Lousa, giz, caderno e caneta. Alunos sentados e professores de pé
conduzindo a aula. Já parou para pensar de onde surgiu esse método de
ensino que utilizamos até hoje desde as mais tradicionais até as mais
inovadoras escolas? Pelo que se sabe, o modelo educacional que
conhecemos surgiu na Europa, em meados do século XII. Antes disso, sabe
se que existiram outros métodos de estudo, alguns mais informais, como
na Grécia antiga, onde os alunos eram educados sem divisão em séries e
salas de aula, e outros mais ligados a divisões sociais, como acontecia
na Europa medieval, onde só estudava quem era ligado à igreja.
Fato é que não podemos negar que o ensino hoje é um dos modelos mais
democráticos já conhecidos, pois permite ao aluno expor suas dúvidas e
participar de discussões sobre os mais variados assuntos. Essa
“liberdade” que permeia a sala de aula também é relativamente nova, e
pelo menos no Brasil, não era vista até há algumas décadas. Ou seja, já
passamos por muitas mudanças para chegar até o método de ensino que
conhecemos hoje.
Considerando todo o trajeto histórico que percorremos para popularizar o
sistema educacional que é vigente na maioria dos países, podemos
concluir que a educação, assim como todas as outras esferas sociais,
também é passível de mudanças. E isso se deve principalmente às
transformações sociais, ou seja, ela precisa atender às expectativas das
novas gerações que obviamente têm necessidades de aprendizado
diferentes das antigas. É claro que certas coisas dificilmente mudarão. É
bem provável que os nossos bisnetos ainda estudarão a Língua Portuguesa
e frações matemáticas, mas a metodologia adotada até lá com certeza
será mais tecnológica do que a praticada hoje. E não estou falando
apenas do uso de lousas digitais e tablets em sala de aula.
Um exemplo de novos recursos que estão sendo adotado por algumas escolas
são os aplicativos voltados ao ensino de matérias ou temas específicos.
Infelizmente as escolas que as utilizam ainda são minoria, já que é
preciso ter certa infraestrutura para que todos os alunos possam
interagir com essas novidades. Mas elas estão ampliando, e acredito que
em um futuro não muito distante elas serão maioria. Como era de se
esperar, o surgimento dessas tecnologias também refletiu em discussões
sobre o tema, que abordam basicamente os benefícios e malefícios do seu
uso pelos alunos.
Alguns especialistas acreditam que as tecnologias em geral podem
mascarar a reflexão sobre os conteúdos transmitidos nas aulas, já que
distraem os alunos que ainda não estão prontos para lidar de forma
didática com dispositivos móveis e aplicativos, pois os associam a
entretenimento. Em contrapartida, outros especialistas afirmam que a
tecnologia pode até mesmo contribuir para o aumento da atenção dos
estudantes. Inseridos nesse fogo cruzado, muitos profissionais do
ensino, como diretores, acadêmicos, professores e pedagogos ficam em
dúvida sobre o que é melhor para seus alunos.
Se pararmos para pensar em todas as mudanças que o sistema pedagógico já
sofreu nos últimos anos, vamos ver que a maioria delas foi para
benefícios dos alunos. O ensino de idiomas é um bom exemplo. Se há
alguns (muitos!) anos o latim era a prioridade nas salas de aula, hoje
com certeza é o inglês. Isso se deve a mudança de prioridades, já que
este idioma tem sido muito mais exigido pelo mercado que o outro.
Seguindo essa linha de raciocínio, como o aprendizado através de
tecnologias seria prejudicial quando a tendência é exigir cada vez mais
que os jovens sejam heavy users delas? Não seria contraditório manter os
recursos digitais afastados da educação quando os alunos estão
totalmente adaptados ao seu uso?
Certa vez o ex-presidente norte americano John Kennedy disse que “a
mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou
para o presente irão com certeza perder o futuro”. Acredito que não
podemos subestimar o papel do professor em sala de aula e tornar a
tecnologia o centro de tudo. Mas no atual contexto do crescimento da
mobilidade no mundo todo, não podemos ignorar os benefícios que alguns
recursos podem trazer para o âmbito escolar. Tapar os olhos para isso
pode significar uma grande perda em termos de capacitação para o mercado
de trabalho.
Venho acompanhando algumas escolas que usam aplicativos em dispositivos
móveis para estimular o interesse dos alunos por conteúdos e matérias
que antes eram vistas como “chatas” pela maioria, como o inglês por
exemplo. Os resultados têm sido majoritariamente positivos, não só para
os estudantes como para o corpo docente, que têm nas mãos ferramentas
que não só os ajudam a fixar o conteúdo durante as aulas, como também
apresentam um feedback quanto ao aprendizado da turma.
Em suma, acredito que ainda teremos um longo caminho pela frente até que
todos tenham acesso e bom aproveitamento de recursos como esses.
Entretanto, não podemos desistir de oferecer às crianças e aos jovens de
hoje, que serão nada mais, nada menos que o futuro de amanhã, uma
educação de qualidade que respeite as suas mudanças de comportamento.
Quem tem filho em casa sabe que o tempo que ele passa em frente ao
celular é muito maior do que o tempo na frente da TV. Estamos assistindo
a uma transformação e o sistema pedagógico precisa saber se comunicar
com esse novo perfil de estudante. Isso não implica a quebra das
relações humanas que há entre professor, aluno, pais e comunidade. Mas
sim em adaptá-los, em torná-los hábeis para saber lidar com os desafios
que lhe serão colocados lá na frente, quando se tornarem profissionais
aptos a protagonizarem as próximas mudanças sociais.
Por Marcos Abellón, diretor geral da Q2L - ferramenta multiplataforma
de aprendizado, que utiliza conceitos de gamification para apresentar
seu conteúdo ao jogador. Mais informação em: www.q2l.com.br
* Articulando esclarece que o conteúdo e
opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do
autor e não refletem necessariamente a opinião do coletivo de
educadores.
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