Um ano após ouvir de uma pedagoga que seu filho de criação "não tinha
jeito" e "ia virar traficante", a vendedora de 62 anos diz se sentir
aliviada com os rumos do garoto.
O adolescente de 15 anos era
conhecido por faltar nas aulas e por arranjar brigas. Mudou seu
comportamento após uma professora começar a visitar a casa da família e a
ouvir suas queixas.
A prática se tornou comum nas escolas
municipais de Contagem, na Grande Belo Horizonte, após a implantação de
um programa que tenta diminuir a evasão escolar e melhorar a atitude dos
alunos dentro da sala de aula.
A ideia foi levada adiante há
aproximadamente um ano e, depois de uma apresentação do programa no
México, Contagem foi aceita na rede "Cidades Aprendizagem", da Unesco
(braço da ONU), que incentiva a adoção de políticas públicas para
educação.
Alguns professores ganham cargo de "articulador comunitário" e se
aproximam das famílias de estudantes com algum problema para
diagnosticar a situação.
Os dados são enviados para um comitê
municipal e, se necessário, é providenciada assistência psicológica,
médica e social aos alunos.
O programa, de acordo com o relatório
de instituto que preta consultoria ao município, provocou uma "redução
drástica de faltas na escola (84%)" e "melhoria do comportamento".
No caso do adolescente de 15 anos que chegou a ser tratado como um
estudante que "não tinha jeito", a articuladora Glauce Leonel, 38,
descobriu que ele havia sido abandonado pela mãe e, por isso, se sente
rejeitado.
Segundo ela e a mãe de criação, a aproximação da escola e a maior atenção dada ao aluno já surtiram efeito.
"Não
é que tenha havido uma mudança mágica no comportamento, mas ele tem se
adequado depois que a escola se aproximou. Passou a assistir às aulas e
parou de enfrentar os outros", afirma Leonel, que antes de ser
articuladora lecionava educação física. Atualmente, ela visita outros 18
estudantes.
Apesar de a iniciativa ser bem vista, a ajuda
requerida pelos educadores nem sempre vem com rapidez. O próprio menino
de 15 anos atendido por Leonel e que mudou seu comportamento, por
exemplo, ainda não conseguiu a assistência de um psicólogo, embora a
articuladora ache que seja necessário.
Crianças com problemas de saúde também são monitoradas pelos
articuladores. Lázaro Fernandes, 8, tem uma doença não diagnosticada que
fragiliza os ossos, dificulta a fala e a respiração.
"A primeira
visita que recebi da Raquel [de Souza, a articuladora] foi quando meu
filho se quebrou todo após uma queda", diz a dona de casa Elizabete
Fernandes, 38, mãe do menino. Foram obtidos remédios e equipamentos.
Ele também passou a ser assistido por uma psicóloga e se tornou mais sociável. "É outra criança", diz a mãe.
"Nosso
objetivo é fechar um cerco de proteção para o que está acontecendo com o
aluno", explica Tereza Cristina de Oliveira, uma das responsáveis pelo
programa.
Segundo ela, a prioridade são estudantes com suspeita
de uso de drogas, de abuso ou que têm pouca frequência em sala de aula.
Aproximadamente 50 escolas fazem parte do programa.
Fonte: Folha/UOL/Educação, em 7/9/2016.
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