos por professor.
De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a superlotação de turmas é um desafio. A autarquia diz que isso ocorre sobretudo por conta das matrículas em educação a distância (EaD), que estão, na maioria, na rede privada de ensino.
O ensino superior no Brasil tem 9,9 milhões de estudantes matriculados, segundo o último Censo da Educação Superior, de 2023. A maior parte deles, 79,3%, está em instituições privadas de ensino. Considerados apenas os novos alunos, a maioria dos ingressantes nas instituições privadas se matriculou em cursos a distância, 73%. Na rede pública, ocorreu o contrário, 85% se matricularam em cursos presenciais.
Segundo a coordenadora de Estatística Internacional Comparada do Inep, Christyne Carvalho, o marco da educação a distância ajudará a mudar esse cenário.
“Isso [a superlotação] se dá pela influência do ensino a distância, que já reverbera nas políticas brasileiras, em especial no marco da educação a distância, com o qual a gente espera que sejam superados esses desafios”, disse Christyne, que apresentou os destaques do relatório em coletiva de imprensa online.
Entre outras medidas, o novo marco regulatório da educação a distância estabelece que nenhum curso de bacharelado, licenciatura e tecnologia pode ser 100% a distância.
Professores
O Inep também destacou como desafio o envelhecimento dos professores, que, na média, estão mais velhos, mostrando que os mais jovens não têm se interessado pela carreira docente. O relatório mostra que isso não ocorre apenas no Brasil. “Nós temos também uma outra questão que tem ocupado bastante os debates educacionais, não só no Brasil, mas em todo mundo, que é a a questão do etarismo, o envelhecimento do pessoal acadêmico”, ressaltou Christyne Carvalho.
A pesquisa mostra que, no Brasil, entre 2013 e 2023, houve um aumento de 23% no número de professores do ensino superior com 50 anos ou mais, chegando a 33,8% desses profissionais nessa faixa etária. A média da OCDE é ainda maior, 40,4%. “É um dado que é bastante instigante para que tomemos algumas ações públicas e que possamos superar esse desafio”, afirmou a coordenadora.
O EaG traz dados educacionais como desempenho dos estudantes, taxas de matrícula e organização dos sistemas educacionais dos 38 países-membros da OCDE, além de Argentina, Bulgária, China, Croácia, Índia, Indonésia, Peru, Romênia, Arábia Saudita, África do Sul e Brasil – que é parceiro-chave da organização. O grupo reúne as principais e mais ricas economias do mundo. Neste ano, o relatório tem como foco principal o ensino superior.
Fonte: Agência Brasil em 09/09/2025.
sexta-feira, 19 de setembro de 2025
Diploma de ensino superior pode mais que dobrar salário no Brasil
Informação está em relatório da OCDE sobre desempenho da educação
No Brasil, ter um diploma de ensino superior faz diferença: aumenta as chances de ter um emprego e melhores salários, que chegam a mais que o dobro daqueles que têm formação até o ensino médio. Mesmo assim, um em cada quatro estudantes abandona os estudos depois de cursar apenas um ano.
As informações estão no relatório Education at a Glance (EaG) 2025, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as principais e mais ricas economias do mundo.
O documento traz dados educacionais como desempenho dos estudantes, taxas de matrícula e organização dos sistemas educacionais dos 38 países-membros da organização, além de Argentina, Bulgária, China, Croácia, Índia, Indonésia, Peru, Romênia, Arábia Saudita, África do Sul e Brasil – que é parceiro-chave da OCDE.
Neste ano, o relatório tem como foco principal o ensino superior. Os dados mostram que brasileiros de 25 a 64 anos que concluem o ensino superior ganham, em média, 148% a mais do que aqueles que têm ensino médio. Essa diferença é maior do que a média dos países da OCDE, que é de um salário médio 54% maior.
O Brasil fica atrás apenas da Colômbia, onde concluir o ensino superior proporciona, em média, um salário 150% maior do que ter apenas o ensino médio, e África do Sul, onde esse percentual é 251%.
Mas, essa etapa de ensino não chega a todos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas um a cada cinco, ou seja, 20,5% dos brasileiros de 25 anos ou mais têm ensino superior, conforme dados de 2024.
O relatório da OCDE traz outra preocupação. Quase um quarto (24%) dos jovens de 18 a 24 anos no Brasil, não estão empregados nem em educação ou treinamento (NEET na sigla em inglês). Essa taxa é maior que a média da OCDE, de 14%. Além disso, há uma diferença entre homens e mulheres, com 29% das mulheres e 19% dos homens sendo NEET em 2024 no Brasil. As taxas de NEET para homens e mulheres tendem a ser semelhantes na maioria dos outros países da organização.
Abandono dos estudos
Entre aqueles que entram no ensino superior, no Brasil, 25% abandonam os estudos após o primeiro ano do bacharelado. Entre os países da OCDE, a média é 13%. Mesmo após três anos do fim do período esperado para a conclusão do curso, menos da metade, 49%, dos ingressantes conclui os estudos. Entre os países da OCDE, essa média é 70%.
Diante desse cenário, no Brasil, apenas 24% de todos os jovens de 25 a 34 anos de fato concluem o ensino superior, o que representa pouco menos da metade da média da OCDE de 49%.
Segundo o relatório, as altas taxas de evasão no primeiro ano podem sinalizar um descompasso entre as expectativas dos alunos e o conteúdo ou as exigências de seus programas, possivelmente refletindo a falta de orientação profissional para futuros alunos ou apoio insuficiente para novos ingressantes, diz o texto.
O relatório mostra ainda que, em todos os países, as mulheres que iniciam o bacharelado têm maior probabilidade do que os homens de concluir os estudos ou no tempo esperado ou em até três anos após esse período. No Brasil, a diferença de gênero é de 9 pontos percentuais, 53% para mulheres em comparação com 43% para homens. Essa diferença é menor do que a média da OCDE, de 12 pontos percentuais.
Estudar em outros países
Segundo o EaG, entre os países da OCDE, a mobilidade internacional de estudantes no ensino superior aumentou. Em média, 6% de todos os estudantes do ensino superior na OCDE eram estudantes internacionais ou estrangeiros em 2018. Esse percentual passou para 7,4% em 2023. O Brasil foi um dos poucos países sem aumento, com a proporção permanecendo constante em apenas 0,2%.
