Partindo da premissa de que escolas e empresas têm muito mais em comum
do que aparentam, a Bain & Company, uma das principais consultorias
de negócios do mundo, analisou 12 escolas e mais de 4,2 mil educadores
nos Estados Unidos, com o intuito de descobrir como desenvolver mais
lideranças e promover a motivação dos colaboradores dentro do ambiente
escolar. Os resultados da pesquisa revelam algumas similaridades entre
as dificuldades encontradas por escolas brasileiras e norte-americanas –
bem como algumas soluções possíveis para a promoção de um ambiente
escolar mais satisfatório para seus colaboradores.
Um dos
insights do estudo consiste na sobrecarga de funções atribuída à figura
do diretor – situação análoga à observada no Brasil. De acordo com o
levantamento, 96% dos diretores entrevistados afirmaram ser os únicos
responsáveis pela performance e pelo desenvolvimento de todos os
professores e educadores de suas escolas, ao passo que 82% se consideram
os principais responsáveis por essa gestão de desempenho.
Consequentemente, cada diretor é responsável, em média, pela performance
e pelo desenvolvimento de 37 professores, número 640% superior ao que
um gestor médio de uma companhia norte-americana gerencia (em média, 5
profissionais com ensino superior).
"Uma empresa não duraria
com o modelo de uma escola, por conta de fatores como a sobrecarga de
atribuições dos cargos gerenciais e, principalmente, do despreparo. Há
três anos elaboramos um relatório sobre como os líderes surgiam nas
escolas norte-americanas. Nele, descobrimos que muitos professores
descobrem que serão diretores duas semanas antes do início das aulas –
no caso brasileiro, temos professores que, após prestar determinado
concurso, acabam assumindo a direção de escolas sem nenhum tipo de
experiência prévia em cargos administrativos. Em ambos os casos, temos
profissionais que muitas vezes são ótimos educadores, mas até então
lidavam com crianças, não com adultos. Se pensarmos em liderança como
uma escada, estaremos pedindo que os educadores pulem vários
degraus ao mesmo tempo sem terem passado por degraus intermediários
antes. Em empresas, há planos de carreira, de sucessão, uma hierarquia
em é possível avaliar constantemente o talento no nível abaixo para ver
quem pode subir, ao passo que nas escolas isso não acontece de forma
alguma", pondera Ives Moraes, sócio da Bain & Company responsável
por projetos de educação.
Consequentemente, essa sobrecarga
traz uma série de efeitos negativos: de um lado, diretores
sobrecarregados e estressados, responsáveis pelo desenvolvimento de
todos os adultos do prédio. De outro, professores desestimulados por ser
avaliados por um superior com pouco ou nenhum tempo de acompanhar suas
atividades. Consequentemente, os ambientes se tornam pouco
motivadores: ao ser indagados se recomendariam sua escola para um
amigo trabalhar, apenas 27% dos professores responderam afirmativamente.
Os motivos alegados para o baixo índice de recomendação são a falta de
apoio, liderança e colaboração entre os funcionários.
Para
reverter esse cenário, algumas escolas norte-americanas têm investido em
alternativas como a formação de Comunidades de Aprendizado Profissional
(PLC, na sigla em inglês), grupos de professores formados com o
objetivo de incrementar a colaboração, a elaboração de planos de
trabalho integrados para o ano letivo e o compartilhamento de melhores
práticas em sala de aula. Outra solução consiste na contratação de
coachs especializados em gestão educacional para dividir com os
diretores a responsabilidade de formar o corpo docente.
"Em
Denver, por exemplo, encontramos o exemplo de uma escola que escolhe
professores dentro do seu corpo docente para se tornarem líderes na
formação de outros professores. Assim, há um líder de todas as turmas
de 4.ª e 5.ª série de uma escola, um das turmas de 3.ª e 2.ª,
sucessivamente. O modelo de liderança consiste em esses professores
darem as aulas normalmente por meio período e, no restante do tempo,
atuarem como mentores do restante do corpo docente correspondente aos
seus anos de especialidade", explica Ives.
Para o sócio,
trata-se de um modelo que poderia ser aplicável em instituições de
ensino brasileiras. "Essa mudança na estrutura educacional se
dá inicialmente de maneira local. Assim, no Brasil seria perfeitamente
possível um secretário de Educação se interessar por esse modelo e optar
por aplicá-lo em algumas escolas, por exemplo", analisa.
De
acordo com o estudo da Bain, o custo em escala para a implantação desse
tipo de projeto é bastante pequeno – no exemplo de Denver, citado
anteriormente, a única despesa consistiu na contratação de um
profissional para dar aulas em meio período no lugar de três professores
líderes. É um pequeno preço a pagar pela motivação e pelo engajamento
do corpo docente.
Fonte: ASCOM da Bain & Company, Inc, em 16/6/2016.
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