Com a crise econômica, muitas famílias tiveram que cortar gastos e
alguns pais transferiram filhos da rede de ensino particular para a rede
pública. A diretora da Federação Nacional das Escolas Particulares
(Fenep), Amábile Pacios, diz que as escolas particulares perderam entre
10% e 12% das matrículas em 2016, por causa, principalmente, da crise
financeira.
Segundo Amábile, a Fenep identificou a saída de
estudantes de escolas privadas, principalmente de famílias das classes C
e D – parcela da população que teve ganho de poder aquisitivo antes da
crise e agora sente mais os efeitos da desaceleração econômica.
"Teve migração maior de escolas que atendem as classes C e D, que
cresceram mais nos últimos cinco anos com aquela ilusão do grande boom
do crescimento. Essas classes tinham o sonho de colocar os filhos na
escola particular e, com os cortes que fizeram no orçamento, a escola
não coube mais", disse Amábile. Segundo ela, nas escolas que atendem
predominantemente as classes A e B, houve aumento de 3% a 4% nas
matrículas.
No Distrito Federal, este ano a rede pública recebeu
10 mil solicitação de matrículas a mais que em 2015. O subsecretário de
Planejamento, Acompanhamento e Avaliação Educacional da Secretaria de
Educação local, Fábio Pereira, disse que o principal motivo do aumento
da demanda deve ser mesmo a migração de estudantes da rede privada para a
pública, por causa da crise e do encarecimento das mensalidades
escolares.
"A Secretaria de Educação recebe em média 30,32 mil
solicitações de novas matrícula a cada ano, e neste foram cerca de 42
mil. Isso, certamente, reflete a transferência desses alunos da rede
particular para a [rede] pública, e também a chegada de novas crianças
ao Distrito Federal", disse ele.
Retorno
De acordo com
Fábio Pereira, além da crise há também um movimento de retorno da classe
média para a escola pública, motivado por incentivos como a reserva de
vagas em universidades para estudantes vindos das rede pública.
Segundo ele, a rede pública do Distrito Federal se preparou para receber
mais estudantes. "Isso já era esperado. Então, ao longo de 2015
buscamos reorganizar a rede, ampliamos escolas, fizemos reformas e
locamos novos espaços justamente para atender essa demanda",
acrescentou.
O diretor executivo da Associação Lecionar
Unificada de Brasília (Alub), Alexandre Crispi, diz que neste ano
observou intenso movimento de migração de estudantes entre escolas
privadas, saindo daquelas com mensalidades mais caras para as de preço
mais baixo. Ele conta que as matrículas nas unidades da rede Alub, que
tem foco na classe C, cresceram 14% este ano, em comparação com o ano
passado.
Segundo Crispi, muitos pais fazem cortes e remanejam
gastos para manter os filhos na escola particular. Além de mudar os
filhos de escola, em função do preço, ele diz que as famílias têm
recorrido ao corte de transporte escolar, de cursos de línguas e aulas
de esportes.
"Se os pais precisarem mudar os estudantes de
escola, que escolham uma que tenha perfil pedagógico mais próximo",
recomenda Crispi.
Menos despesas
Frederico de Carvalho,
que trabalha na área de marketing esportivo e cultural, viu a crise
avançar e recorreu a duas alternativas para reduzir os gastos com os
estudos dos filhos este ano: transferiu o filho de 17 anos da escola
particular para a pública e a filha de 4 anos continuou na rede
particular, mas agora em uma escola com valor da mensalidade menor.
Para o filho, Carvalho procurou uma escola pública que teve bons
resultados na aprovação de estudantes na Universidade de Brasília. Ele
conta que o rapaz gostou da mudança. "Ele está satisfeito porque sabe
que quem faz a escola é o aluno, e o terceiro ano lá é bem puxado para
quem está querendo realmente estudar", disse. O produtor diz que, com a
economia do remanejamento das escolas, será possível usar parte do
dinheiro da mensalidade para abrir uma poupança para o filho mais velho.
O presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino
do DF, Luís Claudio Megiorin, relata que também observou a migração de
estudantes da Classe C, da rede particular para a pública, e entre
unidades da rede privada. "Vemos que, com essa crise econômica, muitos
pais não tiveram mais como bancar a escola privada, e acredito que são
os pais da Classe C para baixo, a nova classe média", salientou.
Para ele, os pais devem ficar atentos à qualidade da educação dos dois
lados, pois as escolas públicas recebem mais alunos, e isso gera mais
desgaste para os professores e aumento no número de estudantes por
turma. Por outro lado, a escola privada, ao cortar custos, pode
comprometer a qualidade do ensino.
Fonte: Agência Brasil, em 15/2/2016.
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