Investimentos
Em relação aos investimentos do país em ensino superior, no Brasil os gastos governamentais chegam a US$ 3.765 por aluno, em valores de 2022, o que equivale a cerca de R$ 20 mil. Já a média da OCDE é de US$ 15.102, ou cerca de R$ 80 mil. Embora, em valores, o investimento seja inferior, quando comparado ao Produto Interno Bruto (PIB) – que é a soma de todas as riquezas produzidas pelo país -, o investimento governamental no Brasil é semelhante ao da média da OCDE, 0,9% do PIB- Produto Interno Bruto - no ensino superior, incluindo os investimentos em pesquisa e inovação.
Para a OCDE, é preciso melhorar os indicadores não apenas no Brasil, mas em todo o conjunto de países, para que tanto a formação seja melhor, quanto para que os investimentos tenham mais retorno. Na publicação, o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, diz que as baixas taxas de conclusão do ensino superior são desafio que prejudica o retorno do investimento público, agrava a escassez de competências e limita o acesso a oportunidades.
Entre as ações possíveis destacadas por ele estão o fortalecimento da preparação acadêmica e da orientação profissional no ensino médio, bem como a concepção de programas de ensino superior com sequências de cursos claramente definidas e medidas de apoio para aqueles em risco de atraso.
Também são necessárias opções de ensino superior mais inclusivas e flexíveis. Estas devem incluir programas personalizados para estudantes do ensino profissional, processos de admissão que reconheçam melhor os diversos perfis de alunos e ofertas mais curtas e direcionadas, defende.
A OCDE também chama a atenção para a qualidade dos cursos de ensino superior. Outra pesquisa conduzida pela organização mostra que mesmo entre aqueles com diploma, há dificuldades até mesmo para ler textos complexos. A Pesquisa de Competências de Adultos 2023 mostra que nos 29 países e economias da OCDE participantes, em média 13% dos adultos com ensino superior não atingiram sequer o nível básico de proficiência em alfabetização, o que significa que conseguiam compreender apenas textos curtos sobre temas familiares.
Isso ilustra a necessidade de os países expandirem o acesso ao ensino superior e aumentarem a qualidade e a relevância da educação oferecida, diz Cormann.
Gasto público maior
Em coletiva de imprensa, nesta terça-feira (9), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) afirmou que os valores de investimento apresentados no relatório estão incorretos e que a autarquia já solicitou uma revisão à OCDE. O valor correto do gasto público por aluno de instituições públicas de ensino superior é US$ 15.619 (cerca de R$ 83 mil), sendo, portanto, superior à média da OCDE.
De acordo como Inep, o cálculo feito pela OCDE divide todo o investimento público por todos os alunos do ensino superior, sejam eles de instituições públicas ou privadas. O governo, no entanto, não computa os investimentos privados. O correto, segundo o Inep, é dividir os investimentos públicos apenas pelos alunos de universidades públicas.
No Brasil, a minoria dos alunos de ensino superior está em instituições públicas. A maior parte dos estudantes está matriculada no setor privado, que concentra cerca de 80% das matrículas, segundo o último Censo da Educação Superior, de 2023. Os gastos com esses alunos não está, portanto, incluído no valor informado pelo Inep.
Fonte: Agência Brasil em 09/09/2025
quinta-feira, 18 de setembro de 2025
Pesquisa revela que menos de 40% dos alunos valorizam os professores
Levantamento ouviu mais de 2,3 milhões de jovens do 6º ao 9º ano
Os chamados anos finais do ensino fundamental – que compreendem o 6º, 7°, 8º e 9 º anos – são considerados uma etapa escolar peculiar, que enfrenta desafios próprios ao reunir os estudantes que estão na transição da infância para a adolescência. Para subsidiar a criação da primeira política nacional voltada para esta etapa, foi lançada nesta terça-feira (9) uma pesquisa que ouviu mais de 2,3 milhões de estudantes em 21 mil escolas do país.
Os resultados apontam que mais da metade dos estudantes diz se sentir acolhida pela escola, mas menos de 40% dizem respeitar e valorizar o professor.
O estudo é fruto de uma parceria do Ministério da Educação (MEC), Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), a União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e o Itaú Social. A pesquisa foi realizada durante a Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas, mobilização que engajou o equivalente a 46% das instituições de ensino que oferecem os anos finais nas redes municipais, estaduais e distrital em todo o Brasil.
Durante o lançamento do relatório, em Brasília, a secretária da Secretaria de Educação Básica (SEB), do MEC, Katia Schweickardt, afirmou que a escuta dos adolescentes do 6º ao 9º ano ajuda o Poder Público a entender que “todos aprendem de um jeito diferente” e que todo mundo sabe algo, baseado nas experiências individuais.
Katia Schweickardt explica que é preciso adaptar as salas de aulas para essa realidade multisseriada, ou seja, com alunos de diferentes perfis. “Todo mundo aprende de um jeito diferente. O que a gente precisa é preparar os professores, o equipamento escolar, a comunidade, todo mundo para essas especificidades."
A secretária do MEC destaca que este preparo passa pelo currículo escolar.
“Currículo, que não é só um conjunto, uma lista de desejos de conteúdo e práticas pedagógicas que a gente põe em um documento e deixa na gaveta. Currículo, de fato, é uma perspectiva de vivência, de existência de uma escola que é significativa”, disse.
A representante da organização da sociedade civil Roda Educativa, a pedagoga Tereza Perez, concorda que é preciso enxergar as diferentes composições das salas de ensino, sob pena de provocar a evasão escolar e o abandono dos estudos.
“A máquina da educação escolar busca homogeneizar as aprendizagens, por meio de um ensino único, negligenciando a heterogeneidade e a diversidade existente em todas as salas de aula. Esse fato, embora reconhecido, não provoca mudanças significativas na forma de ensino e, muitas vezes, culpabiliza alunos que não aprendem, usando a reprovação como o único recurso para que aprendam. Na maioria das vezes, também, não atingem o seu propósito de aprendizagem, gerando evasão e abandono”, destacou.
Pesquisa
As percepções dos alunos, colhidas em questionários e dinâmicas coletivas, foram dividas em dois grupos: os alunos mais novos, do 6º e 7º ano, e os mais velhos, do 8º e 9º anos. Apesar da pouca distância de idade, é possível encontrar importantes contrastes entre as respostas.
