No ano do bicentenário do dramaturgo e percursor da comédia no teatro
brasileiro, Martins Pena, a escola que leva o seu nome, no Rio de
Janeiro, gratuita e uma das mais antigas da América Latina, enfrenta uma
crise. No local onde se formaram Denise Fraga, Joana Fomm e, mais
recentemente, o dramaturgo-revelação Jô Bilac, faltam professores,
funcionários e as instalações estão com problemas de infraestrutura, que
ameaçam quem circula pelo local.
Nem as atividades de comemoração dos 100 anos entusiasmaram turmas que
voltaram às aulas na última semana. Sem professores, muitos correm o
risco de se juntar àqueles que deveriam ter se formado em julho, mas não
puderam por falta de professores. “Eu sou uma delas”, disse Rebecca
Leão, ex-integrante do Grêmio Estudantil, que não conseguiu cursar aulas
de voz.
Segundo a estudante, todos os contratos com os professores dessa cadeira
venceram e não foram renovados. Sem o diploma, ela diz que não é
possível obter a licença para trabalhar. “Quem se forma na escola,
obviamente consegue o registro. Que não tem diploma, precisa provar que
tem larga experiência profissional e pagar uma taxa de R$ 300”,
informou.
Técnico de iluminação da Martins Pena, Leopoldo Barbato diz que além da
falta de professores para dar aulas de Iluminação e figurino, trabalhar
na Martins Pena é correr risco de morte. “A parte estrutural do prédio
está bem degradada, principalmente o casarão”, disse. “São paredes
rachadas, janela caindo, madeira [de pilastras e móveis] com cupim, a
parte elétrica com problema, enfim, há risco de acidentes que podem ser
até fatais”, acrescentou.
Para chamar a atenção, em maio a comunidade escolar fez uma série de
manifestações. Na ocasião, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio
anunciou a criação de um grupo de trabalho, incluindo as secretarias
estaduais de Educação e Cultura. No entanto, quase três meses depois, a
própria escola não indicou representantes para o grupo, que não começou a
trabalhar.
“A escola precisa participar para a gente saber o que precisa fazer e,
depois, poder cobrar o que foi pactuado”, diz o deputado Zaqueu Teixeira
(PT), presidente da Comissão de Cultura.
Vinculada à a Fundação de Apoio à Escola Técnica e à Secretaria de
Estado de Ciência e Tecnologia, a Escola Martins Pena passou agora por
uma troca de diretores. Saiu Roberto Lima, que fica como professor,
substituído na direção por Marcelo Reis. A Agência Brasil solicitou uma
entrevista com o gestor, mas após de três dias ainda não foi atendida.
Quem acompanha a cena teatral no país lamenta a situação. O premiado
dramaturgo Jô Bilac -- laureado com um Prêmio Shell, um dos mais
importante do país – ex-aluno da Martins Pena, disse que a escola foi um
divisor de águas em sua carreira. “Tinha o desejo muito grande pela
escrita, descobri o teatro, mas não sabia onde poderia aprender
dramaturgia”, afirmou ele, que pode desenvolver suas habilidades na
escola de teatro, sob várias perspectivas.
“A Martins pena é fundamental, além de ser de graça, ela fomenta a arte
com os alunos, forma o artivista (artista + ativista), que tem a chance
de conviver com grandes profissionais da cena e promotores do teatro
pelo Brasil, como professores. Não adianta ter só uma cidade cheia de
salas de teatro e não investir em quem vai ocupar esses espaços”,
acrescentou Bilac.
Fonte: Agência Brasil, em 11/8/2015.
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