O hábito dos pais de ler para as crianças em casa pode trazer mais
benefícios do que se imagina. Um estudo da Universidade de Nova York, em
colaboração com o IDados e o Instituto Alfa e Beto, divulgado no dia 6/7,
mostra um aumento de 14% no vocabulário e de 27% na memória de trabalho
de crianças cujos pais leem para elas pelo menos dois livros por
semana.
O estudo concluiu ainda que a leitura frequente dos pais
para as crianças leva à maior estimulação fonológica, o que é
importante para a alfabetização, à maior estimulação cognitiva em casa e
a um aumento de 25% de crianças sem problemas de comportamento.
"Esses dados são bastante impressionantes. Estamos comparando dois
grupos que estão dentro do sistema de creches, dentro de um sistema com
professores treinados para ler para as crianças. Acrescentamos a leitura
dos pais e, quando isso é feito, da forma como foi feito, tem grande
impacto", diz o presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista
Oliveira.
Ele explica que o momento de leitura é também um
momento importante de interação entre pais e filhos. "Esse é o ponto
central, levar os pais a conversar com os filhos. Eles podem também
levar as histórias para o real, quando estiverem na rua, podem mostrar
para os filhos algo que apareceu na história. Essa forte interação tem
impacto em outras dimensões cognitivas".
A pesquisa foi feita em
Boa Vista (RR), onde a prefeitura desenvolve um programa chamado
Família que Acolhe, voltado para a primeira infância, que acompanha as
crianças desde a gravidez até os 6 anos de idade. O acompanhamento
inclui atendimento integrado nas áreas de saúde, assistência social e
educação para as famílias, com prioridade para as famílias de baixa
renda, que constituem dois terços da população do município.
Para participar do estudo conduzido pelo professor associado de
pediatria e saúde populacional da Faculdade de Medicina da Universidade
de Nova York, Alan Mendelsohn, e pela cientista da mesma instituição
Adriana Weisleder, foram selecionadas 1.250 mães com 1.250 crianças de 1
a 4 anos, todas beneficiárias do Bolsa Família.
Parte das
crianças recebe apenas o atendimento em creche, o que inclui leitura
interativa diária pelos educadores. Outra parte, além da creche, leva
para casa dois livros por semana para serem lidos pelos pais. Esses pais
participam também de sessões de capacitação a cada três semanas, onde
recebem orientações e participam de exercícios e análises de vídeo sobre
como conversar e interagir com as crianças no momento da leitura e em
situações do cotidiano. Foi analisado ainda um terceiro grupo que não
tinha acesso a nenhuma das atividades.
Ao final do estudo, além
dos benefícios constatados nas habilidades das crianças, houve também
aumento de 50% no número de famílias que passaram a ler com os filhos
pelo menos três dias na semana e um aumento de 50% na leitura
interativa.
O programa é implementado em Boa Vista há quatro
anos e inclui a capacitação dos pais para a leitura desde o berço,
segundo a prefeita da cidade, Teresa Surita. Ela conta que implementou o
programa após temporada em Harvard, nos Estados Unidos, onde fez um
curso voltado à primeira infância. "É impressionante como os estudos de
neurociência apontam a importância dessa etapa. Investir na primeira
infância é pensar também economicamente no desenvolvimento do país".
Fonte: Agência Brasil, em 6/7/2016.
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