A pesquisa buscou identificar a opinião dos alunos sobre a escola, conteúdos para desenvolvimento pessoal, atividades essenciais para o futuro, formas de aprendizagem, convivência, entre outros. De forma geral, estudantes dos 8º e 9º anos têm uma visão menos positiva sobre a escola do que aqueles de 6º e 7º anos.
A superintendente do Itaú Social, Patrícia Mota Guedes, lembrou que o Brasil tem histórico de décadas sem qualquer política voltada à educação na adolescência e que, desde 2023, o MEC, com o projeto da Escola das Adolescências, passou a dialogar com estudantes, gestores educacionais e diferentes setores da sociedade civil e acadêmicos, além de organismo internacionais para trabalhar em conjunto em direção a um objetivo comum.
“Nenhum outro país que a gente acompanha teve coragem de escutar os adolescentes como parte da política pública. Então, é com esse exemplo de construção de convergências, de escuta, que o MEC conseguiu criar convergências de diferentes territórios, de diferentes setores da sociedade civil brasileira. Nesse sentido, reafirmamos nosso propósito de não deixar nunca mais os anos finais [do ensino fundamental] serem uma etapa esquecida”, defendeu.
Acolhimento
No quesito “acolhimento e pertencimento”, 66% dos mais jovens disseram que se sentem acolhidos pela escola - 27% veem a experiência como parcial e 7% discordam. Já entre os mais velhos, apenas 54% sentem-se amparados, 33% se consideram “mais ou menos” acolhidos e 13% discordam.
Na mesma temática, 75% dos estudantes dos 6º e 7º anos afirmaram que confiam em pelo menos um adulto na escola, mas apenas 58% sentem-se verdadeiramente acolhidos por esses adultos. Entre os do 8º e 9º anos, o percentual de acolhimento cai para 45%.
A pesquisa destaca que, em escolas com maior proporção de estudantes em situação de vulnerabilidade, 69% percebem a escola como espaço de acolhimento, contra 56% em contextos de menor vulnerabilidade.
Socialização
Ao investigar como os alunos se sentem em relação aos relacionamentos e à socialização na escola, 65% dos estudantes dos 6º e 7º anos concordam que a escola favorece amizades e interações sociais, com 29% considerando “mais ou menos” e 6% discordando. Para os do 8º e 9º anos, 55% concordam, 35% avaliam como “mais ou menos” e 10% discordam.
O relatório destaca ainda que oito em cada dez estudantes (84% nos 6º e 7º anos e 83% nos 8º e 9º anos) têm amigos com quem gostam de estar na escola. No entanto, o estudo alerta para os desafios na relação aluno-professor: apenas 39% dos mais novos e 26% dos mais velhos afirmam respeitar e valorizar os professores.
A aluna da rede pública de ensino de Rio Branco, Dandara Vieira Melo, de 13 anos, que estava bastante atrasada nos estudos devido a mudanças de município e outras questões familiares, foi atendida no Programa Travessia, iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para o Brasil, juntamente com governo do Acre.
Ao diminuir a distorção idade-série, a adolescente vê a escola de outra forma. “É um lugar para que eu possa aprender mais, conhecer novas culturas, novas pessoas e para fazer novas amizades”, definiu Dandara, que estava presente no lançamento da pesquisa.
Formação
Sobre os conteúdos e conhecimentos que consideram mais importante para o seu desenvolvimento, os estudantes mais novos citaram as disciplinas tradicionais (48%), seguido pela categoria corpo e socioemocional (31%) que inclui temas como esportes, bem-estar e saúde mental. Na sequência aparecem as chamadas habilidades para o futuro (21%), como educação financeira e tecnologia, seguida pelo tema “direitos e sustentabilidade (13%).
Entre os alunos do 8º e 9º anos, as disciplinas tradicionais são apontas por 38% como muito importante para o desenvolvimento, seguida pela dimensão corpo e socioemocional (29%), habilidades para o futuro (24%) e direitos e sustentabilidade (13%).
Fonte: Agência Brasil em 09/09/2025
quinta-feira, 11 de setembro de 2025
MEC lança curso de 180 horas para professores do ensino médio público
O Ministério da Educação (MEC) lançou o curso Mais Ensino Médio para formação de professores desta etapa do ensino básico
O curso virtual tem duração de 180 horas e já está disponível na plataforma de aprendizagem Avamec. Para acessá-la, o interessado deve digitar o login pelo portal Gov.br, se cadastrar e informar dados pessoais, vínculos profissionais e a formação acadêmica.
O objetivo principal é melhorar a qualidade da educação como um todo, por meio da transformação das práticas docentes e da valorização da juventude brasileira.
Ao mesmo tempo, a formação pretende promover uma reflexão crítica sobre o currículo e as políticas educacionais, entre elas, a Política Nacional do Ensino Médio (Pnaem), e como adequá-las às realidades das escolas públicas.
O curso
A capacitação de docentes busca alinhar a teoria com a prática, abordando temas relevantes e contemporâneos que impactam diretamente a vida dos estudantes e o trabalho docente.
O curso usa um currículo em espiral, o que significa que ele revisita e aprofunda os temas gradualmente, evitando repetições desnecessárias.
A metodologia do curso tem como estratégia a formação continuada e em serviço e é baseada em metodologias de reconhecimento, intervenção produtiva e estudos de casos.
Cultura digital
Entre os módulos, há um voltado para a cultura digital, que capacita os educadores a aplicar a digitalização na educação.
Essa parte da formação está alinhada à Estratégia Nacional de Escolas Conectadas (Enec), preparando os docentes para usar a tecnologia para fins pedagógicos, em sala de aula, de forma eficaz e intencional. O objetivo do uso efetivo das tecnologias digitais no cotidiano escolar é aprimorar o aprendizado dos estudantes.
Na segunda etapa, o curso se aprofunda em práticas interdisciplinares e no estudo de temas relevantes para as quatro áreas do conhecimento da formação geral básica, como crise climática. Também são abordadas pautas contemporâneas, como as apostas esportivas (bets) e seus impactos econômicos e sociais, entre outras.
O curso pode ser concluído em, no mínimo, 45 dias, e no máximo a conclusão é de 200 dias.
Certificação
A conclusão dos módulos do Mais Ensino Médio é feita automaticamente, mediante a realização das atividades de fixação que os compõem. A nota mínima para aprovação é de 6 pontos.
Com o aproveitamento do participante no curso, o certificado de conclusão estará disponível para download, na opção “Certificado”, no menu do curso.
Há possibilidade de obtenção de certificado de especialização, mediante aproveitamento de estudos, pelo Centro de Educação Aberta e a Distância da Universidade Federal do Piauí.
Mais cursos
O Ministério da Educação (MEC) também anunciou o lançamento para o Dia do Professor, em 15 de outubro, de quatro novos cursos complementares, um para cada área do conhecimento (ciências humanas, ciências da natureza, matemática e linguagens).
São eles:
Mais Ciências da Natureza e suas Tecnologias (Mais CNT)
Mais matemática e suas tecnologias
Mais linguagens e suas tecnologias.
Gestão da escola
Em nota, a coordenadora-geral de Ensino Médio do MEC, Valdirene Alves de Oliveira, afirmou que o curso Mais Ensino Médio e os cursos complementares, por área de conhecimento, se somam ao curso de especialização Gestão da Escola Pública de Ensino Médio (Gepem).
Este último é voltado para diretores e coordenadores pedagógicos que possuam formação em nível de graduação e estejam em efetiva atuação em escolas públicas de ensino médio, vinculadas às redes estaduais, distrital e municipais.
“Este apoio do MEC visa a formação dos profissionais das redes públicas de ensino para a implementação da Política Nacional de Ensino Médio [PNAEM]”, afirmou em nota a coordenadora do MEC, Valdirene Oliveira.
Leia mais em https://www.cartacapital.com.br/educacao/mec-lanca-curso-de-180-horas-para-professores-do-ensino-medio-publico/
Fonte: Carta Capital Educação em 22/08/2025.
sexta-feira, 29 de agosto de 2025
Por que o Ceará lidera o índice de alfabetização no Brasil?
Mudança na política educacional começou em 2004, em Sobral, que irradiou estratégia para outras cidades, e depois, para o estado. Governo federal tenta replicar experiência
O Ceará é o estado brasileiro com a maior proporção de crianças alfabetizadas na idade certa: 85,3% dos alunos matriculados no 2º ano do ensino fundamental sabem ler e escrever com autonomia em 2025, segundo o Indicador Criança Alfabetizada (ICA) do Ministério da Educação, divulgado em julho. A taxa supera a média nacional, que foi de 59,2%. A meta geral era de 60%.
Para 2030, o objetivo do MEC é chegar aos 80%, taxa que só foi alcançada, desde já, pelas escolas cearenses. Por isso, as estratégias adotadas pelo Ceará inspiraram a política de alfabetização em regime de colaboração em 25 estados. Ainda que o ensino fundamental seja de responsabilidade dos municípios, os governos estaduais fornecem apoio técnico e financeiro às prefeituras para que melhorem os indicadores.
"No Ceará, a secretaria estadual e os municípios aprenderam a alfabetizar. O Brasil ainda está em um estágio anterior", avalia o gerente de políticas educacionais da organização Todos Pela Educação, Ivan Gontijo. "Essa política já vem sendo implementada desde 2007, são quase 20 anos de expertise acumulada. Isso explica o sucesso em relação aos outros estados, e, ainda que já tenha alcançado patamares altos, consegue evoluir".
Avanço gradual
Os bons resultados da alfabetização do Ceará em 2025 contrastam com a realidade dos municípios cearense de 20 anos atrás. Diante do baixo desempenho, a cidade de Sobral foi pioneira na transformação da política educacional.
Durante o mandato do então prefeito, Cid Gomes, hoje senador, a secretaria de Educação definiu metas para o letramento na idade certa (até 7 anos), além do aumento dos investimentos no setor, que levaram o município ao topo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) entre as cidades com mais de 70 mil habitantes nos anos 2000.
Em 2004, todo o estado acompanhou esse processo. Dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) daquele ano apontavam que 55% das crianças cearenses apresentavam desempenho ruim em leitura e escrita ao final da 4ª série.
Por conta dessa conjuntura, deputados da Assembleia Legislativa instituíram o Comitê Cearense para a Eliminação do Analfabetismo Escolar. Em seguida, a atuação dos parlamentares resultou na criação do Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC) pelo governo estadual.
A partir de 2015, outros estados passaram a reproduzir essa estratégia, como Pernambuco, Espírito Santo e Piauí. Em 2022, com a nomeação do ex-governador do Ceará Camilo Santana para o Ministério da Educação, parte da equipe da secretaria de Educação do estado foi para o governo federal, entre eles a ex-secretária-executiva da pasta, Izolda Cela, que implementou o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada.
Estratégia e incentivo
Dessa forma, a experiência de Sobral foi ampliada e adotada nas demais cidades. O pilar da estratégia que fortaleceu o ensino fundamental foi a cooperação entre o estado e os municípios. As avaliações para monitorar a evolução da aprendizagem e a preparação do material didático são centralizadas pelo estado e distribuídas às prefeituras.
Inspirada no exemplo do Ceará, uma emenda constitucional de 2020 criou o ICMS Educacional. Essa medida estabelece que uma parcela do imposto estadual deve ser destinada aos municípios conforme indicadores de melhoria nos resultados de aprendizagem.
A ação serve como incentivo aos prefeitos, já que o dinheiro recebido por esse mecanismo não é vinculado, ou seja, os gestores podem definir livremente como o recurso será usado.
Alunos, pais e professores
Mais uma medida foi o foco na capacitação de professores em práticas de alfabetização baseadas em evidências. Deusiran Nascimento é diretora da escola de ensino fundamental Joaquim José Monteiro, no município de Cruz (CE), que obteve a maior nota do país no Ideb em 2021 (9,1). Ela explica que, a cada bimestre, os professores passam por uma formação continuada. "Alguns professores são fragilizados na prática de sala de aula, e temos que atualizá-los".
Quanto aos alunos, Nascimento diz que o acompanhamento da aprendizagem é feito por etapas, desde o primeiro ano, quando os alunos já são leitores de frases curtas. "Nas turmas de alfabetização criamos projetos de leitura", afirma. Além disso, todos os meses, os alunos são avaliados para que os professores identifiquem falhas no processo de letramento. "Com isso, desenvolvemos atividades personalizadas dependendo do nível de escrita e leitura."
