É irreversível a tendência de aprendizagem a distância, mas o Brasil
está atrasado em termos legislativos e práticos no assunto. Essa foi a
conclusão dos debatedores que participaram de audiência pública sobre a
implementação do ensino online no Brasil realizada pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) na quarta-feira (16/7).
Requerida pelos senadores Cristovam Buarque (PDT-DF) e Cyro Miranda
(PSDB-GO), presidente da comissão, a audiência reuniu especialistas em
tecnologia e educação para tratar do tema. O professor e assessor do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Formiga, afirmou
que o Brasil tem implementado a educação a distância num ritmo muito
aquém do necessário.
- Existem casos de sucesso, existem muitos bons exemplos a serem
seguidos, mas, comparativamente ao padrão internacional, o Brasil ainda
está muitíssimo atrasado - disse.
O atraso do país no uso das novas tecnologias para a educação também
foi confirmado pelo consultor em projetos educacionais, Edelvício Souza
Júnior. Segundo o consultor, o modelo de escola e de educação
brasileiras ainda é o mesmo do tempo de nossos avós.
- Nós vivemos hoje a 'Geração Z', em que uma criança nem completou um ano já sabe perfeitamente, da sua maneira, usar um tablet,
usar um celular, sem que ninguém precise ensinar. E nós queremos que
essa criança também continue estudando com livro didático, preparando-se
para fazer provas do modo convencional - argumentou.
Para o assessor do Ministério da Educação, Rubens de Oliveira
Martins, o governo quer usar a educação a distância como estratégia no
ensino superior até mesmo para alcançar as metas do Plano Nacional de
Educação (PNE), como diminuir as desigualdades de acesso a esse nível de
ensino.
- E também para atingirmos as metas de expandir o ensino superior em
áreas consideradas mais importantes para o país, seja na educação
profissional, tecnológica, seja na educação de jovens e adultos e também
no caso daqueles que, por questões financeiras, não podem ter acesso -
explicou.
Legislação
Formiga criticou o excesso de legislação educacional no país, que,
segundo ele, tem 70 mil leis, somando os três níveis: federal, estadual e
municipal. Para ele, o excesso de legislação não é sinônimo de
qualidade. O professor criticou o PNE, que classificou como perverso na
questão da educação a distância. Ele também criticou as demais normas
relativas ao assunto, como uma portaria do MEC que determina que apenas
20% da carga horária de cursos superiores possam ser a distância.
- A legislação hoje inibe e desestimula a educação a distância. Basta
ver o ridículo percentual: pode fazer 20% a distância. Não existe isso
em nenhum país do mundo. Os países que fazem educação a distância de boa
qualidade não têm legislação, têm marcos legais muito genéricos -
comparou.
O senador Cyro Miranda também criticou o fato de o PNE para o período
de 2010 a 2020 ter sido aprovado apenas em 2014. Ele falou que algumas
metas do plano deveriam ser obrigatoriedades, como a expansão do ensino
integral, por exemplo.
Mooc
Os Cursos Massivos Abertos Online (Mooc's, na sigla em inglês) foram
citados pelos debatedores como o caminho para a expansão da educação a
distância no Brasil. O Mooc, que surgiu nos Estados Unidos em 2011 e
começou no Brasil em 2012. Ele é um curso gratuito, online e feito para
um número ilimitado de alunos.
Segundo o assessor do MEC, 29% dos cursos de educação superior no
país são a distância e, de acordo com o consultor Edelvício Souza,
apesar do atraso brasileiro no uso da educação a distância, 15% dos
universitários já fazem curso online no país.
- O brasileiro, por mais dificuldade de idioma que tenha, já é o
terceiro maior público do Coursera, que é o maior Mooc do mundo -
afirmou Souza.
Para o diretor-geral da MGB Serviços e Computadores, Mauro Farias
Dutra, o Mooc tem a possibilidade de quebrar o ciclo vicioso de
professores mal pagos porque são pouco qualificados. Ele defendeu a
proposta do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) de federalizar a educação
básica.
Dutra também defendeu a chamada "Educação Blended", que mistura o
ensino presencial com o ensino a distância, utilizando os Mooc's, e a
qualificação dos professores para o uso da tecnologia na educação. Para o
empresário, deveria haver um modelo de escola digital em que o ensino
seria feito em período integral com um turno na escola e outro turno em
casa com o auxílio dos Mooc's.
Na opinião de Cristovam, é preciso haver uma revolução na educação brasileira para que ela seja online.
- Não tem mais como considerar a escola uma sala com professor e
aluno usando quadro negro. Não tem mais como considerar que universidade
tenha endereço geográfico, e não endereço eletrônico. Tem que haver uma
revolução - disse.
Fonte: JC e-mail 4991, de 17 de julho de 2014.
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