Assumir posição político-partidária contraria um princípio básico da
deontologia jornalística, a imparcialidade, a qual mostra-se, empiríca e
efetivamente, apenas um mito, como se percebeu na atuação dos meios de
comunicação nestas eleições presidenciais. Para os mais atentos, é
nítido como a cobertura política feita por quase toda a chamada grande
imprensa durante os governos do Partido dos Trabalhadores e, sobretudo,
no pleito deste ano, tem sido contaminada por interesses do oligopólio
que controla a comunicação em massa brasileira.
Nenhuma surpresa para quem conhece a chamada mídia por dentro. Sim,
porque, uma nação mais de 200 milhões de habitantes é informada (e
deformada) há décadas por veículos pertencentes a apenas cinco ou seis
famílias, dependendo do momento histórico, as quais, tentam "decidir
pelo povo" os rumos da sociedade, ocultando ou minimizando todos os
escândalos que impliquem integrantes do Partido da Social Democracia
Brasileira, assim como agem com as conquistas alcançadas pelo governo do
PT, usando técnicas jornalísticas de diagramação e/ou edição
eletrônica. Ou, ainda, hiperdimensionando possíveis casos de delitos
cometidos por petistas ou seus aliados e afirmando que a
responsabilidade do que possa haver de errado seria diretamente do
ocupante da cadeira da Presidência da República, quando petista,
obviamente.
Tal procedimento é sintomático, já que quando esses órgãos de imprensa
divulgam informações negativas à imagem dos tucanos, são suaves,
concisos e nada assertivos, dando muito menos destaque ao fato e tendo
todo o cuidado para não prejudicar o PSDB e seus parceiros (incluindo-se
o DEM, o antigo PFL, antes PDS, e originalmente Arena, o partido da
ditadura, ou seja, um verdadeiro oximoro em termos de nomenclatura, pois
o a sigla, que sempre apóia os tucanos, foi o partido que sustentou o
regime autoritário e agora se autointitula "democratas"), haja vista o
noticiário sobre a crise hídrica no estado de São Paulo, manuseado
sempre visando a proteger o governo paulista.
Porém, quando a denúncia – ainda que não comprovada e independentemente
da credibilidade da fonte - envolve políticos ligados ao PT, alguns
veículos o fazem até mesmo de forma raivosa e com ares de tentativa de
golpe. Neste caso, o nome mais citado (apenas um entre muitos veículos
da mídia nativa que atuam do mesmo modo, embora com menos
agressividade), é, lamentavelmente, o mais tradicional semanário
brasileiro, que, por sua prática manipuladora e antiética permanente,
vem exercendo per se oposição raivosa e atacando sempre tudo que é
intrínseco ao PT e às lutas dos partidos de esquerda, tendo se tornado
um panfleto publicista a favor do tucanato. Porém, a revista é somente
um exemplo entre os veículos de mídia que abandonaram de vez os cânones
do jornalismo baseado na veracidade dos fatos e compromissado com a
cidadania e o desenvolvimento da sociedade. Embora tente esconder e/ou
reduzir o impacto das realizações positivas do atual governo, a mídia
oposicionista, pasmantemente, continua a apresentar-se como “isenta” e
apartidária.
Quem avalia com criticidade constata que os resultados sociais - os mais
importantes, evidentemente - e também os econômicos obtidos pelas
gestões petistas são irrefutáveis e superiores a todos os anteriores. É
de conhecimento de todos que a miséria está erradicada do País e que
dezenas de milhões de pessoas saíram da pobreza, ascendendo à classe
média e tornando-se reais consumidores. Afora os 21 milhões de empregos
criados nos últimos doze anos, sete milhões durante o governo Dilma,
façanha sem igual no mundo que ainda enfrenta os efeitos de sucessivas
crises econômico-financeiras desde 2008. No entanto, são “só” fatos que
não “convencem” os conglomerados midiáticos de oposição.
Outro motivo causador de indignação são as numerosas inverdades e
impropérios relativos à presidenta Dilma Rousseff, ao ex-presidente Lula
e ao Partido dos Trabalhadores, reproduzindo a prática de transformação
de informações acerca de realizações extremamente positivas para todo o
povo brasileiro em notícias distorcidas, e também hiperdivulgando, com a
pior conotação negativa, é claro, possíveis erros ou irregularidades
cometidos por algum integrante ou simpatizante dos governos petistas.