Além disso, os professores e coordenadores mantem contato direto com a família dos alunos. "Tem grupos das famílias no WhatsApp. Como aqui é um vilarejo, vamos às casas, todo mundo se conhece. Montamos cantinhos da leitura em casa com os pais, para que acompanhem a evolução das crianças", explica a educadora.
Para verificar a eficácia desse trabalho, o governo estadual faz uma avaliação periódica do PAIC, por meio do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (SpAece). Os testes traçam um diagnóstico da educação no estado e permite que sejam planejadas intervenções onde há defasagem de ensino.
Quanto falta material, é a própria equipe da escola que tem de se virar para arrecadar material. "Fizemos campanhas para arrecadar livros, às vezes imprimimos, compramos material. Este ano entrou um recurso para a educação infantil que antes não tinha. Até então, a última vez que veio livro do governo federal foi em 2019. Agora que voltou a vir".
Resultados positivos
Nascimento diz que antes do fim do ano letivo já vê resultado do esforço. "Hoje aqui na nossa escola, estamos em agosto, a maioria da turma já é de leitores de texto. "Já tivemos casos de alunos do segundo ano vindos de São Paulo que não sabia o alfabeto, nem conhecia as letras nem fazer o nome, mas aqui foi alfabetizado".
O desempenho na alfabetização do Ceará foi reconhecido pelo governo federal nesta segunda-feira (11/08), durante a entrega do Premio MEC da Educação Brasileira, na categoria de melhores resultados para essa prática. O prêmio de R$ 500 mil tem de ser aplicado na infraestrutura das escolas e valoriza.
Limitações
Mesmo com a mobilização de toda essa política, ainda há limitações. Isso porque a estratégia das escolas no Ceará foca na alfabetização no âmbito institucional, ou seja, promove a aprendizagem para quem está matriculado em escolas. Quem está fora das instituições de ensino fica à margem da política, como é o caso dos analfabetos funcionais.
De acordo com dados do Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 93% dos brasileiros com 15 anos ou mais são alfabetizados no Brasil e 7% são analfabetos. No entanto, apesar da alfabetização se aproximar da universalização, cerca de 29% desses adultos são analfabetos funcionais.
O nível de leitura e escrita desse grupo é considerado rudimentar, segundo a ONG Analfabetismo Funcional, o que significa que são capazes de compreender informações explícitas e números com os quais estão familiarizados, mas não conseguem decodificar textos mais longos ou operações matemáticas mais complexas.
"O que a gente precisa é fechar essa torneira, que é garantir que as pessoas sejam alfabetizadas na idade certa. E ser alfabetizado na idade certa, no Brasil, é no início do fundamental", argumenta Gontijo. "Se a pessoa não se alfabetizar na idade certa, ela vai tendo muita dificuldade ao longo da sua trajetória escolar e não só na disciplina de língua portuguesa, não consegue resolver uma questão de geografia, ou resolver um problema de matemática. Se a gente consegue garantir uma base muito bem feita, a trajetória dessas crianças vai ser muito mais fácil".
Fonte: DW em Destaque, Educação Brasil, 15/08/2025.
sexta-feira, 22 de agosto de 2025
A proletarização dos professores universitários da rede privada. Por Valter Mattos da Costa*
Pressão, adoecimento e desvalorização marcam o cotidiano de quem sustenta o lucro educacional
A sala de aula é o palco. Mas o espetáculo do Ensino Superior privado não se sustenta pelo brilho da educação. Mantém-se pelo suor de quem o sustenta com diplomas, notas, avaliações e promessas.
Atrás do quadro branco, há trabalhadoras e trabalhadores da docência universitária vendendo sua força de trabalho intelectual a preços cada vez mais rebaixados. Quem lucra com isso são os donos das universidades — empresários do setor educacional que transformaram o saber em mercadoria, e os professores em operários precarizados.
O estudante é convencido de que compra um futuro. Na realidade, adquire um produto simbólico — o diploma — que promete valorização social e econômica. Um capital simbólico, como diria Pierre Bourdieu. Mas o verdadeiro produtor dessa mercadoria é o professor, cujo trabalho gera valor que não lhe é retribuído.
A diferença entre o que o professor transfere e o que recebe — essa mais-valia educacional — vai parar no caixa da instituição.
Submetido à lógica da acumulação, o docente da rede privada é forçado a transformar o saber em serviço, o ensino em resultado, e a autonomia em planilha. A liberdade de cátedra cede lugar à pressão comercial.
A criatividade didática se curva às demandas do marketing. A crítica desaparece sob a vigilância dos coordenadores, pressionados por metas de retenção e aprovação. O conhecimento deixa de ser um fim e torna-se um meio de sobrevivência.
Sobrevivência, aliás, é palavra-chave. Os salários não acompanham a inflação. A sobrecarga é constante. A instabilidade do vínculo contratual impede qualquer planejamento de médio ou longo prazo.
Muitos professores atuam em mais de uma instituição, percorrem longas distâncias e ainda preparam aulas, corrigem trabalhos e alimentam sistemas burocráticos fora do horário. Não raro, a saúde física e mental colapsa: burnout, ansiedade, distúrbios vocais e musculares se tornam parte da rotina.
Os donos das universidades pressionam. Os coordenadores pressionam. Os alunos pressionam. Uns por lucro, outros por metas e cargos, outros por aprovação automática — confundindo consumidor com patrão.
Em todos os casos, a sobrecarga recai no professor. Uma engrenagem produtiva que precisa estar disponível, adaptável e em constante aperfeiçoamento, sem qualquer garantia de estabilidade. Quando adoece, atrasa ou reclama, é descartado sem cerimônia.
A pandemia escancarou e aprofundou esse quadro. Muitas instituições cortaram salários, aumentaram cargas horárias no ensino remoto (o famoso EAD) e demitiram centenas de professores.
Outras simplesmente faliram, deixando dívidas trabalhistas e um rastro de desesperança. A conta da crise foi repassada a quem menos podia pagá-la: o corpo docente e os demais profissionais da Educação. Enquanto isso, os sócios retiravam o capital, vendiam patrimônios e se protegiam juridicamente do passivo.
