Desde o final
dos anos 80 do século passado, espelhado no modelo implantado nas
universidades federais, as entidades de funcionários, alunos e até de
docentes vêm tentando implantar na USP a indicação
do reitor e diretores de unidades por meio de eleições diretas.
Rebelam-se até contra a lista tríplice encaminhada ao governador para a escolha do reitor.
Manifestei-me,
à época, em dois artigos. Num deles, "Hierarquia, direção e liderança",
defendi a posição da congregação da Faculdade de Medicina da USP, que
se colocava frontalmente contra a proposta
da chamada eleição direta. O outro intitulava-se "Novo reitor para a
USP".
Relendo-os,
verifiquei que os argumentos então utilizados não foram invalidados,
passados 25 anos. Permito-me citar alguns trechos.
"O cargo de
reitor, como, de resto, os cargos administrativos, em uma universidade,
não deve ser encarado como uma conquista, mas como um ônus que alguém
aceita quando uma parcela considerável de colegas,
que há anos acompanha sua carreira, dispõe-se a apoiá-lo não como um
partido, mas como parte de um todo, propondo-se a trabalhar para somar e
não para discriminar."
"Os destinos
de uma universidade não podem ser decididos por quem não viveu o passado
e não tem maior compromisso com o futuro, como é o caso dos alunos, nem
por aqueles que, exercendo atividade meio,
executam tarefas de apoio, como os funcionários."
"Não se pode
pretender, igualmente, que o governador eleito, legitimamente e em
pleito direto pela população, responsável pelas ações executivas e pela
aplicação dos recursos obtidos desta mesma população
de onde saem 97,5% dos recursos da USP, não possa indicar, entre três
nomes selecionados pela própria universidade, aquele que deva gerir
estes recursos."
"Existe um
conflito de liderança. De um lado, o que se pode chamar de liderança
reivindicatória, do tipo sindical, que é fundamental para um país livre.
(...) O outro, o acadêmico, vai se estruturando
ao longo do tempo em uma carreira, que progressivamente capacita os
seus membros, que ou saem para atividades fora da universidade, em
momentos diferentes de sua preparação, ou permanecem e vão subindo na
hierarquia, por concurso de provas e títulos que culminam
com o professor titular."
"Liderança
acadêmica não deve aliciar, não deve agradar, não deve organizar
partidários nem assumir atitudes demagógicas na captação de apoio."
"Nada pior do que discutir com quem já tem posição definida
e definitiva e busque não a verdade, mas conquistar aliados ou
identificar adversários."
"Abrir mão da
liderança acadêmica e admitir que a liderança reivindicatória assuma,
progressivamente, a direção da universidade é alguma coisa com a qual os
professores da Faculdade de Medicina não podem
ser acusados de conivência."
"Talvez esteja
faltando neste país uma liderança que realmente lidere, e não uma
liderança que, acomodada, busca contemporizar com aquelas que, tendo
objetivos definidos, atuam com agressividade, contando
com a omissão dos que a eles se deveriam antepor."
Nada mais atual.
* Articulando esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do coletivo de educadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário