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WorldSkills, os jogos olímpicos do ensino técnico, os jovens "atletas"
são estrelas. Passam de dois a três anos treinando duro com supervisão
de um professor-treinador, respeitam concentração, encantam torcedores
que assistem às disputas de habilidades na montagem de máquinas
industriais ou na funilaria de automóveis ou na confeitaria de bolos e
doces. Alguns até recebem cachê de dezenas de milhares de dólares e
vantagens do governo, como a liberação do serviço militar.
Em Leipzig, onde o WorldSkills reuniu, entre 2 e 7 de julho, mais de mil
estudantes de cursos profissionalizantes de 52 diferentes países, os
asiáticos dominaram o quadro de medalhas. O Brasil, que sediará a
próxima edição do evento, em 2015, recebeu 12 medalhas (quatro de ouro,
cinco de prata e três de bronze) e terminou a competição em quinto lugar
na classificação geral, empatado com o Japão em número de medalhas. Em
2011, em Londres, a delegação brasileira ficou em segundo lugar com 11
medalhas, competindo com menos adversários. Em 2009, foram 10 medalhas.
A Coreia do Sul, com 23 medalhas, foi a campeã do evento, seguida por
Suiça (17 medalhas), China (18) e Japão (12). Coreia, China, Singapura,
Tailândia e Japão acumularam cerca de 70 medalhas mostrando a força do
continente asiático, enquanto mais que o dobro de países europeus
conquistaram 80 pódiuns. A América Latina fechou o evento com as 12
medalhas do Brasil e uma da Colômbia - com delegações reduzidas,
Argentina, Colômbia, Chile e Venezuela não levaram nenhuma medalha, e os
Estados Unidos, uma.
"Os asiáticos não esqueceram da educação profissional quando estavam
ainda começando a desenvolver suas economias nos anos 1980 e 1990, o
resultado de agora está mostrando isso. A Europa, exceto pela Alemanha,
Suiça e Áustria, voltou-se para um ensino mais acadêmico", avaliou Simon
Bartley, presidente da WorldSkills International, que também falou da
força do Brasil e da Índia. "O Brasil já se destaca nas competições e a
Índia está estruturando um programa nacional para a formação técnica de
50 milhões de jovens." O país foi representado por 41 jovens que
disputaram 37 das 46 modalidades da competição.
Antes do anúncio dos vencedores, ontem à noite na Alemanha, a delegação
brasileira já esperava desempenho muito competitivo dos asiáticos,
principalmente da Coreia do Sul. "O resultado demonstra a prioridade que
os governos desses países dão para o desenvolvimento do jovem cidadão e
para o planejamento e o crescimento econômico. Não é fácil competir com
eles", comentou Rafael Lucchesi, diretor do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (Senai).
Um membro da delegação do país asiático contou que cada um dos
medalhistas de ouro ganhará da Samsung US$ 50 mil, os de prata, US$ 30
mil, e os de bronze, US$ 10 mil, além de vantagens como liberação do
serviço militar e benefícios previdenciários. "É uma forma de
investimento no futuro, no nosso próprio desenvolvimento", disse Ji Oh
Song, executivo da Samsung, principal patrocinadora do WorldSkills em
Leipzig, com aplicação de € 2 milhões.
Para Massahico Kosugi, líder do time de 45 jovens japoneses na
competição, o desempenho do país se deve ao "sólido sistema
educacional-técnico do país", com escolas exigentes e que "cobram muito
dos alunos, principalmente em indústria e tecnologia".
Ao fim da cerimônia de encerramento, Henrique Baron, de 20 anos, que
estudou automação industrial no Senai do Rio Grande do Sul, parecia
desorientado, desacostumado com o assédio, normal a um atleta vencedor.
Com a medalha de ouro no peito, ganha na modalidade mecatrônica, ele
estranhava a fila de desconhecidos que vinha cumprimentá-lo em dezenas
de línguas. "É uma experiência única. Vemos muita gente boa do mundo
inteiro e aprendemos a trabalhar sobre pressão", diz o garoto com
espinhas no rosto.
Baron chegou ao ouro ao lado do parceiro Maurício Toigo. Os dois
treinaram por um ano como bolsistas do Senai. Em Leipzig a prova vencida
por eles exigia a montagem de uma complexa máquina industrial de
precisão. "Eles nos dão um monte de peças e um manual. Nosso objetivo é
montar e programar o equipamento para funcionar. Ganha quem fizer em
menor tempo e apresentar a melhor operação", conta.
A mineira Nagella Araújo, de 21 anos, não tinha muitas expectativas.
Estudante de tecnologia da moda, foi desclassificada da olimpíada
nacional, caminho para chegar ao WorldSkills, mas foi incluída na
delegação brasileira de última hora para uma nova modalidade da
competição: montagem de vitrines. Teve apenas um mês para treinar. Na
competição, elaborou duas exposições em alusão a "férias tropicais" e
"jantar eclético". "Eles apresentam o tema no primeiro dia e até o
quarto dia temos que planejar, desenhar, escolher os materias para
montar a vitrine e defender a nossa ideia para os experts [jurados]",
relata Nagella, que abusou de cores fortes e usou um sorvete de ponta
cabeça derretendo feito de plástico para convencer os experts de que sua
vitrine valia medalha. Levou o bronze.
No final da premiação, a bandeira do WorldSkills foi passada à delegação
brasileira. A próxima edição do evento está prevista para acontecer de
11 a 16 de agosto de 2015, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São
Paulo. A competição deverá custar R$ 150 milhões e será organizada pelo
Senai.
Fonte: JC e-mail 4764, de 09 de Julho de 2013.
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