A retórica empresarial sobre “educação de qualidade” serve apenas como embalagem. A realidade cotidiana é a de um trabalhador expropriado de sua produção intelectual, submetido à lógica de mercado e tratado como peça substituível.
A docência, nesse modelo, é menos profissão e mais bico. O professor deixa de ser sujeito do saber para virar executor de demandas alheias. A universidade privada torna-se uma fábrica de certificações.
A lógica empresarial que transforma o ensino em produto mina também os fundamentos democráticos. A filósofa estadunidense Martha Nussbaum alerta que, ao subordinar a formação ao lucro, esvazia-se o papel da educação como promotora de cidadania crítica e de empatia.
“A educação não é útil apenas para a cidadania. Ela prepara as pessoas para o trabalho e, o que é fundamental, para uma vida que tenha sentido. Seria possível escrever outro livro inteiro sobre o papel das artes e das humanidades na promoção desses objetivos.” (NUSSBAUM, 2017).
Mesmo assim, a maioria resiste. Busca qualificação, participa de projetos de extensão, investe em pesquisa, muitas vezes sem remuneração. Luta para manter a dignidade diante do descaso. Apoia-se em redes de solidariedade e afeto para continuar. Há resistência, ainda que fragmentada. Mas não há política pública à altura. A precariedade estrutural é ignorada pelas autoridades. A legislação trabalhista, cada vez mais fragilizada, oferece pouca proteção.
Comparações com os docentes das universidades públicas são frequentes. E, em muitos casos, injustas. Não se trata de oposição entre categorias, mas de compreensão das diferenças estruturais.
Os professores do setor privado, ainda que igualmente qualificados, enfrentam condições mais instáveis, menores salários e menos prestígio. Isso não os torna menos professores. Torna mais urgente a defesa de sua dignidade.
A crise da educação superior no setor privado é, em grande parte, a crise da própria lógica que transforma o saber em mercadoria. A escola-empresa reproduz desigualdades, aliena sujeitos e esvazia o sentido da formação.
Enquanto isso, os professores universitários vivem a contradição de ensinar criticamente um mundo que os oprime, ao mesmo tempo em que são forçados a reproduzir esse mundo dentro das instituições.
Não se trata de nostalgia por um tempo que nunca foi ideal. Trata-se de denunciar a proletarização de um trabalho que deveria ser intelectual, emancipador e respeitado.
Enquanto a docência for tratada como mera prestação de serviço, a universidade será apenas um balcão. E o professor, um vendedor fatigado de esperanças. É preciso romper essa lógica. A educação não é mercadoria. E o saber, muito menos.
* Professor de História, especialista em História Moderna e Contemporânea e mestre em História Social, todos pela UFF, doutor em História Econômica pela USP e editor da Dissemelhanças Editora.
Fonte ICL Notícias em 08/08/2025
sexta-feira, 15 de agosto de 2025
Professor na era da IA: ameaça ou oportunidade
A inteligência artificial chegou às salas de aula e desafia educadores a repensarem práticas, avaliações e seu papel na formação dos estudantes
Não é novidade que o acesso à tecnologia está cada vez mais presente na educação.
Imagine um aluno do ensino médio que precisa fazer um trabalho de história. Em vez de ir à biblioteca ou buscar informações em livros didáticos, ele abre o celular, digita sua pergunta em uma ferramenta de IA e, em poucos segundos, recebe um texto pronto.
Em um mundo cada vez mais mediado por algoritmos, o papel do educador precisa ser repensado. Aqui vamos falar sobre como a IA está transformando a sala de aula, quais os impactos no cotidiano escolar e como pode (e deve)se posicionar o professor na Era da IA.
Uso da inteligência artificial na educação
A inteligência artificial já está entre nós, mediando relações, automatizando tarefas e interferindo em nossas rotinas. No campo educacional, essas tecnologias vão desde sistemas de correção automatizada até plataformas adaptativas de aprendizagem.
É assim que o Professor na Era da IA é confrontado com uma realidade em que o conhecimento se atualiza de forma acelerada, exigindo constante formação e adaptação.
Exemplo disso é que o governo federal, através do MEC, já reconhece a importância da temática e em 2023 criou uma câmara técnica para discutir a regulamentação do uso de IA em ambientes escolares.
A diretriz é clara: a inteligência artificial não deve substituir o professor, mas sim ser uma ferramenta que amplifique e facilite seu trabalho.
IA: ameaça ou oportunidade na educação?
Se entendemos que o uso da IA está cada vez mais intrínseco no nosso cotidiano, no debate público há quem veja a IA como uma ameaça capaz de extinguir profissões.
Por exemplo, muitos educadores se preocupam com a possibilidade de a IA reduzir o papel do professor, substituindo sua atuação por soluções tecnológicas. Há também o risco de alunos usarem essas ferramentas para “pular etapas” do aprendizado e comprometer seu desenvolvimento como cidadão.
Além disso, a falta de preparo de escolas e docentes para lidar com essas tecnologias pode aprofundar desigualdades educacionais, já que nem todos os alunos têm o mesmo acesso e orientação.
Como alunos usam a IA nas escolas
O uso de ferramentas como ChatGPT, Gemini, Grammarly e Quillbot está se tornando cada vez mais comum entre os estudantes, seja para pesquisas rápidas ou até mesmo para a produção completa de trabalhos escolares.
Esse novo comportamento levanta questões éticas importantes: quem é, de fato, o autor do conteúdo? O aluno está aprendendo ou apenas terceirizando o processo? E como garantir a honestidade acadêmica nesse cenário?
Diante desse desafio, o Professor na Era da IA precisa repensar as formas de avaliação.
Em vez de focar apenas no resultado final, como uma redação pronta ou uma resposta correta, é necessário valorizar o caminho percorrido pelo aluno — sua capacidade de refletir, argumentar e construir conhecimento de forma autêntica.
É aqui que a avaliação precisa evoluir para acompanhar esse novo contexto, estimulando o pensamento crítico, a criatividade e a autoria genuína.
Professor na era da IA
Mas e os professores? Como eles estão sendo impactados por essa transformação? Será que a inteligência artificial pode substituir o papel do docente?
A resposta mais aceita entre especialistas hoje é: não.
A IA, apesar de poderosa em processar dados e gerar respostas, ainda é limitada em aspectos fundamentais da prática docente.