Tal tentativa se inspira nas técnicas de censura e manipulação
perpetradas pelos piores regimes ditatoriais, contrariando a correta
conduta deontológica, que deveria reger a cobertura política pela mídia,
a qual, por óbvio, influencia milhões de pessoas que desconhecem os
mecanismos de edição utilizados em cada veículo para manusear o
noticiário conforme seus próprios objetivos, assim como a existência da
autocensura e da pressão a que muitos jornalistas são submetidos no
tratamento final da informação.
Apesar disso, com um laivo de justiça, é inegável reconhecer que, nos
dias hodiernos, a quase totalidade da população brasileira vive muito
mais feliz do há doze, quinze ou vinte anos. O Brasil é muito mais
respeitado como ator realmente relevante em todos os organismos
internacionais, independentemente de seu cunho. Com competência, os
governos liderados por Lula e Dilma venceram as maiores crises da
economia em mais de oitenta anos; apesar de "analistas" e
"comentaristas" pseudoautônomos - em verdade representantes fiéis,
regiamente remunerados, dos patrões que controlam os veículos em que
atuam - jamais o terem admitido, tentando "explicar" o sucesso do PT no
comando do País de maneira sofística, às vezes até com desvio de
caráter, e constantemente, atribuindo-o a uma suposta sorte ou a fatores
independentes das políticas dos governos petistas.
Para superar o bloqueio de divulgação de fatos altamente positivos para a
sociedade brasileira, como a retirada do Brasil do Mapa da Fome da
Organização das Nações Unidas, pela primeira vez em toda a história do
País, incluindo-nos em um seleto grupo de 37 nações em que ninguém morre
de fome, boicotada pela chamada “grande mídia”, a qual, por esse tipo
de prática, frequentemente, é denominada de Partido da Imprensa Golpista
(o já famoso PIG), recomenda-se diversificar as fontes de informação
para fugir dessas distorções informativas. A atitude é imprescindível
aos leitores, telespectadores e ouvintes que, com efeito, tencionem
informar-se e formar opinião abalizada superando o tratamento publicista
(ou seja, o velho uso dos meios de comunicação de massa como
instrumentos de divulgação de posições político-ideológicos, no estilo
do que faziam Carlos Lacerda, na Tribuna da Imprensa, e Samuel Wainer,
na Última Hora, em relação ao governo constitucional de Vargas, na
década de 50) da maior parte da mídia nacional.
A quem ainda se restringe a determinados veículos de mídia, sugere-se
diversificar suas fontes de informação e, talvez, pensar melhor,
vencendo preconceitos e até mesmo superando posições antidemocráticas e
egoístas que impedem a aceitação do sucesso de governos trabalhistas que
conseguiram melhorar a vida da maioria dos brasileiros, priorizando -
como estabelecem os preceitos éticos, assim como os fundamentos de todas
as religiões - os mais necessitados. E, mesmo assim, para as classes
média e alta também houve melhoras muito significativas, haja vista o
apoio expressivo que Lula e Dilma têm também entre os de mais posses.
Entre os profissionais do jornalismo, é mister que se reflita sobre o
desserviço que a maioria dos veículos de comunicação vem desenvolvendo
nos últimos doze anos, mormente às vésperas de eleição, como ocorreu nas
duas últimas semanas que antecederam à disputa nas urnas após o tucano
perder a dianteira nas pesquisas de intenção de voto para a candidata à
reeleição. Este comportamento remonta àquela "definição" de regime
político imposta tacitamente pela caserna após o golpe de 64:
"Democracia (só vale assim) é igual a nós no poder; ditadura, os
outros”.
Luciano Zarur – jornalista, professor universitário, mestre em filosofia e diretor do Sinpro-Rio.
Publicado no Observatório da Imprensa, em 28/10/1014, edição 822.
* Articulando esclarece que o conteúdo e
opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do
autor e não refletem necessariamente a opinião do coletivo de
educadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário