terça-feira, 4 de setembro de 2018

MUSEU NACIONAL: o fogo e a sua propagação


1. O atual ministro da cultura disse que é preciso apurar as causas do incêndio para apurar responsabilidades. Ele é um cínico...

2. Cínico porque, maliciosamente, finge desconhecer que a causa do início do incêndio e as causas da sua rápida propagação são coisas diferentes.

3. As causas do início do incêndio podem ser as mais diversas – todo museu do mundo está sujeito a isto –, mas as causas da sua rápida propagação – que foi o que destruiu o acervo do Museu Nacional – todos nós sabemos quais são.

4. O fogo só se propagou da forma como se propagou porque o Museu estava abandonado pelo poder público havia anos, talvez décadas.

5. Se o fogo se iniciou na queda de um balão ou num curto-circuito é o que menos importa... O que possibilitou uma propagação tão rápida e devastadora, isto sim, é o centro da questão.

6.. O descaso com o patrimônio público vem de longe – basta ver a privataria nos governos tucanos – mas com a PEC do teto dos gastos púbicos ele ganhou estatuto de política de estado.


Luiz Carlos de Oliveira Silva

Nota de pesar – Museu Nacional do Rio de Janeiro

A Associação Nacional de Pós-graduandos vem a público manifestar seu profundo pesar pelo incêndio criminoso ocorrido neste dia 2 de setembro no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O Museu Nacional é a instituição científica mais antiga do país, foi criada por D. João VI, em 6 de junho de 1818. Com 200 anos de História e uma importância histórica, científica, cultural e afetiva inestimáveis para o país, o Museu possuía um acervo da ordem de 20 milhões de peças, incluindo o maior acervo de história natural e arqueologia da América Latina. Ainda abrigava nove cursos de pós-graduação, alguns entre os mais bem avaliados do país com vinculação a centenas de pesquisas documentadas e em andamento.


O incêndio não foi um acidente ou uma fatalidade. Foi um crime. Representa toda a negligência e irresponsabilidade do poder público com as instituições públicas e o patrimônio histórico-cientifico-cultural do Brasil. Está diretamente ligado ao abandono das universidades públicas e ao total descaso do governo federal atual com a Ciência e Tecnologia. Uma tragédia que já se anunciava pelos crescentes cortes e contingenciamentos de recursos necessários à sua manutenção.


Não é de hoje que a ANPG vem denunciando os sucessivos cortes aplicados às universidades públicas brasileiras e à ciência. Estes, por sua vez, têm reverberado em consequências reais, comprometendo funções básicas à manutenção dessas Instituições e dos equipamentos científicos vinculados, conduzindo a uma situação de extrema vulnerabilidade. Falta dinheiro para o trivial: água, luz, limpeza e pequenas reformas.


As políticas de austeridade implementadas pelo governo Temer têm conduzido a uma destruição concreta da Universidade Pública no país e da Ciência brasileira. A Emenda Constitucional 95 materializa-se nesse incêndio como a consolidação cruel e nefasta da asfixia das instituições públicas no Brasil pós-golpe.


Junto com as chamas no Museu concretamente se vão anos e anos da História de um Brasil e acervo científico que construímos coletivamente e que virou cinzas graças ao descaso e abandono do poder público. Com elas, também se restringem as possibilidades para o futuro.


Que a nossa dor no dia de hoje torne-se símbolo de luta em defesa do Brasil, da ciência e das nossas universidades públicas. E que saibamos reconstruir nossos caminhos.


Iremos às ruas manifestar nosso luto, indignação, a defesa do Brasil, da ciência e das nossas universidades públicas. Manifestaremos em defesa do Museu Nacional, dos museus brasileiros, pela Universidade Pública e pela revogação da EC 95.


Associação Nacional dos Pós-Graduandos, 03 de setembro de 2018.

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