O cuidado emocional, a leitura de contextos sociais e culturais, a empatia e a mediação de conflitos. Esses são elementos que exigem sensibilidade humana, algo que nenhuma máquina é capaz de replicar com profundidade.
O papel do professor vai muito além de apenas transmitir conteúdo.
Ele escuta, orienta, cria um ambiente acolhedor e incentiva os alunos a pensarem de forma crítica e independente. Por isso, em vez de representar uma ameaça, a IA pode ser vista como uma aliada, liberando o professor de tarefas repetitivas e fortalecendo o que há de mais essencial em sua atuação: o vínculo humano e a formação integral dos estudantes.
Como mediar o uso da IA nas escolas
Nesse contexto, “mediação” é a palavra-chave.
O Professor na Era da IA precisa estar preparado para orientar os estudantes no uso crítico dessas ferramentas. Isso implica formação continuada, discussões éticas e também atualização curricular. Não é mais possível ignorar a presença da IA no cotidiano escolar, mas é possível se adaptar a esse uso no dia a dia.
Além disso, políticas públicas são fundamentais nesse processo. O Plano Nacional de Educação (PNE) deve incorporar metas relacionadas à formação digital de docentes, e os estados e municípios precisam garantir condições estruturais para o uso pedagógico da tecnologia.
A alfabetização infantil deve chegar até o digital e transformar nossos pequenos cidadãos em mentes pensantes e críticas. É preciso ensinar a verificar fontes e questionar resultados gerados por IA. Além disso, compreender como funcionam os algoritmos também deve fazer parte do currículo escolar.
Formação docente e capacitação em IA
Um dos maiores desafios enfrentados pelo Professor na Era da IA é a falta de formação específica. Muitos docentes não tiveram contato com ferramentas de IA durante sua formação inicial e, por isso, não possuem conhecimentos básicos para explorá-las pedagogicamente.
Investir em capacitação é estratégico.
O Programa de Inovação Educação Conectada, por exemplo, é uma iniciativa do governo federal que visa promover a integração da tecnologia nas escolas. No entanto, ainda há um longo caminho para garantir que todos os professores estejam aptos a atuar de forma crítica, criativa e segura com IA.
Experiências em escolas públicas brasileiras
Algumas redes de ensino já começaram a experimentar o uso pedagógico da inteligência artificial. Em São Paulo, por exemplo, escolas estaduais utilizaram plataformas adaptativas para apoio em matemática e língua portuguesa.
No Ceará, professores desenvolveram projetos integrando IA com análise de dados e formação cidadã. Essas experiências mostram que, quando bem orientada, a IA pode se tornar uma aliada poderosa no enfrentamento das desigualdades educacionais.
É assim que o Professor na Era da IA deixa de ser apenas um operador de tecnologia, mas um mediador que contextualiza, adapta e potencializa o uso pedagógico dessas ferramentas.
No âmbito internacional, a UNESCO publicou, em 2021, o documento Recomendação sobre a Ética da Inteligência Artificial, que reforça a necessidade de garantir que o uso de IA respeite os direitos humanos, a equidade e a inclusão.
O Professor na Era da IA também é protagonista desse debate global, pois é ele quem está na linha de frente para implementar essas diretrizes com senso crítico.
Experiências em países como Finlândia e Canadá mostram que o investimento em formação docente e o foco na mediação são caminhos eficazes para integrar a tecnologia sem perder o foco humano da educação. A lição é clara: a tecnologia não substitui o vínculo pedagógico.
A presença da inteligência artificial no ambiente educacional não é mais uma hipótese futura. É um fato concreto.
Ferramentas baseadas em IA já estão sendo utilizadas por alunos, professores e gestores escolares em diversas etapas do processo de ensino e aprendizagem. Diante dessa transformação, é fundamental entender que o papel do professor não se torna obsoleto, mas ainda mais relevante.
O professor é quem pode garantir que o uso dessas tecnologias não seja apenas técnico, mas também ético e formativo.
É ele quem pode orientar os alunos a usar a IA de forma crítica, responsável e produtiva — como apoio à aprendizagem, e não como atalho para evitar o esforço intelectual. Além disso, é o professor que tem a sensibilidade necessária para interpretar contextos, acolher estudantes em suas singularidades e promover o pensamento reflexivo.
Para isso, é urgente investir na formação continuada dos educadores.
Iniciativas que incentivem o domínio das ferramentas tecnológicas, mas também o debate sobre seus impactos, devem ser priorizadas por escolas, redes públicas e privadas. Afinal, o avanço da IA na educação é inevitável. O que podemos (e devemos) decidir é se ela será usada como ferramenta de exclusão ou como instrumento de transformação.
Essa escolha está, sobretudo, nas mãos de quem ensina.
Então, se você é educador e quer se preparar de forma prática e acessível para esse novo cenário, o Instituto Conhecimento Liberta oferece o curso Inteligência Artificial na Prática. Nele, você vai aprender a usar ferramentas de IA com consciência, ética e criatividade, fortalecendo ainda mais o seu papel na sala de aula.
Fonte: ICL Notícias em 25/07/2025.
quinta-feira, 31 de julho de 2025
Faculdade paraguaia sob investigação: Polícia Federal investiga FICS por oferecer diplomas de mestrado e doutorado sem autorização
Delegado apura como instituição teve títulos de pós-graduação validados no país, mesmo sem autorização oficial
A atuação da Facultad Interamericana de Ciências Sociales (FICS), sediada no Paraguai, está na mira das autoridades brasileiras. Um ofício da Polícia Federal, datado de 17 de junho de 2025, revela que a Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários (DELEFAZ/DRPJ/SR/PF/DF) está apurando como a instituição conseguiu ter diplomas de mestrado e doutorado reconhecidos no Brasil, mesmo operando em aparente irregularidade no país de origem.
De acordo com o documento oficial, a FICS não possui registro ativo junto ao Ministério da Educação e Ciências do Paraguai (MEC-PY) nem no Conselho Nacional de Educação Superior (CONES) — o que inviabilizaria, segundo a legislação brasileira, o reconhecimento de seus títulos por universidades e órgãos públicos no Brasil. O caso foi registrado sob o número 2025.0053314-SR/PF/DF.
No site oficial da FICS (https://fics.edu.py/), a instituição divulga uma série de programas de mestrado e doutorado em áreas como Saúde, Psicologia, Educação, Direito e Administração. No entanto, a Lei 2972/2006 do Paraguai, que criou o Instituto Superior Interamericano de Ciências Sociais, autoriza a atuação da instituição apenas no campo das Relações Internacionais. Qualquer expansão para outras áreas dependeria de nova legislação ou credenciamento específico, o que não foi identificado nos registros públicos paraguaios.
Em 2018, o CONES suspendeu o registro de diplomas emitidos pela FICS, colocando em xeque a legalidade de novos títulos expedidos após essa data. Isso fere diretamente a Resolução CNE/CES nº 01/2022, do Ministério da Educação brasileiro, que exige, em seu artigo 18, §4º, inciso II, que o curso estrangeiro tenha regularidade no país de origem para ser reconhecido no Brasil.
A ausência de clareza quanto à validade dos cursos da FICS levanta suspeitas de que centenas de estudantes brasileiros possam ter sido enganados. Muitos buscavam uma titulação rápida e de menor custo, mas agora se deparam com a possibilidade de seus diplomas não terem qualquer valor legal.
Tentativas de contato com a FICS e com instituições brasileiras que reconheceram seus diplomas não tiveram sucesso — acredita-se que o recesso acadêmico de meio de ano esteja dificultando as respostas. Ainda assim, o espaço segue aberto para manifestação das partes envolvidas.
Reconhecimento de diplomas estrangeiros: cuidados antes de investir em cursos fora do Brasil
O caso da FICS escancara um problema recorrente enfrentado por brasileiros que buscam cursos superiores ou de pós-graduação no exterior: a falta de regularidade e o risco de invalidade no Brasil. Apesar de parecer atraente cursar mestrado ou doutorado fora do país por valores mais acessíveis ou pela facilidade burocrática, é essencial estar atento aos requisitos legais.
A legislação brasileira exige que qualquer diploma obtido fora do Brasil passe por um processo de reconhecimento em universidades públicas credenciadas para isso. Esse reconhecimento depende de dois critérios principais: equivalência do conteúdo programático e regularidade da instituição no país de origem.
Segundo a Resolução CNE/CES nº 01/2022, o diploma só pode ser aceito se o curso for considerado legal onde foi ministrado. Ou seja, mesmo que o curso seja real, se a instituição estiver irregular — como parece ser o caso da FICS — o reconhecimento no Brasil torna-se impossível.
Cursos oferecidos à distância, especialmente em instituições privadas do exterior com operações duvidosas, devem ser observados com ainda mais rigor. A promessa de titulação rápida, com poucos meses de aula e valores baixos, costuma ser o primeiro sinal de alerta.
No caso da FICS, o desenrolar da investigação da Polícia Federal poderá levar à anulação de títulos já reconhecidos e até a responsabilização criminal de intermediários e instituições que facilitaram esse processo. Para os estudantes, a situação é dramática: perder tempo, dinheiro e enfrentar insegurança jurídica quanto à validade de sua formação.
Servidores públicos que usaram diplomas ilegais para obtenção de benefícios financeiros podem ser até condenados a restituir os cofres públicos os valores recebidos – mesmo que sejam inocentes e não tenham conhecimento sobre a ilegalidade do curso, pois a omissão quanto à verificação da legalidade do curso constitui um ato ilícito indenizável.
A recomendação final é clara: antes de buscar um título internacional, informe-se bem. O barato pode sair caro — e o diploma, sem valor.
Fonte: Carol do Jornalismo imprensa@marcoadv.com em julho de 2025.
quinta-feira, 24 de julho de 2025
UNESCO: Acesso digital cresce, mas uso pedagógico segue limitado nas escolas
Relatórios de 2023 e 2025 destacam lacunas no uso de tecnologia na educação e apontam a necessidade de abordagens equilibradas com mediação humana
Em meio ao aumento do uso de ferramentas digitais em sala de aula, o relatório global de monitoramento da educação da UNESCO de 2023 revela lacunas estruturais que dificultam a adoção eficaz dessas tecnologias. Segundo o documento, apenas cerca de 10% dos estudantes de 15 anos, mesmo em países ricos, utilizam dispositivos digitais por mais de uma hora por semana em matérias como matemática e ciências. Além disso, apenas metade dos países avaliados possui padrões para o desenvolvimento de habilidades em TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) entre professores.
Outro destaque do documento é a concentração de produção de conteúdo: cerca de 90% dos recursos educacionais abertos em repositórios universitários são provenientes da Europa e da América do Norte, sendo 92% em inglês. Isso limita o alcance e a diversidade cultural do material disponível, especialmente em países de renda média e baixa.
O relatório mais recente da UNESCO, publicado em 2025, identifica um retrocesso : segundo os dados do TIMSS, a pandemia de COVID-19 afetou de forma desproporcional o desempenho das meninas em matemática, especialmente em países de renda média e baixa. O resultado reforça a importância de abordagens educacionais que combinem tecnologia com acompanhamento humano para evitar o aprofundamento das desigualdades.
Para ilustrar essa abordagem equilibrada, entre as plataformas que combinam tecnologia e mediação humana está o TutorMundi, que oferece monitoria escolar, aulas particulares e orientação de estudos com tutores humanos, utilizando recursos de IA apenas como apoio. Em 2024, a plataforma registrou 47.846 horas de monitoria, cobrindo majoritariamente matemática, física, química e biologia. Todos os atendimentos são realizados por tutores de universidades brasileiras como USP, ITA, Unicamp, UFRJ e UFPE.
Segundo o CEO do TutorMundi, Rapha Coe, o foco da plataforma busca preencher lacunas que o uso isolado de tecnologia não resolve. “A tecnologia pode ser útil, mas sem presença humana no processo pedagógico, ela frequentemente falha em engajar o estudante ou responder às suas dúvidas em tempo real”, afirma.
Ainda de acordo com a UNESCO, quase um quarto dos países já proibiu o uso de smartphones em escolas, enquanto menos de 15% possuem leis que garantem a privacidade de dados educacionais. A organização reforça que, antes de ampliar o uso de tecnologia, os países precisam discutir seus impactos sociais, ambientais e econômicos no longo prazo.
Fonte: Rapha Coe - TutorMundi - rapha.coe@tutormundi.com